Lourival Fatica confessou ter matado Anic Herdy com um soco no pescoçoReprodução
Caso Anic: defesa de assassino confesso aponta suposto abuso como um dos motivos para ordem do crime
Lourival Fatica contou que Benjamim Herdy teria mandado matar a companheira
Rio - A defesa de Lourival Correa Netto Fatica, assassino confesso de Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, concedeu entrevista, na manhã desta sexta-feira (27), para apontar os motivos que teriam levado Benjamim Cordeiro Herdy, de 78 anos, a ser o mandante do crime. Entre uma das causas, estaria um suposto abuso da mulher sobre a filha do casal.
Durante a coletiva, a advogada Flavia Froes disse que, pelo relato de Lourival, Anic e o marido teriam brigas constantes, inclusive com ela o agredindo. A mulher também teria ameaçado de morte o marido. Lourival ainda apontou que Anic teria descoberto que Benjamim fez usucapião de um terreno o qual ela teria direito, o que teria a incomodado.
Ainda segundo a defesa do assassino, Lourival disse que Benjamim teria contado a ele que Anic praticara abusos contra a filha do casal, o que teria motivado a ordem para matá-la. Lourival apontou o idoso como mandante do crime por meio de uma carta entregue à sua defesa, divulgada nesta terça-feira (24).
Em audiência na 2ª Vara Criminal de Petrópolis, o criminoso contou que uma câmera de segurança da sala da casa de Benjamim poderia mostrar conversas entre eles, que provam que o idoso seria o mandante do crime. Nesta quarta-feira (25), agentes da 105ª DP (Petrópolis) estiveram na residência para apreender o chip de memória da câmera em busca de adquirir essas gravações.
O corpo de Anic Herdy foi encontrado enterrado e concretado na casa de Lourival, em Teresópolis, na Região Serrana, na noite desta quarta. O cadáver estava com uma algema no pulso, que teria sido colocada em um hotel de Itaipava, em Petrópolis, também na Região Serrana, em 29 de fevereiro, data do desaparecimento e do assassinato da vítima, conforme apontou o próprio Lourival.
Nesta quinta-feira (26), peritos do Instituto Médico Legal (IML) comprovaram, através de uma perícia em odontologia legal, que o corpo encontrado é mesmo de Anic Herdy.
Mandante do crime
Em entrevista coletiva na terça-feira (24), os advogados de Lourival informaram que ele buscou Anic na saída de um shopping em Petrópolis, no dia 29 de fevereiro. Após o encontro, ele a levou até um hotel em Itaipava, onde, de acordo com a defesa, a matou com um golpe no pescoço. Em seguida, o acusado colocou o corpo da vítima em um carro e o transportou até sua residência, em Teresópolis.
De acordo com os advogados, com base no relato de Lourival, Benjamim teria ordenado a morte de Anic em janeiro e o falso sequestro seria uma maneira de encobrir o crime. A advogada afirmou que o plano elaborado por Benjamim e Lourival não foi bem-sucedido porque a filha do casal gravou uma conversa comprometedora entre o pai e o principal acusado. Nesse diálogo, eles teriam tentado difamar Anic e enganar a filha, fazendo-a acreditar na versão de que a própria mãe havia forjado o sequestro para fugir com um amante.
A defesa revelou, ainda, que Benjamim teria proposto a Lourival que assumisse a culpa pelo crime sozinho, em troca de uma recompensa financeira. No entanto, quando seus familiares foram indiciados, Lourival se viu sem outra opção a não ser revelar a verdade. A decisão foi tomada para evitar uma condenação, considerada injusta, dos filhos e de Rebeca Azevedo dos Santos, mulher de Lourival, já que, de acordo com as investigações da polícia, eles foram os beneficiários dos 4,6 milhões de reais pagos pelo falso sequestro.
Procurado pelo DIA, o advogado João Vitor Ramos, que representa Benjamim e a família de Anic, disse que os familiares entenderam a entrevista como uma ato de desespero e crueldade. Segundo a defesa, Lourival mudou a sua versão, após a conclusão das investigações, para desestabilizar a família da vítima. Ramos destacou que houve uma falsa imputação de crime a Benjamim realizada por Lourival e, como consequência da declarações formuladas, o homem e seus procuradores serão demandados na esfera cível, criminal e disciplinar.
A reportagem entrou em contato novamente com o advogado, nesta sexta-feira (27), para comentar sobre os supostos motivos que teriam levado Benjamim a mandar matar a mulher, mas ainda não teve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
Relembre o caso
Anic desapareceu em 29 de fevereiro, mas o sumiço da advogada só foi registrado em 14 de março, porque Lourival orientou o marido da vítima a não procurar as autoridades. O acusado se apresentou à família como policial federal e passou a ser o responsável por fazer a segurança do casal e dos filhos. Ele tinha acesso irrestrito a cartões de crédito e senhas da família.
Nesse intervalo de tempo, Benjamim recebia ameaças por meio de mensagens de texto dos supostos sequestradores e pedidos de resgate. Ao todo, foi pedido R$ 4,6 milhões, posteriormente pagos em dinheiro e em moedas de bitcoins.
Uma mensagem em tom de despedida foi enviada pelo celular da advogada, uma hora após o pagamento. O texto diz que a própria Anic orquestrou o sequestro para receber o dinheiro e que ela optou por ir embora do Brasil com um suposto amante, que seria policial civil.
Porém, as investigações apontaram que Lourival, os filhos e sua amante foram os beneficiários da quantia. Eles compraram um carro de luxo avaliado em R$ 500 mil, uma motocicleta no valor aproximado de R$ 30 mil e 950 celulares, que custaram cerca de US$ 153,9 mil.
Após uma longa investigação, a 105ª DP (Petrópolis) denunciou Lourival, a amante dele e os filhos, Henrique Vieira Fatica e Maria Luíza Vieira Fatica, por envolvimento no crime.
Em 30 de agosto, a defesa de Lourival, já réu no caso de Anic Herdy, afirmou em entrevista coletiva que ele confessou ter matado a advogada. Durante coletiva, a advogada informou que a Anic está morta desde o dia do desaparecimento, em 29 de fevereiro, quando foi vista pela última vez em um shopping de Petrópolis, na Região Serrana. Ela detalhou ainda que não houve sequestro e que a advogada entrou no carro de Lourival, com quem tinha um relacionamento extraconjugal, por espontânea vontade.
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