Anielle Franco, Luyara Santos, Marinete da Silva, Antônio Francisco e a vereadora Mônica BenícioArquivo / Agência O Dia

Rio - Assinada pela mãe, pai, irmã e filha de Marielle Franco, a nota oficial da família, relacionada a prisão dos acusados de mandar matar a vereadora, afirma que este domingo (24) é um "dia histórico para a democracia brasileira". No início da manhã, a Polícia Federal prendeu o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e Chiquinho Brazão (União Brasil), deputado federal do Rio.
"Neste Domingo de Ramos, dia de celebrar nossa fé e a luta por justiça, acordamos com a notícia da operação. É um dia histórico para a democracia brasileira e um passo importante na busca por justiça no caso de Marielle e Anderson. São mais de seis anos esperando respostas sobre quem mandou matar Marielle e o por quê?", inicia a carta, assinada por Marinete da Silva, Antônio Francisco, Anielle Franco e Luyara Santos.

"Marielle era uma parlamentar eleita com mais de 46 mil votos e tinha uma atuação voltada à garantia de direitos para a população fluminense, com atenção para aquelas e aqueles que comumente tem seus direitos fundamentais violados: moradores das favelas e periferias, pessoas negras, mulheres e trabalhadores informais. E é por essa razão que sua luta não termina com seu bárbaro assassinato e de seu motorista, Anderson", continua a nota.

Obtido pelo DIA, o comunicado ainda ressalta a importância da continuação das investigações. "É importante não perdermos de vista que, até o momento, ninguém foi responsabilizado por esse crime, entre os apontados como executores e mandantes. Todas as prisões são preventivas e ainda há muita coisa a ser investigada e elucidada, principalmente sobre o esclarecimento das motivações de um crime tão cruel".
"Neste dia de dor e esperança, nossa família segue lutando por justiça. Nada trará nossa Mari de volta, mas estamos a um passo mais perto das respostas que tanto almejamos", finaliza a família Franco.
PF prende três acusados de mandar matar Marielle
Três acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes foram presos, na manhã deste domingo, em uma ação conjunta da Polícia Federal, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Procuradoria Geral da República (PGR). Domingos e Chiquinho Brazão, além de Rivaldo Barbosa, foram os alvos da operação Murder Inc..
Em entrevista à 'Globonews', da TV Globo, a mãe de Marielle Franco, Marinete da Silva, disse que a prisão de Rivaldo Barbosa, acusado de receber propina para tentar obstruir as investigações do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes, foi uma "surpresa". "A maior surpresa nisso tudo é o nome do Rivaldo, pois minha filha confiava nele e no trabalho dele. Ele falava que era uma questão de honra elucidar o caso. Um domingo para fazer justiça", afirmou Marinete.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também comentou sobre as prisões. "Temos uma sensação de vitória, mas ainda não acabou. Para a gente, tendo uma surpresa com o nome do Rivaldo, vem como uma prorrogação, quando ainda tem jogo, o juiz não apitou e temos que esperar", disse a irmã de Marielle, ao programa 'Conexão Globonews'.
Nas redes sociais, o ex-deputado e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo (PT), afirmou que conversou com Barbosa quando soube do assassinato. "Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e Anderson. Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte, junto comigo. Agora, Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem", escreveu Freixo.
Relembre o caso
Preso desde 2019, o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, citou o nome do deputado federal Chiquinho Brazão e do irmão, Domingos Brazão, em sua delação premiada, homologada nesta terça-feira (19), pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma das principais linhas de investigação sobre o caso está relacionada a uma disputa por terrenos na Zona Oeste. Em depoimento, Lessa teria informado que Marielle virou alvo depois de defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos, como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
De acordo com as investigações, o mandante do crime que deu fim a vida de Marielle e Anderson estaria buscando a regularização de um condomínio em Jacarepaguá sem considerar o critério de área de interesse social. O objetivo seria transformar a propriedade em especulação imobiliária.
Seis anos após a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes as investigações do caso seguem em andamento para descobrir o mandante e a motivação para os assassinatos. No início do mês, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA), pediu à Justiça que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, seja julgado por júri popular.
Os investigadores apontam que Suel participou do plano do assassinato e monitorou a rotina da vereadora, além de ter ajudado os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, atirador e motorista respectivamente, no desmanche do carro usado na emboscada e do sumiço das cápsulas da munição. Lessa e Queiroz também vão a júri popular.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Marcela Ribeiro