Audiência de instrução será realizada no Fórum Regional da Barra da TijucaCleber Mendes / Agência O Dia

Rio – A primeira audiência de instrução e julgamento de Luiz Antônio Santos Silva, de 49 anos, acusado de manter a mulher e os dois filhos em cárcere privado por 17 anos em uma casa em Guaratiba, na Zona Oeste, acontecerá no próximo dia 23, uma quarta-feira, às 15h, no Fórum Regional da Barra da Tijuca.
Luiz Antônio está preso desde o final de julho, quando a família foi resgatada em situação de desnutrição e desidratação grave.
A audiência havia sido marcada para o dia 13 de outubro, mas foi adiada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).

Luiz Antônio será julgado pelos crimes de maus tratos, violência doméstica contra a mulher, sequestro e cárcere privado, vias de fato e tortura.

Em 28 de julho, policiais do 27º BPM (Santa Cruz) foram até a residência do acusado, na Rua Leonel Rocha, após denúncia anônima, e libertaram a mulher e os dois jovens, de 20 e 22 anos, filhos da mulher e de Luiz. Segundo os agentes, eles estavam amarrados, sujos e subnutridos. Os policiais afirmaram ainda que o local era completamente insalubre.
Na ocasião, a mulher relatou que ela e os filhos eram frequentemente agredidos com fios e pedaços de madeira.
A casa era pequena, com pouca luminosidade e tinha acúmulo de lixo, fezes no chão, colchões rasgados e muita sujeira nas paredes. Por causa do nível de desnutrição, os jovens aparentavam ser crianças.
Segundo os policiais, o rapaz, de 20 anos, e a moça, de 22, têm transtornos mentais. Eles e a mãe estavam muito debilitados quando os policiais chegaram e foram levados para o Hospital Municipal Rocha Faria.
"Quando me deparei com a situação, imaginei que fossem crianças, pela compleição física. Eles estavam amarrados quando chegamos", complementou.
Segundo ele, a mulher resgatada, que deve ter por volta dos 40 anos, estava visivelmente apavorada. "Ela não respondeu muito. Perguntei se ela queria uma água, se estava com fome, se queria algo e ela só me respondeu 'mas ele não deixa eles comerem'", afirmou o capitão.
Ainda segundo William, o preso não apresentava nenhum tipo de remorso, arrependimento ou qualquer sentimento similar quando foi preso em flagrante: "Ele só falava que era apenas trabalhador e que estávamos fazendo uma injustiça".

Michel Vinagre, da defensoria pública, é o advogado do acusado. Ele alega que o suspeito é uma pessoa sem instruções básicas e apenas não sabe lidar com o ensino dos filhos.

"A defesa tem pontuado que é o Luiz Antônio é pessoa muito humilde, com dificuldades básicas de alimentação. Não tinha tortura, era mais um brasileiro na linha da miséria. Cárcere privado não há o que se falar, os vizinhos adentraram na casa por várias oportunidades, dando cesta básica, tirando fotos... A casa tinha um trinco por dentro e quando ele ia fazer algum 'bico', a família ficava. Uma questão interessante de pontuar é que os filhos estavam amarrados. Como qualquer pessoa sem muita instrução, ele não sabia lidar quando os filhos tinham um ataque de autismo. São pessoas com autismo severo. Quando havia algum surto, ele tinha o hábito de amarrar. Mas não tinha o ânimo de torturar ninguém", explicou.