Ana Júlia Mathias, de 22 anos, é enterrada no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada FluminenseSandro Vox / Agência O Dia

Rio - O engenheiro Jessé de Souza Cunha, de 42 anos, suspeito de matar e enterrar a esposa Ana Júlia Mathias na própria casa onde moravam no bairro Corumbá, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, pediu para dormir na casa da mãe da vítima após ter cometido o crime. A tia da jovem, Juliana Mathias Thurler, confirmou que ele registrou o caso na delegacia como desaparecimento e esteve a todo momento ao lado dos familiares fingindo ajudar a localizá-la. A professora, de 22 anos, estava desaparecida desde a tarde da última segunda-feira (16) e no dia seguinte Jessé prestou queixa. Ele foi preso em flagrante nesta quarta-feira.
"Na noite de terça-feira, ele pediu pra minha irmã deixar ele dormir na casa dela e ela deixou. Quando foi 4h ele mandou mensagem para ela falando que tinha ido na UPA procurar vestígios, para o Hospital da Posse, falou até que veio para cá no IML para saber se chegou algum corpo e nada. Ele estava a todo momento com a gente. Eu ainda falei pra minha mãe assim: 'Você ainda vai ver o desfecho dessa história'. Porque eu sempre senti que ele tinha alguma coisa a ver com isso", disse Juliana, que esteve na manhã desta quinta-feira no Instituto Médico (IML) de Nova Iguaçu para liberar o corpo.
Juliana disse que começou a desconfiar do engenheiro após uma atitude suspeita e que não vai descansar enquanto não souber que ele vá permanecer atrás das grades.

"Eu estava sentada e disse pra ele que recebi uma mensagem de uma amiga dela da escola onde ela trabalhava. Ela dizia: 'Tia, Ana Júlia estava muito nervosa no telefone falando com um homem, que estava mandando um monte de mensagem para ela e ela apagando'. Nisso, ele estava no carro mexendo no celular, ele olhou de cima para baixo, e para mim. Aquela cara dele já condenou. A esposa some de casa e na terça-feira você vai trabalhar normalmente? Frio e calculista e ele tem que pagar. Ele não vai sair da cadeia e a gente não vai descansar enquanto não ver que ele realmente vai permanecer preso por 30, 40 anos".
O responsável pelas investigações, o delegado Willian Batista da 58ª DP (Posse), disse que Jessé foi à delegacia ao lado de familiares da vítima para registrar o caso como desaparecimento na terça-feira (17). 
"Na terça-feira, minha irmã recebeu uma mensagem do agressor, desse marginal, falando assim: 'Sogra, Ana Júlia tá ai? Porque ela não foi para casa. Aconteceu alguma coisa?'. A colega da minha irmã passou isso [informação] para mim. Imediatamente saí do meu trabalho, fui com uma amiga de carro lá [na casa da irmã], rodei tudo e não tinha vestígios de nada. Na mensagem que ele tinha mandado através do celular dela, ele que tava mexendo no aparelho dela, tava falando que ela tinha traído dele, que ela precisaria de um tempo pra pensar. Só que eu falei para minha irmã que não era ela, eu tinha quase certeza porque eu conheço a sobrinha que eu tenho e ela não seria capaz disso", relatou a tia da vítima.
Juliana contou que se reuniu com outros familiares e amigos para refazer o trajeto do ônibus que ela pegava da escola até a casa dela para tentar descobrir o que aconteceu, sem sucesso. De acordo com ela, uma das primas de Ana Júlia e um amigo foram até a residência da vítima na tentativa de encontrar alguma pista. "Eles 'cavucaram' e acabaram encontrando o corpo da minha sobrinha enterrado".
A tia da professora disse que ainda quer entender o motivo do crime e a causa da morte da sobrinha. De acordo com Juliana, o casal não tinha histórico de brigas frequentes e ela nunca imaginou que a jovem pudesse ser vítima de um feminicídio. 
"Eu queria entender porque ele fez isso, quero saber o laudo do IML pra saber a causa da morte dela, porque falaram que o rostinho dela estava intacto e que só estava com uma marca roxa no peito, não tinha marca de asfixia. Preciso saber porque ele fez isso e o do que a minha sobrinha morreu. Só quero saber o que houve".
A tia de Ana Júlia disse que era muito difícil eles brigarem. "Ela não passava nada para a gente. Todas as vezes que íamos lá, ela estava feliz. Das vezes que brigavam, ela ia para a casa da minha mãe, mas era muito raro. As vezes ela aparecia com umas marcas roxas, mas nunca relatou nada. Minha sobrinha não aceitava homem bater em mulher, era contra isso. Então, pra gente esse crime foi uma coisa surreal. Nunca na vida eu ia imaginar que iria passar por isso. Meu sentimento está devastador, eu não sei como vou ter vida daqui para frente sem ela. Ana Júlia era tudo na nossa vida. Tá doendo, a ficha vai cair aos poucos, a gente ainda está em choque, tentando assimilar tudo o que está acontecendo".
Abalada, a tia de Ana Júlia disse que a jovem era alegre e muito batalhadora. "Quem me conhece sabe que não tenho filho, mas Ana Júlia era como se fosse a minha filha e a gente não aceita isso. Saía do trabalho, ia pro estágio, do estágio ia para a faculdade, porque ela cursava pedagogia, ia se formar ano que vem. Minha sobrinha era alegre, feliz e amada. E agora ele tirou ela da gente".
Conforme a polícia, o corpo da vítima foi encontrado enterrado em um cômodo da própria casa que passava por reformas e que estava com muito barro. Agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) fizeram uma perícia no local e Jessé foi autuado em flagrante pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver.
O corpo de Ana Júlia será enterrado às 16h45 desta quinta-feira, no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.