Homem aponta dedo para rosto das vítimas enquanto grita ofensas e ameaçasReprodução/TV Globo

Rio - A Polícia Civil busca um homem acusado ter cometido ataques racistas contra uma professora e seu sobrinho em um shopping na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. As filmagens mostram o momento em que o homem insulta a mulher, identificada como Mônica Rosa, e o jovem, que não teve a identidade revelada, dentro de uma cafeteria.
O caso ocorreu há um ano e meio e o voltou a ter repercussão após a divulgação das imagens das câmeras de segurança, mostradas pelo "Fantástico", da TV Globo. A agressão, sem qualquer motivo aparente, leva o agressor a tirar a camisa dentro do estabelecimento e seguir ameaçando as vítimas, que são negras.

O crime aconteceu dentro da Starbucks do BarraShopping, no dia 25 de outubro de 2020 e o que era para ser um passeio entre tia e sobrinho, virou um pesadelo para os dois. Mônica revelou que sente medo do homem até hoje. Segundo ela, ele levantou, foi até eles, apontou o dedo para o rosto de seu sobrinho e perguntou: "Por que você sorriu? Você passou por mim e ficou rindo da minha cara, eu quero saber por quê".

"Meu sobrinho falou assim: 'Moço, eu não te conheço, eu estava de máscara'. 'Você não sai daqui hoje, se eu não furar você. Hoje eu te furo todo aqui'. Aí eu começo a ficar nervosa: 'Moço, pelo amor de Deus, o que você está falando?'. Me chama de vagabunda e diz que vai quebrar a minha cara. 'Você é uma preta imunda, sua vagabunda, sai daqui'. Aí quando ele fala isso eu saio da loja e começo a gritar", contou a mulher.

Minutos depois do início da discussão, a professora vai para fora da loja e continua a ouvir ofensas racistas do homem contra o jovem. De acordo com Mônica, ele dizia que "era de um condomínio de luxo da Barra. Ele dizia que aquilo que ele estava fazendo era para a gente aprender. Para não voltar mais àquele espaço. Que aquele espaço não era nosso". Ela ainda relembra que uma senhora, também branca, a perguntou o que ela havia feito contra o homem para ele estar tão irritado.


Uma pessoa, que preferiu não se identificar, que estava na cafeteria no momento do ocorrido, contou que ouviu uma barulheira e todos ficaram assustados porque "era um homem grande, um homem alto gritando descontroladamente". Apesar de não se lembrar do teor das falas do agressor, lembra que Mônica e o sobrinho ficaram acuados "num cantinho".

Os vídeos foram enviados pelo shopping e pela Starbucks para a polícia em meados do ano passado. Em um deles, o agressor aparece na porta da loja e, entre seguranças do estabelecimento, fica gesticulado. Logo depois, para ao lado de um deles. Após isso, ele adentra novamente a cafeteria, tira a blusa e chama a professora e o jovem para brigar, aos gritos de 'traz eles pra cá'.

Segundo Mônica, nesse momento, nenhum dos presentes tentou retirar o homem do local ou defender as vítimas, ficaram somente olhando enquanto ele fazia ameaças. "Eu me senti violentada de todas as formas. Todo mundo olhava, todo mundo viu", lembrou ela.

As imagens mostram que, em um determinado momento, algumas pessoas passam a tentar mediar a situação, mas pedindo para que os agredidos não façam nada e não provoquem o homem. A advogada de direitos humanos Sheila de Carvalho comentou sobre o assunto: "Não teve uma consequência direta do aparato de segurança privada que estava ali para proteger e não protegeram. Se fosse um consumidor branco, aquela violência passaria batido, não haveria uma intervenção?".

Investigações da polícia

Mônica registrou queixa na polícia logo após o ocorrido, mas as investigações não tiveram andamento por conta da dificuldade em reconhecer o agressor.

Segundo o Ministério Público, o agressor pode responder pelo crime de injúria racial, quando se ofende a dignidade de alguém por causa de sua raça ou cor, e também por agressão.

O promotor de Justiça Marcos Kac, ouvido pelo "Fantástico", disse que há duas maneiras de descobrir a identidade do agressor: alguém reconhecendo pelas imagens e realizando a denúncia, ou a partir do meio de pagamento usado por ele.

A Starbucks Brasil afirmou que compartilhou as imagens assim que elas foram solicitadas pela polícia
e pela Justiça, em junho do ano passado. A cafeteria citou também que o agressor dizia estar armado, causando muito medo em todos os presentes. Já o BarraShopping explicou que a equipe de segurança acompanhou o ocorrido atuando nos limites de sua atribuição.

A Polícia Civil informou que as imagens foram analisadas e que pediu dados do cartão usado pelo suspeito no pagamento da conta para tentar identificá-lo.