Tatiane Andrade prestou depoimento à Polícia Civil após denunciar o laboratório PCS Lab SalemePedro Teixeira/Agência O Dia
Mãe que teve falso positivo para HIV feito pelo PCS Lab fala do trauma: 'Não pude amamentar'
Tatiane Andrade, de 31 anos, prestou depoimento na Delegacia do Consumidor, na tarde desta terça-feira (15)
Rio - Tatiane Andrade, de 31 anos, vítima que teve resultado falso positivo para HIV pelo PCS Lab Salema, prestou depoimento na Delegacia do Consumidor, Zona Norte, na tarde desta terça (15). Acompanhada das duas filhas menores de idade, sendo uma de apenas 1 ano, a dona de casa disse que vive um grande trauma.
Tatiana fez o exame em setembro de 2023, quando deu à luz na maternidade particular NeoMater, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O laboratório contratado em questão era o PCS Lab Salema, empresa investigada por erros em testes de HIV durante processo de transplante. Devido ao falso positivo, ela não amamentou e a criança precisou ficar quase um mês internada tomando coquetel antirretroviral.
Após prestar depoimento na Decon, Tatiana falou com a imprensa sobre o impacto que este erro causou na sua vida e em toda a família. Ela conta que sofreu com transtorno de estresse pós-traumático por acreditar que tinha contraído o vírus. "Até hoje eu tenho trauma porque não pude amamentar minha filha, não pude ter aquele contato de mãe e filha. Fiquei em choque porque ela ficou internada tomando coquetel. Passou um furacão na minha cabeça logo no momento que eu estava mais fragilizada", disse Tatiana.
Tatiana disse que o laudo com o resultado falso foi assinado por Walter Vieira – um dos sócios do PCS Lab Salema. Atualmente ele está preso por assinar um laudo com falso negativo de um doador de órgão infectado pelo HIV. Além de sócio da unidade, Walter é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do estado do Rio de Janeiro em 2023.
A vítima afirmou que vai processar o laboratório e também a maternidade que contratou os serviços da empresa investigada. "Foi um erro. Viram que erraram, se esquivaram do erro e não falaram mais nada", concluiu.
O caso
A investigação envolvendo o PCS Lab Salema iniciou após a Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) ter sido notificada sobre a contaminação de seis pessoas por HIV, após receberem transplantes de órgãos. Nenhum deles estava infectado antes e o primeiro caso foi descoberto há um mês, quando um dos pacientes testou positivo para o vírus. Todos os exames de sangue dos doadores foram realizados pelo PCS Lab Saleme, contratado por licitação, e apresentaram falso negativo.
O laboratório privado responsável por fazer os exames de sangue nos doadores fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e, de acordo com a SES, foi contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes. O estabelecimento teve o serviço suspenso logo após o caso ser descoberto e foi interditado cautelarmente.
O que dizem os investigadores
O secretário de Estado de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que as investigações iniciais apontam uma falha operacional de controle de qualidade nos testes de diagnóstico do vírus. O objetivo do laboratório era obter lucro.
O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, André Neves, explicou que os reagentes dos testes precisavam ser analisados diariamente, mas houve determinação para que fosse diminuída a fiscalização, que passou a ser feita semanalmente, visando a "maximização de lucro, deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes". Segundo ele, "nessa lacuna, você flexibiliza e aumenta as chances de ter algum efeito colateral, esse efeito devastador que nós estamos analisando". O delegado não revelou quem ordenou a mudança na frequência das análises, porque o inquérito segue em sigilo.
Até o momento, três pessoas foram presas e uma segue foragida. O primeiro a ser preso foi um dos sócios, Walter Vieira, e o responsável técnico do laboratório, Ivanilson Fernandes dos Santos. Jacqueline Iris Bacellar de Assis, auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme, se entregou à Polícia Civil na tarde desta terça-feira (15). Segundo as investigações, um dos laudos do laboratório foi assinado por Jacqueline. Ela também usou o registro profissional de biomedicina de outra pessoa.
Eles vão responder por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.
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