Operação de demolição de prédios na Maré chega ao sexto dia consecutivoReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Policiais Civis e agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), com apoio da PM, realizam, neste sábado (24), o sexto dia consecutivo de operação no Parque União e Nova Holanda, comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte.
O principal objetivo é dar continuidade às demolições de um condomínio de luxo com 40 imóveis construídos pelo crime organizado. No total, este já é o oitavo dia de ações na região.

Segundo a Polícia Civil, ao longo desta semana, 32 prédios foram descaracterizados, somando mais de 160 unidades, incluindo apartamentos e lojas. "A continuidade da ação é importante não apenas para concluir as demolições, mas também para garantir a integridade dos moradores da comunidade, já que essas construções geram escombros", ressaltou a corporação, em nota.

No entanto, as ações têm causado revolta entre os moradores. Nesta sexta-feira (23), mais de mil pessoas ocuparam a Avenida Brigadeiro Trompowski com faixas pedindo paz e afirmando que os apartamentos demolidos são propriedades da população local, e não do tráfico. Os comércios locais ficaram fechados.
Em paralelo, também nesta sexta, profissionais de educação de escolas municipais da Maré protestaram em frente à prefeitura do Rio, pedindo a suspensão das aulas, já que somente as atividades das unidades estaduais haviam sido suspensas. Eles alegaram que o protocolo de segurança não foi mantido.
Mais de 9 mil estudantes afetados

Com as operações sequenciais, escolas e clínicas da família tiveram o funcionamento afetado ao longo da semana. Duas unidades estaduais de ensino que atendem 1.424 alunos da região não abrem desde segunda-feira (19), conforme informou a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc).

Já os colégios municipais retomaram as aulas na quinta-feira (22), após 24 unidades ficarem fechadas na terça (20) e na quarta (21). A ONG Redes Maré estima que, ao todo, 9 mil alunos foram prejudicados.

Com relação ao funcionamento das unidades médicas neste sábado, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ainda não retornou.
Tráfico lava dinheiro com as construções

As investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) apontam que o Parque União vem sendo utilizado há anos, por meio da construção e abertura de empreendimentos, para lavar o dinheiro acumulado com o comércio de drogas. Ainda conforme a Civil, no esquema, há a participação de funcionários de órgãos representativos da região, como a própria Associação de Moradores.

"As ações revelaram uma estratégia da facção criminosa de colocar ao menos uma pessoa em cada unidade habitacional para fingir que são moradores e dificultar as demolições. Na primeira fase da operação, cerca de 90% dos prédios estavam vazios", afirma a corporação.

Além da demolição, as ações resultaram na recuperação de mais de dez veículos que, segundo a Civil, são produtos de roubo ou furto, e na apreensão de grande quantidade de entorpecentes, como maconha, cocaína, crack e ecstasy, que estão sendo contabilizados.

Também ao longo da semana, foram apreendidos um fuzil, três pistolas, uma espingarda, um silenciador, seis bombas, 22 carregadores e munições. Os policiais ainda encontraram material roubado, incluindo 500 caixas de produtos de beleza, 37 galões e latões de tinta e peças de carros.
Imóveis avaliados em R$ 5 milhões
No início das operações, os agentes localizaram imóveis de luxo que eram usados por traficantes. Dentre eles, duas coberturas, avaliadas em R$ 5 milhões, chamaram a atenção. Uma delas tinha dois andares, acabamento em mármore e porcelanato, além de uma grande área de lazer, com churrasqueira e uma piscina de 40 mil litros de água. O imóvel possuía vista privilegiada para a comunidade, para um campo de futebol e uma área onde eram realizadas festas.

Já a segunda era um quadriplex com acabamento de luxo, jacuzzi e closet, escadas com lâmpadas de led automático, além de uma piscina com cascata e churrasqueira. No térreo da unidade os agentes encontraram um quarto com dezenas de caixas de vinho e champanhe.
A comunidade tem como principal chefe o traficante Jorge Luís Moura Barbosa, conhecido como Alvarenga. Contra ele, há vários mandados de prisão em aberto. Além de ser considerado integrante do denominado Conselho do Comando Vermelho, ele também é acusado de participar ativamente das decisões que determinam o rumo da facção, como invasões de territórios rivais para expansão dos domínios e exploração ilegal econômica. Alvarenga tem 86 anotações criminais e se ⁠figura como autor em 175 inquéritos policiais.