Um dos presos durante operação da PM no Complexo de IsraelReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - Um intenso tiroteio durante uma operação da Polícia Militar no Complexo de Israel, na Zona Norte, na manhã desta segunda-feira (22), provocou o fechamento da Avenida Brasil, no sentido Centro, altura de Cordovil, e afetou a circulação de trens na região. Além disso, clínicas da família tiveram o funcionamento interrompido. Segundo relatos de moradores, os confrontos iniciaram ainda na noite de domingo (21), devido a uma guerra entre traficantes rivais. 
Até o momento, nove criminosos foram presos. Com eles, três fuzis, duas pistolas, duas granadas, drogas e um rádio comunicador foram apreendidos.
Em meio ao fogo cruzado, imagens que circulam nas redes sociais mostraram passageiros de ônibus abaixados, enquanto motoristas desciam dos carros e se jogavam no chão para se protegerem dos tiros. A interdição na Avenida Brasil durou apenas alguns minutos, sendo reaberta pouco antes das 8h.
De acordo com a SuperVia, a circulação do ramal de Cordovil ficou entre Central do Brasil - Penha e Duque de Caxias - Gramacho. Enquanto as estações Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral ficaram fechadas para embarque e desembarque por cerca de uma hora. No momento, a circulação está em processo de normalização. Já o trecho Gramacho - Saracuruna ainda opera com intervalo médio de 50 minutos.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, devido ao tiroteio, o Centro Municipal de Saúde (CMS) José Breves dos Santos e as clínicas da família (CF) Nilda Campos e Heitor dos Prazeres acionaram o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, interromperam o funcionamento na manhã desta segunda-feira (22).

Já o CMS Iraci Lopes e a CF Eidimir Thiago de Souza mantêm o atendimento. Apenas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas.
Na região, agentes do 16º BPM (Olaria) atuam com apoio de batalhões do 1° Comando de Policiamento de Área (1º CPA), para evitar a guerra entre criminosos e retirada de barricadas.
Terror
Ainda nas redes sociais, moradores relatam que os confrontos se estendem há quase uma semana. No X, antigo Twitter, Cordovil e Brás de Pina chegaram a virar um dos assuntos mais comentados após relatos sobre a falta de segurança na região.

"Que isso mano? Os caras simplesmente meteram quatro dias de guerra intensa, mandam e desmandam no bairro inteiro, acabando com a rotina do trabalhador e escancarando que Cordovil já estava abandonado faz tempo", disse um comentário.

"Me entristece saber que nada será feito sobre essa situação que Cordovil e as proximidades. O Rio todo vivendo isso ou muito pior. Nós só seremos mais um", lamentou outra.

"Sério que Cordovil virou isso? Toda madrugada vamos ter que aturar tiro?", questionou outro.

"Não tenho mais forças para morar em Cordovil, tu sai pra rua com a preocupação de tá perto de casa para poder entrar correndo, porque é tiro a qualquer momento, ou então você nem sai por esse motivo, meu Deus, o que se tornou esse lugar?", disse mais um.

Na última quarta-feira (17) um intenso tiroteio foi registrado nas comunidades do Quitungo e Guaporé, entre os bairros Brás de Pina e Cordovil, na Zona Norte. Na ocasião, imagens que circularam nas redes sociais mostraram uma sequência de rajadas de tiros na região.

No dia seguinte, mais um confronto foi registrado, mas desta vez, na comunidade Cinco Bocas, também em Brás de Pina.

Na sexta-feira (19), mais um tiroteio ocorreu na região, afetando a circulação de trens. Segundo a PM, bandidos tentaram roubar um carro na Cidade Alta, em Cordovil, quando foram surpreendidos pelos agentes e houve confronto. No local, veículos de moradores chegaram a ser atingidos pelos disparos.

Já na madrugada de sábado (20), a Avenida Brasil chegou a ser interditada na altura da comunidade Cinco Bocas por conta dos confrontos que aconteciam na comunidade. Segundo moradores, o tiroteio foi ouvido também nas favelas vizinhas da Tinta, Quitungo e Dourado. Os confrontos se estenderam ainda na manhã de domingo (21). 

Complexo de Israel
O Complexo de Israel é formado por cinco comunidades: Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-pau. O chefe do tráfico da região é Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, apontado também como líder da facção Terceiro Comando Puro (TCP). Contra ele, há 9 mandados de prisão em aberto, a maioria por tráfico de drogas, homicídio e ocultação de cadáver.
O traficante é conhecido por sua intolerância contra praticantes de religiões de matriz africana e teria mandado fechar igrejas católicas da comunidade início do mês.
As regiões sofrem com disputa entre criminosos do TCP e do Comando Vermelho (CV), que buscam expandir seu território nas comunidades.