Deslizamento de terra em Angra dos Reis provoca morte de uma criança e deixa ao menos dez pessoas feridasReprodução da internet

Rio - Os temporais que atingiram o estado do Rio de Janeiro entre a sexta-feira (1°) e o sábado (2), provocaram estragos e a morte de ao menos 16 pessoas em cidades da Costa Verde e da Baixada Fluminense. Neste domingo (3), a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e os efetivos municipais dão continuidade ao trabalho de buscas pelas vítimas de deslizamentos de terra que ainda estão desaparecidas nos locais mais atingidos. 
Em Angra dos Reis, entre o dia de ontem e às 9h deste domingo, agentes da Defesa Civil localizaram oito corpos, sendo de quatro crianças e quatro adultos. As vítimas morreram após pelo menos seis casas serem atingidas por um deslizamento de terrana Rua Professor Francisco Cezário Alvim, no bairro Monsuaba, na madrugada de sábado.
As equipes seguem à procura de outros três desaparecidos, segundo relatos de familiares. No desabamento, cinco pessoas foram resgatadas com vida. Na madrugada de hoje, um novo deslizamento na mesma rua foi registrado pela Defesa Civil, mas não houve vítimas. O município foi o mais afetado pelas fortes chuvas e está em situação de emergência. Nas últimas 48 horas, foi registrado volume histórico, com 809 milímetros em Araçatiba, na Ilha Grande, e 694 no bairro da Monsuaba, no continente.
Na Ilha Grande, as comunidades mais afetadas foram as de Araçatiba, Vermelha, Provetá, Abraão e Aventureiro. Em todas elas foram registrados deslizamentos de terra e de blocos de pedra. A Praia de Itaguaçu, ao lado da praia Vermelha, foi praticamente soterrada. De acordo com relatos de moradores da região, há quatro pessoas desaparecidas. 
Atualmente, há 250 pessoas nos pontos de apoio abertos pelo município, sendo assistidos  por profissionais das Assistência Social, Educação e Saúde. Tanto no continente quanto na Ilha Grande, os moradores continuam sendo informados sobre os riscos de deslizamentos por meio do sistema de sirenes e SMS, acionado a partir do monitoramento constante feito pela Defesa Civil no Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais de Angra dos Reis (Cemanden - AR). 
Por conta dos deslizamentos de encostas, estão inoperantes as linhaz 101 (Cantagalo); 102 (Caputera); 104 (Monsuaba); 106 (Jacuecanga); 300 (Japuíba x Ponta Leste); 306 (Belém X Jacuecanga); T10 (Div. Mangaratiba); e T11 (Ponta Leste). De forma parcial, estão funcionando C04 (Vila Velha - indo até o Bonfim); C05 (Retiro - indo até o campo de futebol do Encruzo); e 203 (Serra D'Água - indo até a escola). As demais linhas estão operando, mas com horário reduzido.

