Heitor, de 10 anos, faz tratamento na Clínica da Dor do Hospital Municipal JesusDivulgação/Edu Kapps
"Na escola, o aluno com dor pode perder o foco e até repetir de ano, além de ter prejuízos na socialização em geral, devido à tendência de isolamento nesses casos. A longo prazo, a falta de um tratamento adequado também pode gerar um adulto com dor e impactado social, profissional e financeiramente, pois tende a se tornar improdutivo no trabalho e com dificuldade para conviver em sociedade, com predisposição para a ansiedade e depressão", avalia a especialista.
Têm indicação para a Clínica da Dor pacientes com anemia falciforme, dores musculoesqueléticas, cefaleias e enxaquecas, dores abdominais e pélvicas, fibromialgia juvenil, hipermobilidade, dor crônica pós-operatória, câncer, entre outros. O tratamento consiste na prescrição de medicamentos, bloqueios de terminações nervosas com infiltrações de anestésicos por meio de ultrassom guiado, e até encaminhamento para profissionais como psicólogos e fisioterapeutas. A médica ressalta que o tratamento é individualizado e a resposta varia de acordo com cada caso, mas em geral trazem muito alívio para os pequenos pacientes.
"Precisamos ser mais humanos e parar de minimizar a dor dos outros. Quando a criança tem dor, alguns pais costumam repreender, pedir para ficar quieto e dizer que vai passar, mas nem sempre passa. E nesses casos, é preciso buscar um especialista que tem meios de identificar e tratar a dor. Até quando a criança não consegue verbalizar, por ser muito pequena ou possuir uma doença neurológica, podemos fazer testes terapêuticos, fisiológicos, como a avaliação da frequência cardíaca, e comportamentais para isso", informa a Dra. Ana Carolina.
Para o pequeno guerreiro Heitor, de 10 anos, filho da professora Fernanda Inácia da Cruz, de 42, e irmão gêmeo do Arthur, o tratamento vem dando a oportunidade dele fazer as coisas que mais gosta: ler e jogar videogame. Aluno da 4ª série e fã de matemática, Heitor nasceu com uma má formação na coluna que prejudicou a sua mobilidade. Ele já passou pelo centro cirúrgico cinco vezes para procedimentos na medula e nos pés, e sabe bem como é lutar contra a dor, mas graças ao acompanhamento especializado já chegou a ficar seis meses sem crises. A mãe comemora. Fernanda ressalta a importância do tratamento para a melhoria da qualidade de vida do menino, pois as dores afetavam o seu desempenho na escola e também a diversão em casa, impedindo as brincadeiras com o irmão.
"A escola me ligava quase todos os dias. Ele não conseguia vestir uma camisa de tanta dor no ombro, e também tinha muitas crises de enxaqueca. Não conseguia comer e vivia todo furado, com acesso profundo, por conta das inúmeras internações. Até que a gente teve conhecimento da clínica, após a terceira cirurgia na medula, quando o Heitor precisou tomar morfina por causa da dor. O médico do hospital fez a indicação e, de lá para cá, as idas à emergência diminuíram muito. É muito importante que mais crianças possam ter acesso a esse serviço", conta Fernanda.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.