Elaine Cristina, de 46 anos, desapareceu durante uma tempestade no Rio Botas, na Baixada Fluminense, há um anoDivulgação
Família vive angústia de um ano sem respostas sobre mulher levada por correnteza no Rio Botas
Elaine Cristina de Souza Gomes, de 46 anos, estava no carro com o marido quando o veículo submergiu no dia 13 de janeiro de 2024
Rio - A família da cabeleireira Elaine Cristina de Souza Gomes, de 46 anos, levada pela forte correnteza no Rio Botas, na Baixada Fluminense, vive há um ano a angústia de não ter respostas sobre seu paradeiro. Ela estava no carro com o marido quando o veículo foi arrastado para dentro do rio e submergiu durante a tempestade que atingiu a região no dia 13 de janeiro. Na ocasião, 12 pessoas morreram e outras 600 ficaram desabrigadas.
A dor do luto, sem o corpo de Elaine para sepultar, é carregada até hoje pelo companheiro Anderson Genovez, de 43 anos. Os dois voltavam de uma festa, quando a tragédia aconteceu. A cabeleireira estava no carona e Anderson tentou soltar seu cinto de segurança e segurar sua mão, mas ela escorregou e foi levada pela força da água. Já o homem foi resgatado por moradores da região.
Por cerca de 20 dias, equipes do Corpo de Bombeiros atuaram no Rio Botas em busca de Elaine, mas sem sucesso. Ainda abalado, Anderson disse que sempre que chove forte na Baixada Fluminense seu coração acelera. Embora não tenha desejado conceder entrevista, ele se comunicou com a reportagem por meio do melhor amigo, Márcio Duracell, que esteve na linha de frente durante as buscas.
"Ele lembra todos os dias o que aconteceu, especialmente agora, com os temporais frequentes. O fato de o corpo nunca ter sido encontrado o marca profundamente", explica Márcio. O amigo de Anderson ainda disse que o vazio é o que resta. "Já se passaram um ano e 16 dias, e nada foi encontrado. Só ficou a dor e o sentimento de vazio. Eu sinto muito. Eu fui um dos que correu atrás, entrei em valão, em poça, em enchente", lamenta.
Elaine é mãe de três filhos, de 29, 22 e 18 anos, e, há quatro anos, havia inaugurado um salão de beleza no bairro Areia Branca, em Belford Roxo, onde trabalhava como cabeleireira.
A Polícia Civil ainda não informou em qual delegacia o desaparecimento foi registrado.
Outro desaparecimento no Rio Botas
O drama vivido pela família de Elaine também é compartilhado por parentes de Wagner Espinosa, de 46 anos. Ele desapareceu na tarde de quarta-feira (29) quando caiu no Rio Botas, na altura da feira do bairro Areia Branca, durante o intenso temporal que atingiu a região. Com a forte chuva, o rio transbordou e o nível da água chegou a 5,4 metros.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, as buscas por Wagner continuam nesta sexta-feira (31) e se estenderão durante a noite.
Contenção para evitar enchentes
Moradores que vivem nas proximidades do Rio Botas se questionam até quando vão perder vidas, casas e comércios por causa das frequentes enchentes que assolam a região. "A situação está precária, dá vontade de chorar, é muito prejuízo e o problema é que todo ano é a mesma coisa, não tem solução. A gente se recupera e perde tudo de novo. Eu acho que não vou aguentar, não. Fui crescendo aos poucos, era camelô, consegui uma loja, depois comprei outra do lado e está difícil", lamentou o comerciante Antonio Carlos Silva, de 54 anos, que perdeu cerca de R$ 40 mil em produtos nas chuvas de quarta-feira (29).
O lojista contou que as chuvas e alagamentos de janeiro já são previstos. "Todo ano é a mesma coisa, só que de uns sete anos pra cá tem piorado. A água vem subindo mais. Antigamente (a água) não subia na loja, ficava na calçada ou às vezes nem isso, mas agora começou a invadir. Da vontade de chorar, é muita lama", disse.
De acordo com a Prefeitura de Nova Iguaçu, as obras no Rio Botas estão sendo realizadas, incluindo o alargamento da calha de sete para 14 metros em um trecho de 1,2 km entre Ouro Preto e Comendador Soares, aumentando a profundidade de 1,5m para 3m. Além disso, há limpeza de rios, canais e desobstrução de bueiros.
No entanto, a gestão municipal reforça que é necessário apoio dos governos estadual e federal para promover um conjunto de medidas como a execução do Projeto Iguaçu, estimado em R$ 1 bilhão e que seria realizado por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do Governo Federal, que reduzam os impactos das chuvas na cidade.
Na quinta-feira (31), o governador Cláudio Castro disse que há um plano de contingências em andamento. "Estamos acompanhando as chuvas no estado 24 horas por dia e nossas equipes seguem de prontidão para atender aos municípios afetados e que nos solicitem auxílio. Além disso, contamos com um plano de contingência em que inclui obras para evitar eventuais danos decorrentes das chuvas", explicou.
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