Enterro aconteceu no Cemitério de Bongaba, em Magé, na Baixada FluminenseArquivo / Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - José Carlos da Silva Miranda, de 64 anos, conhecido como Mirandão, que morreu após ser baleado em um confronto entre criminosos e policiais militares na Linha Amarela, foi enterrado, na tarde desta quarta-feira (19), no Cemitério de Bongaba, em Magé, na Baixada Fluminense.
O homem estava sentado na parte de trás de um ônibus da linha 315 (Central x Recreio) quando foi baleado na cabeça no início da manhã desta terça-feira (18), próximo à saída 7 da Linha Amarela, na altura do bairro de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio. José Carlos trabalhava como montador de esquadrias de alumínio em uma empresa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Ele seguia para o trabalho no momento em que foi atingido.
A vítima morava em Duque de Caxias, também na Baixada, e acordava de madrugada todos os dias para ir ao trabalho. Ele também morou no bairro de Piabetá, em Magé, onde tinha familiares e diversos amigos. O homem gostava de jogar futebol e foi assim que conquistou o carinho e a amizade de outras pessoas.
"Grande ser humano. Amigo de todos. Tive o prazer e o privilégio de jogar com ele e me ajudou muito no meu posicionamento dentro de campo. Descanse em paz, meu amigo Mirandão. Vai fazer muita falta meu 'cumpade', como você gostava de chamar seus amigos", lamentou o amigo João Dias.
Uma outra amiga contou que José foi uma pessoa especial que acompanhou com carinho o crescimento de diversos moradores da região do Parque Paranhos, em Magé. 
"Eu e todos que conhecem sua história choram a sua perca, meu amigo. Hoje, saímos sem saber se retornamos. Só estamos aqui para chorar cada ser que perdemos por ser vítima da violência, de bala perdida, e dos que não tem um pingo de humanidade e amor ao próximo ao sair usando armas sem saber quem atirar. Mirandão não só acompanhou minha infância e adolescência como acompanhou o nascimento e desenvolvimento de muitos aqui em nosso Parque Paranhos. Só digo que dói lhe dizer adeus, meu amigo. Saiba que nos fará muita falta", comentou.
Familiares estiveram nesta terça-feira (18) no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para liberarem o corpo da vítima. Antônio Cláudio de Souza, irmão de José Carlos, lamentou a perda do homem e comentou sobre a falta de segurança que assola o Rio de Janeiro.
"A rapaziada toda do trabalho gostava dele. Ele foi um irmão muito querido. Uma perda muito significante e dolorida para a família. Infelizmente, estamos vivendo uma situação que a gente tem que pedir a Deus a todo momento que nos guarde, nos guie e nos dê proteção. Está muito difícil o Rio de Janeiro", disse.
José era casado e não deixou filhos.
Despedida em Cordovil
Deborah Vilas Boas, de 27 anos, outra vítima do confronto na Linha Amarela, também foi sepultada nesta quarta-feira (19). O sepultamento aconteceu no Cemitério Vertical Memorial do Rio, em Cordovil, na Zona Norte do Rio.
Ao DIA, um tio do marido da vítima, Waldir Guimarães, revelou que a jovem tinha voltado da licença-maternidade há cerca de duas semanas, e que sua filha, de apenas sete meses, chora ao sentir falta da mãe.
"Ela era uma mãe daquelas que vivia 24 horas com a filha, fazendo aniversário todo mês. Ela era alegria em pessoa, estava sempre sorrindo e tiraram essa alegria da gente. Ela tinha acabado de se formar, na empresa ela tinha uma carreira, já estava 10 anos lá, profissional muito dedicada e tudo isso foi embora. Ela não estava mais amamentando, mas a bebêzinha, apesar de ter apenas sete meses, já chora e olha como se tivesse procurando a mãe que estava sempre presente, porque tempo todo elas estavam juntas, e isso tudo foi por água abaixo", lamentou.
Para um primo da vítima, Ubirajara Vilas Boas, ainda é difícil acreditar em tamanha tragédia. "Até agora não caiu a ficha, é muita dor! Ela tem uma criança de sete meses que hoje vai ficar sem a mãe. Eu não sei como vai ficar a mãe dela, a dor de perder um filho é muito grande. Estamos muito tristes neste momento. A gente não acredita mais em Justiça, porque toda semana acontece, infelizmente ela não vai ser a última, a gente só acredita quando acontece com a nossa família, mas vemos reportagem toda semana em que acontece alguma coisa com um trabalhador em um ponto de ônibus", contou.
Relembre o caso
José Carlos e Deborah morreram na manhã desta terça-feira (18) depois que foram baleados durante uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos na saída 7 da Linha Amarela, na altura de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio.
Segundo a Polícia Militar, agentes do 22º BPM (Maré) observaram criminosos em um veículo que tentavam roubar uma motocicleta no sentido Barra da Tijuca. Ao intervirem no assalto, houve confronto e os suspeitos atiraram contra os policiais e na direção do ponto de ônibus.
Uma câmera de segurança gravou os criminosos chegando em um carro e abordando as duas pessoas em uma moto. Os suspeitos descem do veículo e rendem as vítimas. Logo depois, um policial militar aparece, saca sua arma e atira contra o grupo, gerando um confronto. Alguns suspeitos conseguem fugir, mas um deles é baleado. Toda a situação aconteceu em menos de um minuto.

As mortes estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A especializada busca pelas identificações e pelo paradeiro dos suspeitos que fugiram do local logo após a troca de tiros. Um deles, identificado como Alexsandro de Andrade Venâncio, de 24 anos, foi baleado ainda no local e está preso sob custódia.

Aos policiais, o suspeito revelou que é da Mangueira, Zona Norte, e que estava na companhia de outros três criminosos conhecidos como MD, Coroa e Diretor. Um deles seria morador da comunidade do Arará, em Benfica, também na Zona Norte do Rio.
O homem cumpria pena de um ano e oito meses, em regime aberto, por tráfico de drogas. Ele foi condenado em outubro de 2022 pelo crime e sua pena era consistente na prestação de serviços à comunidade, em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.
Ainda segundo a Polícia Civil, a perícia foi realizada nos pontos onde Deborah e José Carlos morreram, além da área onde aconteceu o tiroteio. As duas armas dos suspeitos apreendidas na ação e uma do policial militar envolvido no confronto passarão por uma perícia para saber de onde partiu os disparos que acertaram as vítimas. As diligências estão em andamento para elucidar as circunstâncias do crime e esclarecer todos os fatos.