Rio - Familiares e amigos de Diogo Coutinho Marques, de 18 anos, se reuniram na manhã desta terça-feira (31) para prestar as últimas homenagens ao jovem que morreu em um acidente envolvendo o ônibus do Esporte Clube Vila Maria Helena, na madrugada de segunda-feira (30). O corpo da vítima é velado desde a manhã na Igreja Assembléia de Deus Monte do Azeite, em Santa Cruz da Serra, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por onde passaram parentes, colegas e atletas do time.
De acordo com o tio de Diogo, Alexandre Ratinho, o jovem era vascaíno e pretendia iniciar um curso de treinador de futebol e a faculdade de Educação Física em breve. Ele havia convidado o sobrinho para integrar a comissão técnica da escolinha preparatória que comanda, a RTB 11 Academy, em Santa Cruz da Serra, e seria apresentado ao time nesta segunda-feira, quando tivesse retornado da viagem para Minas Gerais com o time da Vila Maria Helena.
"Ele queria viver disso, ele queria viver do futebol. Era um garoto que, de segunda a segunda, ele estava envolvido com isso, se estivesse numa pracinha, se tivesse num campo. O negócio dele era estar envolvido com futebol, ajudando as crianças. Eu tinha comentado com ele que ia conversar com o pai dele para a gente ver um curso de treinador para ele fazer, porque era algo que ele queria muito. Ele falou: 'eu quero sim, eu quero ser ajudado'. Ele ouvia todo mundo, ele era tão humilde que ele sempre queria estar aprendendo", falou o tio do jovem.
Ainda de acordo com Alexandre, a vítima já havia demonstrado interesse em se tornar técnico e tinha como um dos objetivos ajudar os adolescentes do Esporte Clube Vila Maria Helena a se tornarem jogadores de futebol profissionais. A atenção que tinha com o time, segundo o tio, fez com que ele conquistasse o carinho das crianças. Diogo também contava com a confiança dos pais, por ser considerado muito responsável.
"Ele com 18 anos, a gente via que os garotos de 10, 11, 12 anos chamavam ele de pai, para você ver o carinho que ele tinha com os meninos. E ele tinha uma credibilidade muito grande com os pais, porque ele não tinha vício nenhum, não fumava, não bebia, não era de farra. Era um garoto de 18 anos com uma responsabilidade muito grande. Os pais gostavam muito dele, então é uma perda muito grande para nós", lamentou Alexandre.
A vítima trabalhava em uma equipe de preparação e formação de atletas e estava entre os responsáveis pelos meninos durante a viagem. "O Diogo era um garoto especial para os garotos mais novos, ele tinha um carisma muito grande. Ele tinha um sonho de ajudar os garotos dele. Era um garoto com sonhos, o desejo dele era que um dos garotos dele virassem jogadores de futebol profissionais. Era um garoto muito querido", desabafou o tio.
Mais de 200 pessoas passaram pelo local do velório com faixas e cartazes em homenagem a vítima, segundo Alexandre, e as partidas que aconteceriam nas praças do bairro nos próximos dias foram suspensas. O corpo do jovem será sepultado às 14h, no Cemitério Nossa Senhora de Fátima, conhecido como Cemitério da Taquara, em Imbariê, também em Duque de Caxias. "Ele respirava futebol", comentou outro tio, Rodrigo Marques.
'Aliviado, mas com um peso pelos meus amigos'
Acompanhado do pai, Gustavo Luiz, de 13 anos, esteve no velório de Diogo na manhã de hoje. O adolescente é jogador do Esporte Clube Vila Maria Helena e um dos sobreviventes do acidente. Ainda com curativos e marcas de machucados no rosto, o menino desabafou que está aliviado por não ter morrido, mas que sente um peso pelos amigos que não resistiram e que ainda estão hospitalizados. Ele contou dormia quando houve a queda e que conseguiu sair do ônibus sozinho.
"Fomos campeões da competição e a volta não foi legal, foi terrível. Consegui dormir e quando eu acordei, o ônibus estava tombando, já, e eu desmaiei. Só acordei quando a gente estava lá embaixo na ponte. Eu consegui sair sozinho, foi difícil (descer do ônibus), e inclusive estava pingando água em mim, fiquei com medo de ser gasolina. Eu me desesperei, só que graças a Deus, eu consegui sair", contou o adolescente.
Assim como outro sobrevivente já havia relatado, Gustavo Luiz contou que o motorista seguia em alta velocidade, mesmo após pedidos para que dirigisse mais devagar. "Ele estava correndo muito, avisamos mais de dez vezes para ele andar mais devagar, mas ele não parava. Parava e voltava a andar rápido. Estou aliviado, mas com um peso pelos meus amigos que estão lá (em Minas Gerais) ainda, alguns faleceram", lamentou o atleta.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) explicou que o veículo perdeu o controle e saiu da pista, capotando sob a ponte, e em seguida caiu nas margens de um riacho. Além das mortes de Diogo, Andrey Viana da Costa, de 15 anos, Thyago Ramos de Oliveira, 15, e Kaylon da Silva Paixão, 13, outras 28 pessoas ficaram feridas e alguns ficaram presos nas ferragens. As vítimas foram socorridas pelos bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e encaminhadas ao Hospital São Salvador, em Além Paraíba.
Não há informações sobre as identidades e os estados de saúde delas. Uma equipe da Defesa Civil de Caxias e o secretário municipal de Comunicação Social, Aroldo Brito, seguiram para a cidade mineira, onde percorrerão alguns hospitais com o objetivo de prestar assistência às vítimas do acidente. A prefeitura informou que está disponibilizando uma van para buscar os atletas que já receberam alta. No veículo, dois familiares acompanharão o trajeto.
Além disso, uma equipe de trauma no plantão do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes e ambulâncias do SAMU já em prontidão para possíveis transferências dos feridos. Em nota a prefeitura disse que "lamenta profundamente o ocorrido" e que "está acompanhando de perto os trâmites do translado dos óbitos e os sepultamentos das vítimas".
Em publicações nas redes sociais, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que instaurou um inquérito para investigar o acidente e que alguns dos feridos já prestaram depoimento. "O motorista, assim que possível, também será ouvido". Ainda de acordo com a instituição, a perícia dos corpos foi feita na tarde de ontem e foi constatado que a causa da morte, segundo médico-legista, são as múltiplas lesões nos corpos em função do trauma provocado pela batida.
Despedidas acontecem nesta terça-feira
O velório de Andrey está previsto para às 15h, no Cemitério Nossa Senhora das Graças, conhecido como Tanque do Anil, em Duque de Caxias. Mais conhecido como "Dreyzinho", ele mostrava em suas redes sociais a paixão pelo futebol e exibia, com orgulho, os troféus já conquistados. Em sua última publicação, o jovem postou uma foto segurando o troféu que o time ganhou no torneio em Ubaporanga, avisando que estava a caminho do Rio de Janeiro. O corpo da vítima será sepultado às 17h.
O corpo de Kaylon será velado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Parque Paranhos, em Piabetá, no município de Magé, na Baixada Fluminense, onde ele morava com a família. Considerado uma das promessas do futebol da cidade, ele era conhecido por ser um adolescente feliz e que tinha o sonho de ser jogador profissional. O sepultamento está previsto para acontecer às 16h, no Cemitério de Bongabá.
O enterro de Thyago também deve acontecer em Caxias, mas ainda não há data prevista. Um dos destaques do clube, o jovem, segundo os organizadores do torneio, marcou dois gols no jogo da estreia. Ele também postou sua última foto em Minas Gerais, jogando bola. De acordo com familiares, a vítima sonhava em se tornar jogador profissional.
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