A Ruellia capotyra("flor da mata", em tupi-guarani) é a descoberta mais recente feita por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Encontrada no Parque Natural Municipal do Curió, em Paracambi (RJ), a nova espécie já foi reconhecida pela revista científica Systemic Botanic no mês passado.
A pesquisa é coordenada por Denise Braz, professora e taxonomista (responsável por desvendar a riqueza de espécies existentes em território brasileiro que ainda não foram reconhecidos pela ciência). Todo o processo de descoberta da "flor da mata" levou cinco anos. A primeira coleta foi feita em 2008 e o estudo para confirmar que se tratava de uma nova espécie só foi finalizado em 2013. Depois disso, foi necessário reunir o material, fazer descrições e manuscritos, o que só foi finalizado neste ano.
"É um trabalho detalhado, que requer tempo. Como a equipe se divide em funções específicas e ainda se reveza entre as aulas (grupo é composto de alunos e professores), levou mais tempo do que levaria se pudéssemos nos dedicar exclusivamente a esta pesquisa", contou a especialista.
De imediato, ainda não se sabe para quais fins a planta pode ser usada. "Essa é uma família que tem muitas plantas com importantes constituintes químicos, então a gente está investigando as possibilidades de novos fármacos e novas drogas. Vamos desenvolver pesquisas futuramente".
Desde 2007, Denise e sua equipe (10 pesquisadores e alunos) têm realizado pesquisas de campo, no Parque do Curió, dedicadas ao estudo de plantas pertencentes à família Acanthacea. A espécie Justicia paracambi foi o primeiro achado do grupo, em 2015.
Caminhos da pesquisa
"O taxonomista começa pela escolha de um grupo a ser estudado e pode seguir critérios como: importância econômica, importância ecológica, poucos conhecimentos, riqueza de espécies, abundância de indivíduos, representatividade em determinado local, entre outros", explica Denise, pesquisadora com mais de 20 anos de experiência na área.
O taxonomista ainda é responsável pela denominação correta da espécie, de acordo com normas específicas da nomenclatura botânica. A etapa final é a publicação da descoberta em uma revista científica especializada.
Conhecer para preservar
Após a coleta,a espécie descoberta é registrada no Herbário do Departamento de Botânica da UFRRJ- ou RBR, como é reconhecido internacionalmente. Fundado em 1916, sua coleção já ultrapassa a marca de 50.000 amostras vegetais desidratadas (exsicatas) que servem de referência sobre a vegetação e flora do Rio de Janeiro.
A amostragem e registro de novas espécies auxiliam com informações importantes sobre a biodiversidade do Brasil. "Através dessas informações, é possível mapear a distribuição de espécies endêmicas, raras ou em risco de extinção pelas regiões do país e contribuir para políticas públicas de conservação e preservação. Dados como esse, servem como material para estudos taxonômicos e de outros ramos da ciência", afirma Denise.
Recentemente, uma parceria entre o Jardim Botânico do Rio e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)resultou no maior banco de dados da flora brasileira online, o Brasil Online 2020. O sistema reúne informações sobre 48.369 espécies diferentes.