Também devido à deslizamentos, a BR-101, a RJ-155 e a Estrada do Contorno estão obstruídas. A força-tarefa da prefeitura continua nas ruas para prestar apoio à população e liberar as vias. Uma grande quantidade de maquinário está sendo utilizada nas ações, entre retroescavadeiras, caminhões e embarcações. Neste domingo, o governador Cláudio Castro segue para o bairro Monsuaba, para percorrer as áreas atingidas pelo temporal, acompanhado de equipes da secretaria de Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros.
Na noite deste sábado, a Prefeitura de Paraty decretou de calamidade pública em razão do agravamento dos danos provocados pelas chuvas. Na comunidade de Ponta Negra, sete pessoas da mesma família morreram soterradas, após a casa onde estavam ser atingida por um deslizamento de terra. O corpo da mãe, Lucimar, foi resgatado por moradores e dos filhos Lucimara de Jesus Campos, 17 anos, e Luciano de Jesus Campos, 15, foram localizados entre os escombros.
Neste domingo, as equipes de resgate e apoio retomaram logo pela manhã as buscas dos corpos dos outros quatro filhos: Jasmin, de 10 anos; Yasmin, 8; Estevão, 5; e João, de 2 anos. Um sétimo filho, Dorqueu, de 9 anos, foi resgatado com vida e o estado de saúde da vítima é estável. Até o momento, 219 famílias de Paraty foram atingidas por alagamentos ou sofreram perdas materiais, em 22 bairros. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, há 15 delas desalojadas e abrigadas em escolas municipais. 
Segundo a prefeitura, após vistoria na rodovia Paraty-Cunha, o Departamento de Trânsito da Secretaria Municipal de Segurança e Ordem Pública decidiu pela interdição da estrada em razão de pelo menos quatro pontos com quedas de barreira e erosão na pista. Na Ponte Branca, onde houve uma queda de barreira na noite de ontem, o trânsito foi normalizado. O acesso à estação de tratamento de água da Pedra Branca também segue comprometido, pondendo prejudicar o abastecimento na região urbana da cidade. A prefeitura pediu esforço de toda a população na economia de água.
A Secretaria de Obras e Transportes pede muita atenção e cuidados redobrados dos motoristas que trafegam por estradas municipais, como a estrada do Morro do Jacu, onde há queda de barreiras.
Na região norte do município, ainda há comunidades sem abastecimento de água e energia, como Taquari, Sertão do Taquari, Barra Grande, Chapéu do Sol, São Roque e Serraria. Equipes do Departamento de Água e Esgoto e da Enel estão nestes locais. Na Prainha, cinco famílias foram atingidas com perdas materiais. Há ruas danificadas, várias casas inundadas, terrenos alagados. O abastecimento de água também foi prejudicado.
Umas das mortes em decorrência do temporal aconteceu Mesquita, na sexta-feira. O advogado Daniel Ribeiro Pessoa, de 38 anos, morreu ao sofrer uma descarga elétrica no Centro da cidade, ao encostar em um poste de iluminação, quando tentou socorrer uma pessoa que havia ficado presa na enchente. Um motociclista tentou, sem sucesso, reanimar a vítima. Os médicos foram chamados ao local, mas o homem já estava sem vida. Daniel era casado e pai de dois filhos, um menino de 7 anos e um bebê de sete meses. Seu corpo foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) de Nova Iguaçu e ainda não há informações sobre o sepultamento.
Daniel Ribeiro morreu durante o temporal em Mesquita - Reprodução
Daniel Ribeiro morreu durante o temporal em MesquitaReprodução
As fortes chuvas causaram alagamentos em grande parte da cidade. A Defesa Civil registrou oito chamados até o momento, sendo um deles por desbarrancamento, no bairro Juscelino, mas sem vítimas. Também houve transbordamento do Rio Dona Eugênia, na Coreia, e do Rio da Prata, na Jacutinga. Segundo a prefeitura, os trabalhos começaram assim que o temporal teve início, com monitoramento dos rios que cortam a cidade, orientação e, já na madrugada, com vistorias em residências e desobstrução e limpeza das vias afetadas. Até às 3h deste sábado, foram registrados 266 milímetros de chuva na cidade. Os seis Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) de Mesquita estão abertos. 
Apesar de não ter registrado mortes, a Prefeitura de Nova Iguaçu decretou, na noite deste sábado (2), situação de emergência, por conta dos problemas provocados pelas fortes chuvas que atingem a cidade desde a noite de sexta-feira (1º). O município registrou um acumulado de 166 milímetros em 4 horas e cerca de 222 milímetros em 24 horas. 
O temporal causou, segundo a prefeitura, sérios danos a imóveis públicos e privados por conta dos alagamentos, inundacoes, enxurradas e deslizamentos, afetando cerca de 800 mil pessoas. No Hospital Estadual Doutor Ricardo Cruz (HERCruz), o Hospital Modular de Nova Iguaçu, a água entrou nos corredores da unidade, que fica abaixo do nível da rua. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), não houve danos aos pacientes, nem a equipamentos. 
Também neste sábado, o governador do Rio, Cláudio Castro, estabeleceu um Grupo de Ações Coordenadas (GRAC), um gabinete de crise, com a participação das secretarias, para acompanhar a situação das fortes chuvas, em visita à Baixada Fluminense. De acordo com a Defesa Civil do Estado, nas primeiras horas de sábado, um gabinete de crise foi ativado no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Centro do Rio, para gerenciar toda a estrutura de operação de resgate e socorro do Corpo de Bombeiros. 
Até o momento, os bombeiros já atenderam mais de 850 chamados relacionados a inundações, alagamentos, deslizamentos, desabamentos, salvamentos de pessoas e cortes de árvores, desde sexta-feira. Nas últimas 24 horas, foram 690 ocorrências. Mais de 150 pessoas foram resgatadas com vida em todo o território fluminense.

Equipes especializadas do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) e do 2° Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente (2 GSFMA), com auxílio de cães farejadores, foram atuam, desde as primeiras horas de ontem, para apoiar as buscas por vítimas de deslizamentos registrados na Costa Verde. Na Baixada Fluminense , não há registro de deslizamentos, desabamentos ou pessoas desaparecidas.
Com base no Plano de Contingência para as Chuvas de Verão 2022, a Defesa Civil reuniu, no Centro Estadual de Administração de Desastres (Cestad), na Praça da Bandeira, o Gabinete Integrado de Gestão de Desastres, que reúne representantes das secretarias e órgãos estaduais, concessionárias de serviços públicos e voluntários da Rede Salvar. Os trabalhos têm como objetivo planejar e alinhar as ações com objetivo de retomar a normalidade nas áreas afetadas.