Rio de Paz faz homenagem às crianças e aos policiais mortos pela violência no estado. Placas colocadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio de Janeiro. Nesta manhã. (7).Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Em um momento em que a Zona Oeste vive uma guerra entre traficantes e milicianos, a organização homenageou as mais recentes vítimas da violência do Rio: as crianças Juan Davi, de 11 anos, Rafaelly, de 10, e os policiais militares Marcos Felipe, Leonardo, de 36, José Sant'Anna, de 37, e Caio Cezar, de 31.
Os jovens morreram vítimas de balas perdidas, enquanto os policiais foram assassinados em serviço, durante confrontos em comunidades da cidade. Além das novas homenagens, também foram recolocadas placas antigas que foram arrancadas ou que sofreram com a ação do tempo.
Antônio Carlos Costa, fundador da organização, ressaltou a importância do memorial estar localizado em um dos mais famosos pontos da cidade, a vista de diversas pessoas que podem fazer a diferença na luta contra a violência urbana.
"Nós estamos lembrando a todos, em um cartão postal do Rio, onde passam inúmeros formadores de opinião pública, que policiais e crianças estão morrendo na nossa cidade há anos. Enfrentamos um problema crônico, que demanda uma ampla conjugação de esforços de todos os setores da sociedade juntamente com o poder público a fim de colocarmos um ponto final a esse banho de sangue"
Segundo o presidente da instituição, o lado mais cruel da violência que atinge os cariocas e fluminenses é a morte de jovens. Para Antônio, grande parte dos casos de bala perdida fica sem solução e as famílias das vítimas não recebem amparo do governo.
"O lado mais hediondo da violência na nossa cidade é a morte de crianças por bala perdida. São meninos e meninas pobres, na sua maioria, moradores de favela. Esses crimes em geral não tem sua autoria elucidada, as famílias permanecem desassistidas pelo poder público, não há amparo financeiro e psicológico. Esses pais ficam devastados, com dificuldade de voltar ao mercado de trabalho em razão dessa ferida aberta no peito. Não se tem política pública para isso"
Costa foi categórico ao afirma que a única solução para o problema da violência urbana passa por uma reestruturação das forças do estado. Para complementar, ele frisou que todo o processo precisa ser feito com transparência e as operações da polícia devem ser parte de um plano maior e eficiente.
"Nós precisamos de uma reforma da polícia. Ampla, profunda e radical, de modo que nós tenhamos mais policiais mais bem remunerados, treinados, supervisionados, com um plano de segurança pública com metas mensuráveis, tornadas públicas, dentro de um contexto de muita transparência e prestação de contas à sociedade. Cada operação tem que estar inserida dentro de um plano maior, ela tem que se justificar, não pode ser um espasmo. Não pode ser algo cujo os efeitos colaterais não justifiquem a ação. Não há prisão de bandido que justifique a morte de civil em operação policial".
O presidente também apontou que é necessário rever a política de criminalização e guerra às drogas, que, para ele, não faz sentido pois não é eficaz e causa diversos efeitos colaterais na cidade. Segundo Antônio, a classe média tem papel fundamental na luta pela mudança.
"Nós precisamos discutir a guerra às drogas, nós precisamos rediscutir essa guerra, não faz sentido continuar nessa batalha que não diminuiu o consumo e só tem servido para superlotar os nossos presídios e fazer com que suja um dinheiro sujo, fruto do tráfico e acaba irrigando campanhas, corrompendo agentes do poder público e, lá na ponta, você deixa o usuário a mercê do crime organizado. Precisa haver um repúdio uníssono na sociedade, em especial da classe média, de modo que, cada morte dessa, seja por todos pranteada, a todos cause revolta e a expressão pública da indignação, de modo que o estado seja levado a agir".
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