Daniel Guerra vocalista do grupo de Forró Pimenta do Reino - Nova Iguaçu  - Reprodução/Redes Sociais
Daniel Guerra vocalista do grupo de Forró Pimenta do Reino - Nova Iguaçu Reprodução/Redes Sociais
Por O Dia

A pandemia do coronavírus e as medidas de isolamento social para conter o avanço da doença afetaram a vida de muitos trabalhadores. Quem vive de arte e cultura em geral também sente na pele esses efeitos. A impossibilidade de fazer shows presenciais, a escassez de trabalho e as dificuldades em produzir nas ferramentas digitais são só alguns desafios que os músicos enfrentam nesse período. Mas, em meio às dificuldades a criatividade pode aflorar. Foi assim para muitos artistas da Baixada, que fizeram desse momento uma fonte de inspiração.

No mês passado, a Banda Gente, de Nilópolis, lançou seu single "Febre". A música canta o amor e tem uma batida bem popular e dançante. A banda, que surgiu em 2011, segue influências Afro-Brasileiras. A vocalista do grupo, Iolly Amancio, conta que foi um trabalho de resistência, já que os músicos têm enfrentado dificuldades. 

"Não queríamos ficar parados e nem abandonar os trabalhos diante desse novo cenário. Então, precisamos nos reorganizar e foi bastante desafiador. Estamos buscando driblar os obstáculos para manter o funcionamento. Nós ensaiamos e criamos os arranjos remotamente, o trabalho acaba ficando pronto mais rápido, mas confesso que prefiro ter o contato diário, faz falta".

Outro artista que fez do que parecia perdido, o início de uma nova etapa, foi Daniel Guerra, vocalista do grupo de forró Pimenta do Reino. De Nova Iguaçu, a banda está na estrada há 18 anos. Antes da pandemia, durante os meses de junho e julho, a quantidade de shows costumava aumentar consideravelmente, por conta da época de festa junina. Mas, sem se apresentar há quatro meses, o isolamento teve resultado positivo para Guerra, nascendo, assim, a música "Vendaval".

"Esse momento surreal nos faz refletir sobre a vida e seu significado. Às vezes somos consumidos de tal forma que não percebemos as coisas. Estou conseguindo um olhar mais sensível durante essa pandemia. Essa música surgiu do sentimento verdadeiro de querer a volta ao normal, de fazer tudo aquilo que me dá prazer", afirma o músico. Os versos da canção resumem bem os "quereres". "Depois desse vendaval. O que mais quero é brindar a vida. Voltar aos dias. Ser tão normal. Te abraçar".

Também de Nova Iguaçu, o produtor musical e de audiovisual Paulo Aquino, conhecido como "Aquinopl", de 29 anos,  vai lançar seu EP "RSLNC", abreviação de Resiliência, no dia 20. Ele afirma que teve uma queda de metade nas produções de áudio e as de vídeo chegaram a zero durante a pandemia. Diante disso, o foco em fazer suas próprias produções nos estilo R&B viraram prioridade.

"Eu usei o momento para colocar meu lado artístico para funcionar, e criei esse EP autoral. Ele foi todo feito dentro dessa pandemia e distanciamento social. Usei o tempo para produzir os instrumentais, compor, gravar, mixar e masterizar. A "Resiliência" que abordo, fala sobre momentos que passaram na minha vida, e que vieram na lembrança durante o isolamento. Focar nesse trabalho foi um ponto bastante positivo, até mesmo para manter minha saúde mental boa, e não me abalar completamente com as vidas perdidas para a covid-19", pontua Aquinopl.

A cantora e educadora musical Carol Brito escreveu oito canções na quarentena, sendo seis músicas para crianças e duas de MPB. "O processo de composição é inspiração e muito estudo e com o isolamento é possível se dedicar mais porque temos mais tempo disponível. Nem sempre estamos inspiradas durante a pandemia, tem dias sim, dias não.

Poesia

Com o lançamento de seu segundo livro, 'Pétala', agendado para abril, a escritora Thaís Reis viu seus planos terem que ser modificados. O lançamento presencial foi adiado, mas as redes sociais tem sido vitrine de sua coletânea de poemas, e também de novos textos e poesias que surgiram em meio ao isolamento. Uma das inspirações foi o conto 'Quando a rua falou comigo', que traz um cenário pós-pandemia e fala da saudade de andar pela rua e da liberdade.

"Logo no início eu criei um projeto, o 'Poema em quarentena', em que todos os dias abria espaço para as pessoas recitarem um poema. Depois de dois meses, surgiu a ideia do 'Poesia que mora em mim', na qual escritores da Baixada recitavam poemas autorais. Não quis dar brecha para eu me perder da arte. Tem sido uma busca de autoconhecimento. Cada vez tenho mais a certeza de que a arte me salva e é aonde me encontro", relata Thaís, moradora de Nova Iguaçu.

Literatura feminina
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Um projeto que já estava na cabeça de Thaís Reis ganhou vida nos últimos meses. 'Maria, Maria', um clube de leitura que se propõe a debruçar sobre a obra de mulheres na literatura para pensar sobre o protagonismo feminino. A cada encontro, por enquanto virtual, um texto escrito por uma mulher será debatido. "Vai ser uma conversa sobre o livro, sobre nós (mulheres) e tudo o que nos inspira nas mulheres que passam pela nossa vida", explica a escritora.
Maria, Maria tomou forma com a ajuda de Carol Brito, companheira de Thaís e parceira nos projetos. Além da literatura, o clube de leitura terá intervenções artísticas, incluindo música, especialidade da Carol. "A parte musical e divulgação artística fica comigo. A música e a literatura se complementam", afirma a cantora.
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Os encontros do grupo acontecem às segundas-feiras, às 19h, quinzenalmente. Para entrar e participar, consulte no perfil do Instagram @tpereirareis.
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