Fachada do histórico Bar Luiz, na Rua da CariocaArquivo/Agência O Dia

Rio - O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), através do juiz Alexandre de Carvalho Mesquita, da 1ª Vara Empresarial da Capital, decretou a falência do Bar Luiz, localizado na Rua da Carioca, 39, no Centro do Rio. O estabelecimento completou 135 anos em janeiro deste ano e já recebeu grandes nomes da cultura brasileira como Olavo Bilac, Sérgio Buarque de Hollanda e Ary Barroso.
De acordo com o TJ-RJ, a medida foi pedida pelo administrador judicial porque as recuperandas não apresentaram o Plano de Recuperação Judicial no prazo de 60 dias. Por isso, segundo a decisão, não foi possível ao administrador fazer a correta análise contábil e financeira das sociedades, inviabilizando o acompanhamento da atividade empresarial pelos credores e demais interessados.

Os credores devem apresentar ao administrador judicial as habilitações ou impugnações de crédito no prazo de 15 dias após a publicação do primeiro edital com a decisão. As ações trabalhistas serão processadas na justiça especializada até a apuração do respectivo crédito. A decisão prevê ainda que o bar seja lacrado, conforme aponta o TJ-RJ.
Ao DIA, a dona do bar, Rosana Santos, lamentou a crise que o estabelecimento sofreu nos últimos anos. Em 2020, o bar entrou em recuperação judicial, mas a pandemia da Covid-19 prejudicou a ida de clientes ao local.
"O bar estava precisando de obras. Eu tentei investidor e vários meios de conseguir a operação do Bar Luiz, mas infelizmente não foi possível. Eu fico muito triste porque é a morte de um reduto histórico e cultural do Rio de Janeiro e causa um certo impacto na cultura do Rio. Eu sei que eu tentei e fiz o que pude", contou.
História
Fundado em 3 de janeiro de 1887, quando Dom Pedro II era o Imperador do Brasil e o Rio, a capital do Império, o Bar Luiz ajudou a popularizar a venda da cerveja pela serpentina: o chope. Já durante a "Belle Epóque" do período republicano, o bar atraía à noite clientes vindos dos teatros próximos à Rua da Carioca: atores, vedetes e profissionais da arte e espectadores dos cinemas da Cinelândia.
O botequim alemão, que chamava-se Bar Adolph veio a mudar o nome para Bar Luiz, com o advento da Segunda Guerra Mundial e os movimentos nacionalistas e antifascistas no Brasil. Sob estas circunstâncias, estudantes do Colégio Pedro II em campanha contra os regimes fascistas da Europa invadiram o Bar com o intuito de destruí-lo, associando seu nome ao ditador alemão Adolf Hitler.
A casa foi salva pelo compositor de Aquarela do Brasil, Ary Barroso, que lá tomava um chope no bar. Desfeito o mal entendido, os estudantes se retiraram para apedrejar outro estabelecimento nas redondezas. O marcante episódio resultou na naturalização de Ludwig Vöit, que passou a denominar-se Luiz, e na alteração do nome da casa para "Bar Luiz".
A cidade do Rio de Janeiro expandiu-se alcançando suas fronteiras da Zona Oeste e dando início ao povoamento da Barra da Tijuca. O Bar Luiz também cresceu, acompanhando o movimento da cidade, e principiou na abertura de duas filiais, uma na Barra da Tijuca e outra na cidade de Niterói.
Com o apoio de autoridades públicas, em Agosto de 1985 o Conjunto Arquitetônico da Rua da Carioca foi tombado como Patrimônio Histórico Municipal e, nele, o Bar Luiz.