Vítima de agressão no metrô presta depoimento na DECRADI do Centro Na foto, Paulo Vitor Araújo e a delegada Debora Rodrigues Sandro Vox / Agência O Dia
O caso ocorreu na noite de 7 de junho, por volta das 23h, quando Paulo Vítor voltava para casa, em Niterói, após um dia de trabalho. De acordo com a vítima, ele pegou o metrô em São Conrado, sentido Central, e tinham poucas pessoas no vagão, até que ao se aproximar da estação Antero de Quental, um homem se levantou e o agrediu.
"Eu saí do trabalho, peguei o metrô às 23h em ponto, na estação São Conrado, e entrei como minha rotina normal, todo dia eu desço a escada rolante, entro no segundo vagão e sento. Tinham umas seis pessoas, aproximadamente, dentro do vagão sentadas na minha frente, eu simplesmente sentei, peguei o meu telefone e comecei a mexer de cabeça baixa. Chegando na estação Antero de Quental que esse esse cara levantou, com uma bolsa, e sem nenhum tipo de motivo, bateu com essa bolsa na minha cabeça, sem eu esperar, de surpresa total", contou ele.
Para ele, o ocorrido o fez perceber que a falta de segurança é constante até mesmo em locais que deveriam ser seguros, como o interior do metrô. "O que fica na cabeça da gente é que a cada dia que passa, parece que o mundo está menos seguro. Infelizmente fui vítima de uma agressão totalmente inexplicável, sem nenhum tipo de motivação, sem nenhum tipo de comunicação", lamentou.
Homem agride passageiro e ameaça segurança de metrô na estação Antero de Quental. #ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) July 28, 2022
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Segundo a delegada titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Débora Rodrigues, o homem será indiciado por tentativa de homicídio, a princípio, devido à gravidade das lesões, mas a prioridade segue sendo identificar o autor do crime e a mulher que o acompanhava.
"Estamos tentando primeiro identificar, não só esse homem, mas a mulher que estava com ele. A princípio é uma tentativa de homicídio, as lesões foram gravíssimas. Além de traumatismo craniano, está com os olhos desalinhados, ele realmente poderia ter vindo a óbito. A gente precisa tirar de circulação esse homem, mas antes disso identificar, saber quem ele é. E foi do nada, eles [a vítima e o agressor] não trocaram uma palavra, na verdade a vítima não chega nem a olhar para ele. Quando prestou esclarecimentos na delegacia [a vítima], disse que depois que descobriu que era um casal que estava na frente dele", disse.
Câmeras de segurança do metrô flagraram o momento em que o homem, utilizando um casaco vermelho, se levanta com uma bolsa e bate em Paulo Vítor, vestido de preto, sem motivo aparente, que revida e os dois entram em luta corporal. A vítima ainda caí no chão algumas vezes até que um terceiro homem, de blusa vermelha, e a mulher que acompanhava o agressor aparecem e tentam apartar a briga.
No momento das agressões, Paulo estava mexendo no celular, com a cabeça baixa. Ele sofreu traumatismo craniano e uma lesão grave no olho, que necessita da utilização de uma espécie de placa, além de estar com desvio ocular e precisar usar diariamente óculos escuros devido à sensibilidade causada pelos ferimentos. Ainda segundo a delegada, a vítima chegou a correr risco de vida, de acordo com o laudo médico, por conta de uma hemorragia interna causada pelas agressões.
"Ele ficou trinta dias afastado do trabalho, fez várias cirurgias. O médico falou que ele quase morreu por hemorragia, a sorte dele é que o sangue escorreu pelo nariz. Além disso, foi uma coisa do nada, a pessoa olhar para você e agredir. Não é uma agressão, é uma tentativa de homicídio mesmo", alegou ela.
Após o ocorrido, o agressor desceu na Antero de Quental. A segurança do metrô foi acionada e um dos agentes tentou conter o homem e levá-lo até uma sala para fazer o registro de ocorrência, mas ele seguiu andando, indo embora com a mulher que o acompanhava. As câmeras que ficam acopladas aos uniformes dos agentes capturaram o momento da saída do agressor da estação. Um dos funcionários tentou abordá-lo, sem sucesso, e ele, muito alterado, chegou a proferir ameaças.
"Não encosta em mim, não encosta em mim", diz o agressor em um certo momento e, logo depois, ameaça: "Eu tô no meu caminho. Não entra no meio caminho, não."
As imagens dos uniformes ainda mostram Paulo Vitor machucado, coberto de sangue em todo o rosto, ainda dentro da estação.
A polícia busca entender a motivação para as agressões. Inicialmente, as investigações apontam que o crime ocorreu motivado por xenofobia regional, já que as partes sequer se conheciam ou conversaram momento antes do ocorrido.
"As partes não se conhecem, não trocam uma palavra, cada um entra numa estação, a vítima escuta ele falar depois da agressão 'pessoas como você merecem ser tratadas desta forma', foi motivado por algum ódio, alguma coisa que ele viu nessa vítima que deixou ele com ódio, porque não tem nada, não tem uma troca de palavra, não tem uma motivação nenhuma", e ainda completou, explicando que grande parte dos crimes de intolerância envolvem ódio por alguma característica de outra pessoa, mesmo sem maiores motivações.
"Infelizmente os crimes de intolerância são marcados pelo ódio, no caso, o autor escolhe a vítima por características, seja racial, seja homofóbica, ele olha, escolhe e geralmente é isso, não fala nada e parte para a agressão."
A Polícia Militar pede para que quem tenha informações sobre a identificação do homem e da mulher que o acompanhava, entre em contato por meio do Disque Denúncia: 21 2253-1177.
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