Policiais invadem e ocupam casa de moradora no JacarezinhoReprodução/TV Globo

Rio - O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) está investigando a denúncia de uma moradora da comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, alegando que policiais militares invadiram e ocuparam a casa dela por um período de três meses, além de roubarem objetos e depredarem o local. A vítima também diz ser alvo de ameaças por parte dos agentes.
O caso foi revelado pelo Fantástico, da TV Globo. A dona da residência invadida procurou a Defensoria Pública no final de janeiro, dias após o Programa Cidade Integrada ter sido implantado na comunidade. De acordo com a mulher, os policiais passaram a invadir sua casa de forma frequente. O MPRJ ainda recebeu as denúncias de outros moradores alegando que também tiveram suas casas invadidas por PMs.

Foi no Jacarezinho em que ocorreu a operação da Polícia Civil mais letal do Rio de Janeiro, em maio de 2021, onde 28 pessoas foram mortas durante a ação. Na época, vídeos nas redes sociais mostravam moradores limpando o sangue dos mortos do chão e das paredes.

A denunciante contou que não retornou mais para a sua casa com medo de que os policiais invadissem novamente e que tinha medo de sofrer represálias dos policiais. Além disso, a mulher também declarou que "os policias começaram a 'mandar recado, dizendo que era para a declarante não retornar para casa porque eles precisavam de um lugar pra ficar durante o serviço".

Quando os invadores saíam, ela entrava na casa para verificar os estragos, até que decidiu passar a gravar toda a ação e colocou uma câmera escondida em casa. Nas imagens, é possível ver os policiais entrando calmos na residência, com armas abaixadas e pedindo para ligar o ar condicionado. Ao descobrir a existência da câmera, eles tentam arrancá-la do local.

Depois da casa ser usada por bastante tempo, passou a ser depredada, de acordo com a moradora. Primeiro, ela reparou o sumiço de pequenos objetos, como perfumes e bijuterias, depois, desapareceram eletrodomésticos, como o fogão e o chuveiro, portas dos armários, tomadas e até mesmo lâmpadas e interruptores. Nem mesmo as roupas foram poupadas, todas foram levadas pelos agentes.

O MPRJ informou, por meio da 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria da Justiça Militar (2ª PJAM), teve determinação atendida pelo Comando do Batalhão de Choque (BPChq) e pela Corregedoria Geral da PMERJ (CGPM) no sentido de garantir o retorno de uma família à própria residência, na Comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio. A família, cuja identidade permanece em sigilo, pôde retornar para sua casa no último dia 20 de abril. A Defensoria Pública do Estado (DPERJ) encaminhou o caso ao MPRJ que, então, realizou a oitiva das vítimas e tomou as demais medidas visando a rápida resolução do caso.

O promotor de Justiça Paulo Roberto Mello Cunha requisitou a instauração de Inquérito Policial Militar e a adoção de providências para identificação dos policiais, maior fiscalização e controle para cessar tais práticas criminosas e a garantia do retorno da família para casa.

O procedimento do MPRJ, em que foram ouvidas a vítimas, foi encaminhado à CGPM e os PMs envolvidos já foram identificados. A partir da próxima semana, os autos do IPM serão enviados à 2ª PJAM para análise acerca do oferecimento da Denúncia à Auditoria de Justiça Militar.
A Polícia Militar informou que, ao tomar conhecimento da referida denúncia, o comando da Corporação determinou procedimento apuratório que vem sendo conduzido pela Corregedoria Geral da Polícia Militar. Todos os policiais militares envolvidos na suposta invasão de domicílio denunciada pela moradora já foram identificados e ouvidos a termo.
PMs também invadiram casas na Vila Aliança

Um morador da comunidade Vila Aliança, na Zona Oeste do Rio, que tinha a casa frequentemente invadida por PMs sem mandado instalou câmeras de segurança que flagraram agentes roubando pertences.

De acordo com informações divulgadas pelo portal G1, da TV Globo, um dos proprietários da casa teria alegado que os PMs furtaram uma caixa de som, um vidro de perfume, um quilo de carne congelada e oito caixinhas de água de coco. Além disso, ele teria afirmado que os agentes não tinham mandado de busca ou qualquer flagrante que justificassem a entrada no imóvel.

Nas filmagens é possível vê-los andando pela residência. Em determinado momento, um deles acha uma garrafa com bebida alcoólica, cheira, e diz: "Isso aqui tá aberto. Ih, tá esculachado já". Em outro trecho do vídeo um agente, que está na cozinha, chama um companheiro para avaliar o que tem na geladeira da casa: "Vem ver a geladeira, pra tu ver o que é e o que não é".

As duas equipes envolvidas no episódio foram afastadas pela PM. Uma equipe é do Batalhão de Ações com Cães (BAC), e outra é do Batalhão de Choque (BPChq), que somam, ao todo, 16 militares, que serão transferidos para atividades internas.