Rio - A Polícia Civil realizou, neste domingo (20), a segunda fase da operação contra os envolvidos na emissão de laudos falsos que causaram infecções por HIV em transplantes de órgãos. Agentes da Delegacia do Consumidor (Decon) saíram para cumprir um mandado de prisão e oito de busca e apreensão. Durante a ação, Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do PCS Saleme, foi presa em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
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Investigações apontam que a mulher teria dado a ordem para economizar no controle de qualidade nos testes de diagnósticos de HIV feitos pelo laboratório. Na primeira fase da ação, a Civil descobriu uma falha operacional. Os reagentes dos testes precisavam ser analisados diariamente, mas a polícia diz que houve determinação para que fosse diminuída a fiscalização, que passou a ser feita semanalmente, visando a redução de custos e aumento de lucros.
"Ela exercia uma função importante no contexto do laboratório, era coordenadora de uma unidade operacional e teria passado uma ordem para controlar os gastos do laboratório. No laboratório e na unidade onde os laudos foram emitidos fraudulentamente, ela exercia o cargo de chefe. Então, é uma pessoa muito importante para a investigação. Ela nega, mas a polícia segue investigando e tem bastante fundamento para contradizê-la", disse o delegado titular da Decon, Wellington Vieira.
A defesa de Adriana negou que ela tenha dado ordens para reduzir os custos, conforme explicou seu advogado, Leonardo Matuzzi. De acordo com ele, caso essa ordem realmente tenha sido emitida, não partiu de Adriana. "Ela confirmou o que já havia informado na última quinta-feira. Hoje, presa, ela reiterou todas as suas declarações. Segundo ela, essa situação não ocorreu e essa ordem não foi dada por ela. E, se de fato houve essa instrução, não foi Adriana quem a emitiu. Ela atua como uma espécie de coordenadora, mas não realiza a calibragem dos equipamentos, nem a verificação do funcionamento," esclareceu o advogado.
Além de Adriana, outros dois sócios do PCS Saleme foram levados para a Decon, na Cidade da Polícia, prestaram depoimento e foram liberados.
As investigações indicam que os laudos falsificados foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à contaminação de pelo menos seis pacientes. Os envolvidos foram autuados por diversos crimes como as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária. O Tribunal de Justiça do Rio prorrogou por mais cinco dias a prisão temporária dos quatro funcionários. A decisão da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu foi tomada nesta quinta-feira (17).
Com o avançar das investigações, a Polícia Civil desmembrou o procedimento que apura os falsos laudos emitidos pelo laboratório e instaurou um novo inquérito para investigar o processo de contratação do PCS Lab. O trabalho conta com o apoio do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) da Polícia Civil e da Controladoria-Geral do Estado.
Entenda o caso
A situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, segundo revelou a BandNews, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve resultado para HIV positivo. Logo depois, amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos confirmados. Há uma semana foi notificado que mais um receptor de órgãos teve o exame de HIV positivo, após o transplante, confirmando seis casos até o momento.
O laboratório privado responsável por fazer os exames de sangue nos doadores foi contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes. O estabelecimento teve o serviço suspenso logo após o caso ser descoberto e foi interditado cautelarmente. Com isso, os testes passaram a ser realizados pelo Hemorio.
Além da Secretaria de Saúde, o caso também é investigado pela Polícia Federal, bem como pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), Ministério da Saúde, e Conselho Regional de Medicina (Cremerj).
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