Marcelle Silva Santos, vítima de racismo nas dependências da Marinha do BrasilReprodução/TV Globo

Rio - "Eu me sinto humilhada, eu me sinto menosprezada", assim a estagiária da Marinha do Brasil, Marcelle Silva Santos, de 22 anos, diz se sentir após ser vítima de racismo em seu ambiente de trabalho. A jovem acusa uma colega de preconceito dentro das dependências do 1° Distrito Naval da Marinha, no Centro do Rio.
Em entrevista ao "RJTV", da TV Globo, a jovem revela que as cenas de preconceito não ocorreram apenas uma vez. "É muito ruim. A gente vai juntando de pontinho em pontinho. Na copa foi um dia, hoje foi outro dia, no mercado outro dia."
Marcelle, que iniciou o estágio no 1° Distrito Naval da Marinha em fevereiro, conta que sua entrada na instituição foi um sonho realizado e que não esperava sofrer racismo dentro de seu ambiente de trabalho.

De acordo com a jovem, seus planos eram se formar em pedagogia e ingressar na carreira militar, mas não imaginou que seu sonho pudesse se tornar um pesadelo por conta do preconceito de uma colega de profissão. Em seu relato, Marcelle aponta a estagiária Ticiany, de 18 anos, como a pessoa que a agrediu verbalmente.

"Aí, falei para ela: 'hoje vamos ver quem vai lavar a louça'. Ela pegou e falou para mim: 'eu não vou lavar louça não'. Eu: 'mas eu lavei outro dia. Eu acho que é a sua vez de lavar a louça. Sempre tenho que lavar todo dia?' Aí, ela falou: 'sim porque você é preta'. Aí, depois deu uma risada e disse que estava zoando, que estava brincando", expôs ela sobre o fato que teria ocorrido na copa do Distrito Naval.

Na primeira vez, ocorrido hpa cerca de um mês, Marcelle havia relevado, mas nesta quinta-feira (25), a colega de trabalho voltou a destratar a jovem.

"A estagiária Ticiany falou: 'tem uma tal loja que está dando uma vaga de trabalho'. Eu falei: 'poxa, esse lugar para mim é um pouco pesado, é escravidão para mim'. E ela falou: 'o que é que tem, você é preta'. Simplesmente me retirei e fui para o banheiro chorar. Eu só sabia chorar, tremer, meio que voltou a minha infância, as pessoas zoando", desabafou.

Após esse novo episódio, Marcelle foi encorajada por uma amiga, criadora de um grupo de apoio à intolerância racial no colégio Pedro II, e prestou queixa da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio.

De acordo com a Polícia Civil, a vítima foi ouvida. Depoimentos da autora e de testemunhas serão coletados nos próximos dias.

Segundo a vítima, em ambos os casos havia testemunhas e Ticiany chegou a ser advertida, mas somente verbalmente.

"Eu nem gosto de lembrar porque me faz chorar, me faz tremer, me faz querer sair correndo porque dói, machuca muito. Eu espero que isso mude algum dia porque como aconteceu comigo hoje, amanhã posso ter um filho e acontecer com ele também."

A Marinha do Brasil informou que tomou conhecimento, na quinta-feira (25), sobre uma denúncia de racismo envolvendo duas estagiárias civis do Centro de Distribuição de Uniformes, do Comando do 1º Distrito Naval. A MB esclarece que instaurou procedimento administrativo com o objetivo de apurar os fatos relatados e tomar as medidas cabíveis. Ressalta-se que a Marinha está prestando o apoio necessário à estagiária e, ainda, que lamenta o ocorrido e reitera seu firme repúdio a quaisquer atos de intolerância, prezando para que os preceitos da conduta ético-militar sejam mantidos por civis e militares dentro de suas organizações.