O sócio do laboratório PCS Labs Saleme, Matheus Vieira, se entregou à polícia nesta quarta-feira (22)Pedro Teixeira/Agência O DIA

Rio - Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, um dos sócios do PCS Labs Saleme, investigado por emitir laudos falsos em exames de HIV em pacientes transplantados, se entregou à polícia na manhã desta quarta-feira (23). Contra ele havia um mandado de prisão em aberto expedido nesta terça (22) após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público. Ele era o único dos investigados que ainda está solto. Ao todo, o inquérito finalizado pela Polícia Civil indiciou seis pessoas pelo crime. 
Segundo a Delegacia do Consumidor (Decon), os agentes estavam em diligências para localizá-lo desde as primeiras horas da manhã. No entanto, por volta das 8h30, Matheus, acompanhado do advogado, se apresentou na especializada. 
Ainda no local, enquanto aguardava para prestar depoimento, o empresário fez "caretas" para imprensa ao ver que estava sendo fotografado. No início da tarde, por volta de 13h, ele foi transferido para Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter).

Primo do deputado federal e ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, Matheus é indiciado pelo MPRJ como responsável pela área de Tecnologia da Informação com acesso privilegiado e ilimitado a todo o sistema informatizado utilizado no laboratório, com autonomia para manipular documentos, incluindo possível descarte a partir da publicação dos fatos pela imprensa.
Além disso, o réu é filho de Walter Vieira, sócio denunciado e preso durante a Operação Verum, da Polícia Civil, no último dia 14. Durante as investigações, outros quatro funcionários também foram detidos e tiveram a prisão temporária convertida em preventiva:

- Ivanilson Fernandes dos Santos, técnico do laboratório preso na Operação Verum;
- Jacqueline Iris Barcellar de Assis, auxiliar administrativa, que se entregou à Polícia Civil no último dia 15. Ela também responderá por falsificação de documento particular;
- Cleber de Oliveira Santos, biólogo preso ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, no dia 16;
- Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica presa no domingo (20) durante a segunda fase da Operação Verum.
Todos viraram réus no processo. Ainda segundo a denúncia, os seis foram indiciados por lesão corporal gravíssima por enfermidade incurável, associação criminosa, falsidade ideológica e por induzir consumidor a erro. Jacqueline também foi indiciada por falsificação de documento particular por ter apresentado um diploma falso.

No decorrer da apuração, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas unidades do PCS Saleme, assim como em endereços ligados aos investigados.

O relatório de inspeção da vigilância sanitária anexado nos autos constatou 39 irregularidades, entre elas a presença de sujeira, de insetos mortos e formigas em todas as bancadas do laboratório.

“Desse modo, verifica-se que o 'modus operandi' da conduta perpetrada revela comportamento perigoso e alheio aos princípios de convivência e solidariedade humana, uma vez que os réus estariam, em tese, associados com o fim de incluir informações falsas em laudos médicos que culminaram na transmissão do vírus HIV, enfermidade incurável, em receptores de transplantes de órgãos, em programa realizado pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro”, diz um trecho da decisão.
A Polícia Civil também investiga o processo de contratação do laboratório. Esse inquérito conta com apoio do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e da Controladoria-Geral do Estado.
Na terça-feira (22), o governador Cláudio Castro nomeou o médico Marcus Vinicius Dias como o novo presidente da Fundação Saúde após a exoneração de cinco diretores e do diretor-executivo João Ricardo Pilotto.
A reportagem tenta contato com a defesa de Matheus Vieira. O espaço está aberto para manifestações.
Infecção por HIV
A contaminação foi descoberta no último dia 10 de setembro quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve resultado para HIV positivo. Logo depois, amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos confirmados. Há uma semana foi notificado que mais um receptor de órgãos teve o exame de HIV positivo, após o transplante, confirmando seis casos até o momento.
Os responsáveis pela empresa têm vínculo parentesco com o ex-secretário Estadual de Saúde Dr. Luizinho. Walter Vieira, um dos sócios administradores, é casado com Ana Paula Vieira, tia materna do ex-secretário. Matheus Sales Teixeira Vieira, filho de Walter, também é sócio administrador da empresa e primo de Dr. Luizinho.
As investigações indicam que os laudos falsificados foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à contaminação de pelo menos seis pacientes. Segundo a polícia, os reagentes dos testes precisavam ser analisados diariamente, mas as investigações apontaram que houve determinação para que fosse diminuída a fiscalização, que passou a ser feita semanalmente, visando a redução de custos e aumento de lucros.