Fernando Ebert é coordenador do departamento de visitas guiadas do Palácio TiradentesPedro Ivo / Agência O DIA

Rio - As enormes escadarias que chamam a atenção de quem passa pela Rua Primeiro de Março, no Centro do Rio, dão acesso a um dos lugares mais antigos da cidade, o Palácio Tiradentes. Inaugurado em 1926, o local, que já foi sede da Câmara dos Deputados, do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), da Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara (Aleg) e, recentemente, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), transferida para o prédio do Banerjão ano passado, agora vai virar um museu. No antigo plenário, onde foi palco de discussões políticas calorosas, agora é um espaço para shows e visitas turísticas. Uma exposição permanente também está para ser inaugurada até o fim deste ano.
O Palácio Tiradentes foi sede da Alerj por 47 anos, dividindo o espaço turístico com a política. Agora, desde a mudança, o espaço está destinado para a cultura, abrindo suas portas para exposições e shows. Atualmente, o prédio está passando por uma reforma para dar prosseguimento ao projeto cultural, sendo possível a visitação guiada apenas através de agendamento e com grupos fechados.
"A visita guiada parou por causa da pandemia, agora estamos abertos mas recebendo apenas grupos agendados. Por enquanto não estamos abrindo de forma espontânea", disse o diretor de cultura do Palácio Tiradentes, Nelson Freitas. Segundo ele, o Palácio está passando por um processo de restauro e duas imagens do salão nobre já passaram pelo procedimento. O restauro será feito também nos pisos do saguão Getúlio Vargas e nas peças de metais da casa.
Ainda de acordo com Nelson, por causa do processo de restauração e conservação do Palácio, as visitas guiadas são conduzidas diretamente ao plenário, onde é feita uma apresentação, com uma narrativa de toda a memória do prédio e uma apresentação histórica. "Está sendo dessa forma por causa dos espaços. A exposição antiga de fotografia foi retirada para dar espaço para uma nova. Toda narrativa histórica está sendo construída por uma pesquisa da FGV. Será uma nova exposição com vivência e experiências sensoriais", explicou.
A nova exposição irá ocupar o espaço dos corredores e as várias salas que foram desocupadas com a mudança da Alerj. O plenário, atualmente, está sendo utilizado como espaço efêmero para apresentações de espetáculos musicais, com projetos diversos. "Nós começamos esses projetos culturais novos de shows. Eu elaborei a planilha cultural toda fundamentada no Palácio. Por ser Tiradentes, menção ao ícone da república, e a origem do Palácio Tiradentes, a gente construiu um dos pilares da política cultural sendo a Inconfidência Mineira e o outro a República", declarou. "De imediato, desenhamos um projeto que a gente teria sempre apresentações de espetáculo musical. Temos a leitura da música brasileira no momento da inconfidência, para que a gente entenda as nossas origens", completou.
O projeto "Leitura da música brasileira" no Palácio Tiradentes contou com a apresentação dos cantores Tony Garrido, Cristina Braga, entre outros. Ainda este mês, será inaugurado um outro projeto, também de música brasileira, chamado "Os sons da República", no Imperator, no Méier, Zona Norte do Rio.
Segundo Nelson, a ideia é apresentar a exposição permanente do museu ainda este ano. "Queremos ter a exposição permanente no Palácio Tiradentes ainda este ano, penso que até dezembro. A nossa meta é essa. Enquanto isso, a gente trabalha em cima desses projetos de música, porque o retorno é imediato. A música é uma linguagem que, de modo geral, a população utiliza como a melhor forma de manifestar os novos modos de vida", acrescentou. "Então, a gente utiliza hoje vários projetos e construímos vínculos com público de modo geral, conectando eles ao Palácio através da arte. É isso que vai dar sustentabilidade ao novo ciclo", completou. "Acho que o Palácio Tiradentes teve um ciclo político determinante de transformação na vida das pessoas, agora está em um novo ciclo, o da arte", finalizou.
Prédio anexo
Nelson explicou que não se sabe ao certo ainda qual será o destino do prédio anexo, antes ocupado pelos gabinetes dos deputados estaduais. "O Palácio Tiradentes agora fica sendo único e exclusivamente equipamento cultural. Essa é a única mudança relevante. Antes, nós não éramos um equipamento, mas a sede da Alerj. Isso muda muito", afirmou.
Visitações guiadas
As visitações guiadas estão acontecendo só através de agendamento e para grupos grandes. De acordo com o coordenador das visitas guiadas do Palácio Tiradentes, Fernando Ebert, durante o passeio, os mediadores ficam no plenário e dão uma aula de história, contextualizando os acontecimentos de uma forma leve e informal. "Agora temos a cereja do bolo que antes não tínhamos: o plenário. A gente bate um papo ali por cerca de uma hora, de uma forma descontraída e divertida", contou.
Ao subir as escadas, o visitante segue para o saguão Getúlio Vargas e, em seguida, para o plenário. "Dividimos a história em duas partes: primeiro, falamos da história da arte, de cada pintura, cada símbolo, conversamos bastante com os alunos e depois vem a parte política também", explicou Fernando "Falamos de todos os presidentes que tomaram posse ali, contamos alguns causos, falamos de histórias importantes e sobre o Palácio inteiro, desde a formação até a Alerj", completou.
A historiadora Juliana Costa, de 27 anos, já estagiou no departamento de visitas do Palácio Tiradentes como guia, em 2016, e afirmou que foi uma das melhores experiências que teve dentro do mundo profissional. "Foi uma experiência enriquecedora. O projeto era incrível, proporcionava uma troca entre os estagiários e os alunos das escolas que recebíamos, bem como turistas, que eram tanto brasileiros como estrangeiros", disse. 
Além da vivência no ambiente de trabalho, ter um lugar para colocar em prática todo conhecimento adquirido em sala de aula foi um fator de destaque durante seu período de estágio."Era um lugar de muita troca, de crescimento interpessoal e de poder lidar com diversas realidades. O projeto em si era bem completo, tínhamos bastante instrução e apoio para trabalhar, sempre com a presença de um ou mais responsáveis pelo projeto", acrescentou Juliana. 
O agendamento pode ser feito de segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 17h, gratuito, através do site.
O Palácio
O Palácio Tiradentes, que recebeu esse nome em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, enforcado por sua participação na Inconfidência Mineira, foi construído em cima da antiga Casa de Câmara de Cadeia. Tiradentes foi enforcado no Rio, em 1792, depois de ficar preso desde 1789 na Ilha das Cobras, passando cinco dias na Cadeia Velha antes de ser levado à forca na manhã de sábado, 21 de abril.
Na época do Império, o Rio era a capital do Brasil e, após a Independência, em 1822, o prédio abrigou a Assembleia Constituinte. Durante todo o período em que o Brasil foi governado sob um regime monárquico, a Cadeia Velha foi um lugar de importantes acontecimentos políticos e legislativos, como a votação e aprovação da Lei Áurea, que viria a ser assinada em 13 de maio de 1888, promovendo, oficialmente, a abolição da escravidão no Brasil.

Para não deixar um retrato triste e retrógrado no país, a "Cadeia Velha" foi demolida e, no lugar dela, foi construído o Palácio, sendo inaugurado em 1926. Por ordens de economia, toda a sua estrutura é de concreto e tijolo. Até as estátuas são de massa. Muitos dos móveis foram doados pelo estado de São Paulo e pelos ricos cafeicultores da época.