Peças expostas foram encontradas no Cais do Valongo durante obras do Porto MaravilhaPedro Ivo/Agência O Dia
A mostra reúne itens como piaçavas, cerâmicas, pedras e peças em vidro encontrados no antigo Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio, lugar onde operou o maior mercado de escravizados do Brasil. A exposição deve permanecer no Muhcab por pelo menos um ano.
Os achados arqueológicos que contam um pouco da história da herança africana no Rio fazem parte do acervo do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (LAAU) da Prefeitura do Rio. Para Leandro Santana, diretor do Muhcab, a exposição tem uma enorme importância para a sociedade brasileira.
Criado por ocasião das obras do Porto Maravilha, o LAAU soma cerca de 1,2 milhão de peças localizadas durante as intervenções na Zona Portuária, sendo 262 mil itens encontrados no Cais do Valongo. As demais são dos sítios Sacadura Cabral, Morro da Conceição e Trapiche da Ordem, entre outros.
O secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, falou sobre a importância da exposição para a história do Rio.
A exposição de longa duração se soma à mostra permanente do Muhcab "Protagonismos - Memória orgulho e identidade", dedicada a pensar a história da escravidão, buscando reflexões sobre a complexidade do tema e suas consequências na atualidade.
A exposição também marca um ano da inauguração do Muhcab, que funciona no interior do Centro Cultural José Bonifácio.
"Nesse um ano de Muhcab, a reflexão que fica para gente é que a memória afro-brasileira deve ser um compromisso de todas as pessoas. Brancos brancas, negros, negras, e a gente vir a essa disposição é lidar com uma memória, memória de um de um passado de nossa cidade que tem arte, mas também tem resistência e que durante muito tempo foi apagada. Temos compromisso com essa memória para construir um futuro com menos intolerância, um futuro sem racismo, um futuro com mais diversidade, é um compromisso de todos os cariocas, dos governos, das empresas, é um ato muito importante a gente pegar algo que estava escondido, apagado e trazer para que toda população tenha acesso", falou Faustini.
Cais do Valongo
O Cais do Valongo foi descoberto 2011, na fase inicial do projeto Porto Maravilha, de revitalização da região, adjacente ao mercado. Estima-se que por lá passaram 700 mil africanos escravizados, entre 1790 e 1831, oriundos principalmente de portos do atual território de Angola, mas também de Moçambique.
O Valongo passou a ser utilizado após uma nova legislação estabelecer a transferência do mercado de escravos para a localidade. Mesmo com a proibição do tráfico negreiro em 1831, o Cais do Valongo continuou sendo um dos principais pontos para compra e venda de pessoas escravizadas.
A escavação arqueológica de 2011 abriu um pedaço de terreno de quatro mil metros quadrados. De lá saíram centenas de artefatos de matrizes africanas, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, anéis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas de uso ritual.
"Ao povo carioca fica essa reflexão do poder da arte e da importância da fé nos momentos de resistência a violações de direitos. As pessoas se apegaram à sua arte e às suas crenças", acrescenta Marcus Faustini.
O Muhcab fica na Rua Pedro Ernesto 80, na Gamboa. O funcionamento é de quinta a sábado, das 10h às 17h. Entrada franca. Classificação livre.
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