Augusto Perillo, estudante de Ciências Sociais e produtor visual - Divulgação
Augusto Perillo, estudante de Ciências Sociais e produtor visualDivulgação
Por O Dia

Não é de hoje que a Baixada sofre com descaso e falta de recursos. E para debater melhor essa questão, Augusto Perillo, 25, morador de Nilópolis, decidiu produzir o documentário 'Covid na Baixada', que procura evidenciar como a forma de tratar a vida na região tem sido banalizada até mesmo antes da pandemia. O lançamento está previsto para o dia 15 de agosto.

Estudante de Ciências Sociais na UFF, o produtor audiovisual conta o que o motivou a fazer o documentário. "Na verdade, a minha proposta foi criar algo que discutisse a covid-19 na Baixada Fluminense. A ideia inicial era debater se as vidas da capital valem mais do que as daqui. Óbvio que todas importam, mas a intenção é provocar esse questionamento, sem julgamentos, mas com reflexões. Quero mostrar que o coronavírus não trouxe a crise na Baixada, ele apenas tirou o véu que encobria o descaso", disse Perillo.

Ele revela também como organizou a produção de sua obra, que contará com imagens de quatro entrevistados por Augusto: Nielson Bezerra, professor da UERJ e especialista em assuntos da Baixada, Adriano de Araújo, representante do movimento social Fórum Grita Baixada, a filha de uma vítima fatal da covid-19, e o Doutor Kiraz Karraz, Secretário de Saúde de Nilópolis.

Perillo contou ainda quando decidiu colocar em prática seu projeto e começar as gravações. "Eu tive o gatilho de pôr a mão na massa quando houve o episódio dos bares e restaurantes lotados no Leblon. Percebi que todos ficaram espantados com a situação, mas nunca vejo ninguém se revoltar quando isso ocorre na Baixada. Por aqui, os estabelecimentos nunca pararam, a rotina sempre foi igual, mesmo durante a pandemia. Essa ausência de coerência me fez avançar nas produções."

Além dos depoimentos dos personagens, o documentário, que demorou dois meses para ser feito, também constrói narrativas que servirão de fundo para mostrar a realidade fluminense. O curta-metragem de 30 minutos será divulgado às 15h, no canal de Youtube @augustoperillo, pelo link https://youtu.be/YBv8g1lQhFE.

Problemas na Saúde

Um dos entrevistados por Perillo, o professor Nielson Bezerra, da UERJ, também acredita que a pandemia não apenas agravou a situação na Baixada Fluminense, mas também desmascarou o péssimo serviço de saúde pública ofertado pelo governo, considerado precário e insuficiente para a demanda.

"A covid-19 evidenciou o grave transtorno de acesso aos cuidados básicos na região da Baixada, pois muitos moradores da área não possuem disponibilidade financeira para pagar planos particulares. É um aspecto muito negativo para o estado o fato de São João de Meriti e Mesquita, por exemplo, não terem um leito de UTI".

Além dos obstáculos na saúde, segundo Nielson, as políticas públicas, como os testes de covid-19 e a aprovação do auxílio emergencial, demoraram a chegar à região da Baixada, dificultando o isolamento social, já que muitos moradores precisavam continuar saindo ao trabalho. "É importante ressaltar que a testagem também não existia em grande quantidade. Como estamos próximos de eleição, creio que tudo esteja começando a funcionar na área por questões eleitorais, e não por cuidado com a população".

Você pode gostar
Comentários