Rio - Policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) prenderam, na manhã desta segunda-feira (8), cinco pessoas suspeitas de realizar procedimentos estéticos ilegais em clínicas do Rio. Segundo a Polícia Civil, os estabelecimentos realizavam intervenções, como lipoaspiração, mamoplastia e mastopexia sem estrutura para eventuais intercorrências. Os agentes cumprem mandados de prisão nos bairros de Realengo e Parque Anchieta, e nos municípios de Duque de Caxias e Rio das Ostras.
De acordo com as investigações, a quadrilha utilizava influenciadores digitais que captavam vítimas para realizarem procedimentos estéticos em clínicas clandestinas na Baixada Fluminense. As cirurgias, segundo a polícia, eram feitas por pessoas não habilitadas, que se passavam por cirurgiões plásticos e anestesistas. Almir Paixão Junior, de 35 anos, por exemplo, é eletricista e atuava nos procedimentos médicos da clínica Iguaçu Plásticas Day.
Em novembro de 2023, uma vítima realizou um procedimento de lipoaspiração e teve sequelas, tendo que ficar internada em estado grave no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes. No mesmo mês, uma ação conjunta entre a Decon, fiscais do Conselho Regional de Odontologia (CRO) e agentes da Vigilância Sanitária de Nova Iguaçu (Suvisa) interditou a clínica Iguaçu Plásticas Day, que funcionava irregularmente em Nova Iguaçu, onde eram realizados procedimentos estéticos sem Licença Sanitária.
Na ação, os agentes prenderam em flagrante o médico peruano Jaime Javier Garcia Caro, de 44 anos, e o colombiano Jean Paul Perez Barraza, de 29, que se passava por anestesista, mas não possuía inscrição no Conselho Regional de Medicina (CRM). O casal responsável pela clínica, o eletricista Almir, e Rafaella da Silveira, 34, também foram presos.
Os dois foram flagrados pelos policiais no momento que iniciavam um procedimento de lipoaspiração, em uma mulher de 29 anos. Na operação desta segunda-feira, Jaime e Jean, que estavam em liberdade, foram presos novamente em suas residências.
Segundo o Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), há procedimentos abertos no nome de Jaime que correm em sigilo. As punições previstas em lei vão de advertência até cassação definitiva do registro.
Conforme o Conselho Federal de Medicina (CFM), quem obteve diplomas de medicina no exterior só pode exercer a profissão após realizar a prova “Revalida”, do Ministério da Educação, e se inscrever no Conselho Regional de Medicina do seu estado. Sem esses passos, o indivíduo não tem a situação reconhecida no país e pode responder pelo crime de exercício ilegal da medicina, através da Justiça Comum.
Já Antônia Gerda Pinto, de 55 anos, foi presa enquanto atendia pacientes numa clínica no centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo a polícia, a mulher foi a responsável por atrair vítimas para realizar procedimentos estéticos.
Antônia, Rafaella e Almir não possuem registro no Cremerj, de acordo com a própria instituição.
Rafaella também era proprietária da clínica Estética Beauty Corpus, que já havia sido interditada em junho de 2022. De acordo com as investigações, Almir, que não possuía formação médica, atuava irregularmente nos procedimentos e era conhecido como "Doutor Júnior".
Na época, o advogado Thiago Soares, que representava Jaime Caro e a clínica estética, disse que as acusações eram levianas. Procurado, Soares afirmou que não trabalha mais no caso desde junho do ano passado.
Os suspeitos responderão por associação criminosa, exercício ilegal da medicina e lesão corporal. Jaime, Jean, Rafaella, Almir e Antônia foram levados para a Decon, onde ficarão à disposição da Justiça.
O DIA tentou contato com a Iguaçu Plásticas Day, mas não obteve resposta. A reportagem ainda não conseguiu localizar a defesa dos cinco presos. O espaço segue aberto para manifestação.
Relembre outros casos
Em março do ano passado, Lindama Benjamin de Oliveira, de 58 anos, morreu após realizar três cirurgias estéticas na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. À época, a mulher foi à Clínica Vitée Cirurgia Plástica e Estética para realizar os procedimentos estéticos com o médico Heriberto Ivan Arias Camacho. Segundo a família, as cirurgias custaram R$ 16 mil e a clínica, onde ela permaneceu após os procedimentos, não tinha CTI e nem recursos para socorrer a paciente, caso houvesse consequências.
A defesa do médico, por meio de nota, se solidarizou com a família e garantiu que a equipe médica da clínica aplicou todas as técnicas possíveis para reverter o quadro de Lindama.
Em setembro, Silvia de Oliveira Martins, de 40 anos, conhecida por advogar para o MC Poze do Rodo, morreu depois de ser submetida à procedimentos estéticos. A advogada sofreu complicações, após fazer uma lipoaspiração HD na clínica da médica Geysa Leal Corrêa. A declaração de óbito indicou que a causa da morte foi um "choque hemorrágico, devido a um tromboembolismo pulmonar, em razão de lipoaspiração recente".
À época, a reportagem procurou a médica Geysa Leal Corrêa, mas não obteve resposta. Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que não comenta casos em instância de julgamento em grau de recurso com intuito de manter sua isenção. "Denúncias envolvendo médicos podem ser feitas junto ao Conselho Regional de Medicina onde ocorreu a situação", explicou.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
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