Escritora Marina Colasanti, de 87 anos, foi velada no Parque Lage, na Zona Sul Armando Paiva / Agência O Dia
Amigos, familiares e personalidades da cultura se despedem de Marina Colasanti em velório no Parque Lage
Cerimônia aconteceu no salão nobre da Escola de Artes Visuais
Rio - Familiares e amigos da escritora Marina Colasanti, de 87 anos, se despediram da autora, nesta quarta-feira (29), em um velório no salão nobre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Jardim Botânico, na Zona Sul.
O velório aconteceu no local onde a autora morou entre os anos 1948 e 1956, passando sua infância e sua adolescência. A Quinta Gabriella, famosa mansão do Parque Lage, foi construída pelo empresário brasileiro Henrique Lage para a sua companheira, a cantora italiana Gabriella Bensazoni, tia-avó da escritora.
Responsável por mais de 70 livros, Colasanti, que morreu nesta terça-feira (28), recebeu homenagens de atrizes, diretoras, jornalistas e personalidades do setor cultural. Suas fotos foram expostas ao público em uma mesa na entrada do salão, onde os presentes puderam dedicar uma mensagem em um livro. Marina deixou o marido, o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna, e duas filhas, Fabiana e Alessandra Colasanti.
A cineasta Carla Camurati, que dirigiu filmes como "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil" (1995) e "Copacabana" (2001), destacou o olhar inteligente da autora sobre diferentes assuntos, principalmente em relação ao feminismo e à religião. Recentemente, a diretora entrevistou a escritora para um longa sobre os temas.
"A Marina é uma pessoa que eu sigo há muito tempo. A conheci quando eu estava começando como atriz e fui seguindo porque era uma mulher tão inteligente, potente em todos os sentidos. Era uma pessoa que eu admirava muito. Quando comecei a fazer o filme sobre mulheres e religião, ela foi a primeira pessoa que veio na minha cabeça, pois tinha esse olhar tão agudo, inteligente e generoso sobre cada coisa. Ser crítico é fácil. Você pode criticar tudo. Agora, um olhar que consegue observar criticamente e construir ao mesmo tempo é a melhor coisa. Marina era uma dessas pessoas. Quando você conversava com ela, muitas luzes iam acendendo dentro do seu pensamento, dentro das suas emoções. A compreensão que ela tinha do mundo era linda", comentou.
A jornalista Miriam Leitão, da Globonews, valorizou o legado que Colasanti deixou com os seus livros. Para a repórter, a vida da escritora seguirá através das suas obras.
"Marina é e permanecerá. É importante e imensa para a literatura brasileira e infantil, para a poesia, para as artes plásticas e para o feminismo. Nunca perdeu o rumo de quem era para defender as mulheres. Mesmo quando as pessoas se confundiram um pouco, ela nunca se confundiu. Fazia parte do esforço coletivo de abrir espaço para as mulheres. Sua obra é linda. Nós vamos continuar falando de Marina Colasanti. As crianças que não nasceram vão ler a Marina. As pessoas devem procurar seus livros", disse.
Leitão também comentou sobre a personalidade de Marina. "Todas as vezes que estive com ela me impressionava essa multiplicidade. Ela era doce, acolhia todo mundo, tinha um sorriso permanente, apesar das dores que viveu. Nunca perdeu a ternura ao falar com as pessoas. Eu resolvi a minha sensação de perda lembrando que ela permanece com a gente com os livros e a obra", finalizou.
Carreira
Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritreia, viveu em Trípoli, na Líbia, e na Itália, até que em 1948 veio com a família para o Brasil. Antes de se tornar uma das maiores autoras brasileiras, ela iniciou sua carreira no Jornal do Brasil como jornalista e cronista. Também trabalhou em revistas femininas e atuou na televisão, onde editou e apresentou programas culturais.
A escritora foi ainda publicitária e traduziu, do inglês, francês e italiano, obras de renomados autores estrangeiros. O primeiro livro de Colasanti, "Eu Sozinha", foi publicado em 1968 e, desde então, ela consolidou uma carreira literária de grande sucesso. Por meio da literatura, também resgatou sua primeira formação acadêmica como artista plástica, já que passou a ilustrar grande parte de suas obras.
Colasanti tem livros publicados no Brasil e em países como Estados Unidos, Espanha, Argentina, Colômbia e Cuba, de poesias, contos, crônicas e infantojuvenis. Vencedora de nove prêmios Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira, ela foi homenageada como Personalidade Literária de 2024 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Em 2023, Marina se tornou a 10ª mulher a conquistar o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL) e também considerado um dos principais do país.
Entre as obras mais aclamadas da artista estão os livros "Entre a Espada e a Rosa"; "Ana Z Aonde Vai Você"; "Rota de Colisão"; "Eu Sei, Mas Não Devia"; "Passageira em Trânsito"; "Antes de Virar Gigante e Outras Histórias"; e "Breve História de um Pequeno Amor".
Além dos prêmios nacionais, Colasanti também foi agraciada com o prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil e finalista do Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil. Ela também se tornou hors-concours da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), após ter sido várias vezes premiada.
*Colaboração de Armando Paiva
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