Em diversos bairros da região falta saneamento básico e é comum pedestres andarem em meio ao esgoto 
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Em diversos bairros da região falta saneamento básico e é comum pedestres andarem em meio ao esgoto Arquivo O Dia
Por Aline Cavalcante e Bruno Gentile

O Mapa da Desigualdade 2020, estudo feito pela Casa Fluminense, avaliou os índices de disparidade social nas cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e revelou que as condições de vida na Baixada Fluminense ainda estão bem distantes das ideais. Na segurança chama atenção o fato de que em Guapimirim e Seropédica 100% dos assassinados pelas autoridades policiais são pardos ou negros. No quesito longevidade, por exemplo, enquanto a média de vida é de 70 anos, em Niterói, em Queimados a idade média é de 58 anos.

"O retrato dessas desigualdades se materializa localmente em áreas privilegiadas que provêm infraestrutura e bem-estar para seus moradores, enquanto nas periferias, subalternizadas, vivem em contextos profundos de vulnerabilidade pelo não acesso a direitos sociais básicos, garantidos constitucionalmente", afirma Vitor Mihessen, coordenador da pesquisa.

Com exceção de Paracambi, que não apresenta nenhuma morte de negros decorrente de ação policial, no restante da Baixada, todos os municípios registram taxa de mortalidade negra acima de 50% ou igual, no caso de Nilópolis.

Outro fator que chama atenção é a violência contra a mulher. A cada mil mulheres, mais de 20 são agredidas em no município de Paracambi. Cerca de 17 sofrem em Guapimirim e Magé, e outras 16, aproximadamente, são agredidas em Queimados. Para agravar ainda mais a situação, nas cidades de Japeri e Magé não tem sequer um centro especializado de atendimento à mulher.

A letalidade violenta (a cada 100 mil habitantes) também é alarmante. Em Itaguaí é de 78,3, em Japeri 74,6, seguidos por Queimados com 71,9 e Belford Roxo com 63,9.

Sobre saúde, por exemplo, o município de Japeri não possuía nenhum tipo de leito hospitalar público até o ano de 2019, e das cidades que têm, São João de Meriti é a que pior cobria sua população, são apenas dois leitos para cada 10 mil habitantes. 

Na agenda de educação, em Queimados apenas 5,1% das crianças de 0 a 3 anos são matriculadas em creches, sendo o pior índice da região. Nova Iguaçu aparece logo depois, com 5,8%. A melhor porcentagem fica por conta de Itaguaí, que registra 33,2%.

Em época de pandemia, o uso de internet tem se tornado cada vez mais fundamental, principalmente para estudantes, que sem aulas presenciais passaram a ter aulas online. Mas, e quando o acesso à rede é precário? Pelo levantamento, em Japeri, apenas 19,2% da residências possuem ponto de acesso à internet e banda larga fixa. Nilópolis teve o melhor resultado, com índice percentual de 63,2%.

A quantidade de empregos formais, por exemplo, foi um dos quesitos analisados pela pesquisa. De todos os municípios da Baixada, Itaguaí é o que apresenta melhor desenvolvimento nesse item, com aproximadamente 21 ofertas de emprego a cada 100 habitantes. Já Guapimirim, Mesquita, Magé, Belford Roxo e Japeri, esta última com a menor taxa, sequer passam dos 10 vagas.

Em Miguel Couto, ruas sem asfaltar - Reginaldo Pimenta
 Outro fator observado no que se refere à longevidade das cidades foi que Paracambi e Nilópolis tiveram a melhor média com 65 anos, superando a da capital, que é de 64 anos.

"Parte deste exercício de retratar um cenário tão desigual consiste em buscar apontar indicadores que auxiliem a enxergar caminhos para superar estes desafios. Por isso, em um ano estratégico para o ciclo de políticas públicas municipais, o Mapa da Desigualdade 2020 traz também dados sobre a capacidade de investimento das gestões municipais", relatou um trecho levantamento. 

Orçamentos

Em relação a receita corrente líquida por habitante, Itaguaí ficou em primeiro lugar com R$ 4.072,24, superando até mesmo a capital. Meriti tem a pior média, com R$1.228,51. 

Outro ponto do levantamento mostra o baixo investimento em cultura. Em Queimados, apenas 0,01% do orçamento municipal é aplicado nesta área. Em Belford Roxo 0,04% e em Mesquita não houve investimento no orçamento municipal registrado. 

Dos 284 museus que existem no estado do Rio, apenas 19 são na Baixada.

Chegar a estas informações não é tarefa fácil. Segundo a Casa Fluminense, Magé e Seropédica, por exemplo, não tinham dados orçamentários abertos para consulta. "Os dados são escassos e, muitas vezes, desatualizados. O Censo 2010 ainda é a principal referência e fonte de dados para os municípios brasileiros. Algumas prefeituras não disponibilizam o Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) em seus sites", relata Guilherme Braga Alves, pesquisador dos Mapas.

 

Racismo e sexismo
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Segundo dados da pesquisa, negros morrem mais cedo que brancos em todas as cidades da Baixada Fluminense. A maior diferença está em Japeri, Paracambi e Queimados, onde brancos vivem 10 a mais que negros. A menor diferença é em Seropédica: 3 anos.
Tirando Queimados, único município em que a média salarial das mulheres é maior que a dos homens, todas as cidades apresentam grande diferença na remuneração de homens e mulheres. Em Itaguaí esta diferença chega a passar dos 33%. Já em Duque de Caxias os dados mostram que os homens recebem 22% a mais que as mulheres e em Magé este número é de aproximadamente 20%.
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A média salarial também varia quando comparados a remuneração de brancos e negros. Brancos chegam a receber 31,6% a mais que negros em Japeri e em Duque de Caxias há uma diferença de 27,2%.
"No processo da pesquisa, vimos o quanto que o racismo e o sexismo desempenham papel fundamental para a perpetuação da vulnerabilidade social em algumas áreas do Rio. Ainda mais quando analisamos que a maioria das cidades possui médias salariais mais altas para homens do que para mulheres", analisa Paula Moura, que é consultora do Mapa de Desigualdade 2020.
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