José Simão era apaixonado pelo Vasco e militar da Marinha aposentadoArquivo Pessoal

Rio - A família do idoso José Simão, de 82 anos, morto depois de ficar preso na porta de um metrô na estação Uruguaiana no último sábado (22), vai processar a concessionária MetrôRio e exigir uma retratação da empresa sobre o assunto.
Ao DIA, o engenheiro Newton Brito, filho mais velho da vítima, contou que a empresa não prestou auxílio à família após o ocorrido. O MetrôRio não teria nem comunicado sobre o acidente, segundo ele. Newton soube do fato depois de um telefonema feito por um agente da 4ª DP (Praça da República). O filho aguardava o pai no Flamengo após o idoso ter ido trocar a bateria de seu celular na Uruguaiana.
"Sinto uma completa falta de estrutura de atendimento para famílias que sofrem esse tipo de situação. Eu liguei para o meu pai para saber se ele já estava vindo almoçar e fui atendido por uma pessoa desconhecida. Eu tive que comunicar a minha mãe sem nenhum tipo de apoio. A empresa queria saber se tinha alguma forma de assistência. O Metrô já tinha que saber o que fazer e não perguntar o que tem que ser feito", lamentou.
Newton quer uma retratação da empresa sobre o assunto. Para o engenheiro, o MetrôRio deveria ter um sensor que impossibilite o andamento do veículo enquanto alguma porta ainda estiver aberta. José Simão ia entrar em um vagão e sua mão ficou presa na porta com ele do lado de fora. O idoso então foi arrastado e ficou imprensado entre o veículo. De acordo com laudo da perícia, a causa da morte foi traumatismo no tórax e hemorragia interna.
"Nós buscamos uma retratação do Metrô em relação ao caso porque é responsabilidade deles. Isso não pode acontecer. Foi um assassinato de uma pessoa por não ter um sensor para identificar se alguém ficou preso", contou Newton.
O advogado Yannick Robert, que representa a família, informou que vai pedir uma indenização para a empresa como forma de reconhecer o erro que teria acontecido.
"O que aconteceu é um absurdo. Andar com alguém do lado de fora não deveria acontecer. A assistência que a família precisa é a humanidade. Nós vamos pedir, além de uma compensação, uma tutela para que o MetrôRio passe a adotar para que o metrô não ande com a porta aberta e que eles reconheçam o erro", explicou a defesa.
Independência
José Simão era um militar da Marinha aposentado. Ele era casado, morava em Piedade, na Zona Norte do Rio e deixou cinco filhos, sendo Newton o mais velho. De acordo com o primogênito, a relação do pai com a família era muito amistosa.
"Meu pai tinha uma vida ativa junto com os filhos. Ele era um cara totalmente independente. Ele tinha um rapaz que tratava do celular dele na Uruguaiana porque a bateria estava ruim. Ele havia comprado camisas do Brasil para os netos por causa da Copa. O metrô era um transporte que ele viajava muito e ele gostava de transportes públicos", disse o filho.
Ambos iam assistir o jogo do Vasco contra o Criciúma, realizado no dia do acidente, em um restaurante. Simão era apaixonado pelo Cruzmaltino e a equipe deve prestar um minuto de silêncio como forma de homenagem no jogo desta quinta-feira (27) contra o Sampaio Corrêa.
Investigação
A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a morte do idoso. Uma perícia já foi feita pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e testemunhas estão sendo ouvidas para esclarecer o fato. Primeiramente, o caso foi registrado na 4ª DP (Praça da República). Agora está sob responsabilidade da 1ª DP (Praça Mauá). 
Procurado nesta quinta-feira (27), o MetrôRio informou que está à disposição da família para prestar toda a assistência necessária e vem buscando contato desde o fim de semana. De acordo com nota oficial, os "trens não circulam com as portas abertas. As composições somente partem das estações após a confirmação de que todas as portas estão fechadas e, antes disso, há avisos sonoros e luminosos alertando para o fechamento das mesmas, além de constante comunicação visual e sonora orientando os clientes sobre cuidados necessários para embarque e desembarque seguro nos trens e estações. Existem ainda botões de emergência em todos os carros que, quando acionados, ativam a frenagem de emergência do trem".
No mesmo comunicado, o MetrôRio informou que "trata-se de um acidente sem precedentes na operação do metrô do Rio de Janeiro e a concessionária instaurou o Comitê de Avaliação de Acidente, a fim de apurar minuciosamente e com muita responsabilidade o que ocorreu, para assim prestar todos os esclarecimentos necessários à família e às autoridades".
Na última segunda-feira (24), ao ser questionado sobre o que um passageiro poderia ter feito para ajudar durante o episódio, já que gritos dos clientes não surtiram efeito e não há dispositivo que avisa que alguma porta não está fechada, a assessoria esclareceu que "cada carro possui dois botões de emergência, que, quando acionados, aplicam o freio de emergência do trem. Em seguida, o condutor entra em contato com o carro em questão - por meio de dispositivo de comunicação do próprio botão de emergência -, para atender ao chamado e verificar a origem da urgência".