29/05/2018 - BAIXADA. Quadrilhas de festa Junina.Quadrilha Gonzagão do Pavilhão.Foto: Fernanda Dias / Agência O Dia. - Fernanda Dias
29/05/2018 - BAIXADA. Quadrilhas de festa Junina.Quadrilha Gonzagão do Pavilhão.Foto: Fernanda Dias / Agência O Dia.Fernanda Dias
Por Aline Cavalcante

Os grupos de quadrilha junina da Baixada resistiram ao tempo e ao longo dos anos preservam esta cultura. Sempre que o mês de junho começa, o clima da festa típica desta época começa a tomar conta, principalmente por causa das comemorações de São João e São Pedro, nos dias 24 e 26, respectivamente. No entanto, este ano os enredos elaborados, as coreografias, alegorias, figurinos, bandeirolas e fogueira não terão vez.

Por conta do coronavírus e das medidas de isolamento social adotadas, aproximadamente 50 grupos de quadrilhas juninas, segundo a Faquabaf (Federação de Quadrilhas Juninas da Baixada Fluminense), não terão os tradicionais arraiás.

Os ensaios dos grupos começaram em novembro do ano passado e tiveram que ser paralisados no início de março. A coreografia, o enredo e o tema já estavam prontos. Os figurinos e cenários eram confeccionados a todo vapor. "A gente encerra o período de festa, geralmente em agosto, já pensando no próximo ano. Então, quando começou a quarentena estávamos com muita coisa pronta. É triste não ter festa este ano e ver os circuitos cancelados", desabafou Antônio Carlos Costa, o Kalunga, que é presidente da Junina Moçada Que Agita, de Belford Roxo.

Último ensaio da Moçada Que Agita foi animado - Divulgação
Kalunga conta que demorou a entender que não seria possível fazer festa este ano. "Ensaiamos pela última vez no dia 15 de março e aí, depois disso, começou o isolamento social e cancelamos os encontros e eventos que teríamos. Num primeiro momento acreditamos que daria pra retomar tudo. Somos 70 integrantes e demorou a cair a ficha de que não dava pra ter São João, levamos um mês para acreditar, mas não tem o que fazer".

Para Wagner Vinicio Porto, da Renovação Junina, de Nova Iguaçu, a rotina de festas e ensaios faz falta. "Nesta época estaríamos nos apresentando em eventos e festas juninas, ensaiando e com a agenda cheia. Entendemos a situação, mas estamos sentindo falta".

Na Geração de Ouro, em Meriti, o vírus trouxe tristeza."Estava tudo encaminhado, estávamos ensaiando desde janeiro. Gravamos repertório em Alagoas e tivemos que parar tudo em março. Em maio perdemos nosso presidente do grupo Wanderson Cabral, que morreu de covid-19, foi muito triste. Ele era policial militar, mas a quadrilha junina era sua paixão. Voltaremos em 2021 para homenageá-lo", relata Flávio Henrique.

O agente junino Wagner Bastos disse que esta é a primeira vez que ele ficará sem dançar quadrilha. "Isso nunca aconteceu. Desde que comecei, em 1992, não houve um ano em que eu não tenha me apresentado com grupos de quadrilha nos arraiás. É triste demais para nós que amamos o movimento junino".

Corações Unidos reúne meninos e meninas de Meriti - Arquivo O DIA
Na Corações Unidos, de São João de Meriti, as crianças também costumam entrar na dança. "Tem sido difícil para as crianças, eles querem ensaiar, estar junto, mas explicamos e eles entenderam. São momentos complicados os que estamos vivendo, diz Ricardo, da Corações Unidos.

Produção fica para 2021

Com quase tudo pronto à espera do São João que não acontecerá, muitos grupos vão guardar a produção de cenários e roupas para o próximo ano. "Algumas coisas tivemos que doar. Mas outras guardamos e vamos reaproveitar", conta Ricardo.

"Temos um barracão, onde fica nossa sede e tudo está guardado lá. Conseguiremos reaproveitar tudo. Nosso prejuízo material foram dos integrantes do nordeste que vieram para cá, tiveram custos e não tivemos nenhum evento", revela Kalunga.

A Renovação Junina, que é composta por 60 integrantes, também guardou as coreografias e a trilha para 2021. "É triste, mas já estamos pensando no ano que vem. Vamos dar continuidade aos projetos que já havíamos começado", afirma Wagner Vinicio.


Sem trabalho

Acostumada a fazer os figurinos de festas juninas, que custam a partir de R$ 250, a costureira Mary Hellen já tinha recebido algumas encomendas.

“Todo ano eu faço roupas para mais ou menos 70 casais, isso me garante um bom dinheiro todo ano e de uma hora para outra os trabalhos foram todos
cancelados. Não imaginei que esta fase duraria tanto. Estou parada, cheguei a vender máscara para ajudar na renda mas até isso tá difícil agora. Estou sem trabalho, aguardando auxílio do governo e contando com a sorte”.
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São João online
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A festa de São João este ano vai ser online. O evento junino virtual está agendado para o dia 20 de junho e vai ter a participação de Douglas Amaral, presidente da quadrilha junina Gonzagão do Pavilhão, de São João de Meriti.

Além de músicas e danças típicas com grupos de quadrilhas, haverá uma arrecadação de donativos. "Vai ser um evento lindo, uma forma de não deixar passar em branco o São João carioca deste ano. Vai ser uma honra participar", afirma Douglas.

A transmissão será no YouTube e no Instagram (@saojoaonaredefestival), a partir de 15h.

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