Enterro de Carmem Dias da Silva, de 29 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, Zona Norte Rio. Moça foi vítima de feminicídio na comunidade da RocinhaÉrica Martin/Agência O Dia

Rio - Familiares e amigos da faxineira Carmem Dias da Silva, de 29 anos, vítima de feminicídio na Rocinha, Zona Sul do Rio, acreditam que o crime cometido por Wendel Luka da Silva Virgílio, 25, foi premeditado. Eles estiveram reunidos na tarde desta terça-feira (10), para sepultar o corpo da mulher no no Cemitério de São Francisco Xavier, na Zona Portuária do Rio.
O tio de Carmem, Arildo Dias de Souza, 56, lembra da sobrinha como sendo uma pessoa tranquila e que trabalhava dando faxina para sustentar o filho de cinco anos. "Ninguém esperava por isso pois ela era uma menina muito calma. Ele não era namorado dela, era só conhecido", afirma o tio. Carmem era sobrinha de Amarildo Souza, torturado e morto, em julho de 2013, por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. Na ocasião, Amarildo sumiu após ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da UPP e nunca mais foi visto. Três anos depois do fato, 12 policiais foram condenados pela morte e ocultação do corpo do pedreiro.
Já uma amiga de Carmem, que pediu para não ser identificada, disse durante o enterro que Wendel entrou em contato com a vítima através das redes sociais e marcou um encontro na casa dele. Ainda segundo essa colega, o criminoso disse que na residência teria cerveja, com o intuito de atrair a faxineira. "Ele marcou pela rede social, tinha cerveja e ele usou isso para chamar a atenção dela. Foi um crime premeditado", afirma.
O crime brutal chocou moradores da comunidade na tarde de domingo (8). Carmem levou golpes de faca disparados por Wendel, que fugiu do local após o crime. Ele foi preso horas depois por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha e encaminhado à sede da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), responsável pelas investigações, para prestar depoimento. Wendel continua preso.
Feminicídios na Rocinha
Em menos de 24 horas, duas mulheres foram vítimas de feminicídio na Rocinha. Carmem foi assassinada no domingo (8) e Daniela Soares, de 29 anos, foi morta a tiros na madrugada de segunda-feira (29). O suspeito seria o seu companheiro que se entregou na Cidade da Polícia. De acordo com a PM, Daniela chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros até o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, mas, devido aos ferimentos, a vítima não resistiu. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a mulher chegou com vida na unidade. 
No dia 29 de novembro, Stephany Paiva e Ana Alice Mendes, amigas de infância, foram encontradas mortas também a facadas dentro de uma casa na localidade Roupa Suja. O suspeito do duplo homicídio foi preso um dia depois do crime.
Violência contra a mulher em 2023
O ano mal começou e já há registros de feminicídios e tentativas de feminicídios no Estado do Rio de Janeiro. No primeiro dia ano, a jovem Stephany Ferreira do Carmo, de 24 anos, foi esfaqueada no pescoço após uma briga com o namorado Adriano Quirino da Silva. A moça foi agredida na frente do filho dela de 7 anos. Adriano foi preso na manhã desta terça-feira (3). De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Estado de Saúde, Stephany segue em estado grave na UTI do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte.
No segundo dia do ano, outras duas mulheres também foram vítimas de ex-companheiros. A estudante Gabriela Souza, de 27 anos, foi morta na manhã de segunda-feira (2) no Parque São José, em Belford Roxo. O principal suspeito é o ex-marido Fábio Araújo da Silva. Segundo informações da Polícia Civil, a briga começou pois ele queria ver mensagens no celular da jovem, que não permitiu a invasão de privacidade. O homem foi preso em flagrante por policiais da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) na segunda-feira (2) por feminicídio e confessou o crime.
No mesmo dia, a empresária Rosilene de Azevedo da Silva, de 39 anos, foi morta com quatro tiros disparados pelo ex-companheiro, o também empresário Thiago Oliveira Souza, de 41 anos, na manhã de segunda-feira (2), em uma peixaria de Cabo Frio. O homem fugiu após o crime, mas foi preso na tarde de terça-feira (3).
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou que a prioridade do seu governo será o combate à violência contra a mulher. "Proteger a mulher em nosso estado é uma missão que assumo como governador do Rio de Janeiro. O combate ao feminicídio, esse crime bárbaro, é uma prioridade absoluta na nossa gestão", disse Castro em seu discurso de posse. Ele ainda afirmou que criará a Secretaria da Mulher, que atuará de forma transversal com outras pastas e com as polícias Militar e Civil no combate ao feminicídio.