Cena do filme mostra familiares em protesto pelos assassinatos - Reprodução do filme 'Nossos Mortos Têm Voz'
Cena do filme mostra familiares em protesto pelos assassinatosReprodução do filme 'Nossos Mortos Têm Voz'
Por O Dia

A força cultural da Baixada Fluminense cresce cada vez mais em âmbito nacional. No ano em que se completam 15 anos da maior chacina da região, quando policiais do estado do Rio assassinaram 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados (2005), o documentário 'Nosso Mortos Têm Voz', produzido e dirigido por Fernando Sousa, da Quiprocó Filmes, foi selecionado pelo 3° Concurso de Documentários da TV Câmara para ser premiado e veiculado pela emissora durante um período de 24 meses. A obra, que retrata a violência na Baixada, está entre as 30 produções indicadas.

Com histórias reais, o documentário traz à tona a realidade e o depoimento de mães e familiares de vítimas da violência na região, contando com narrativas atravessadas por essas perdas. A produção resgata a memória das vidas interrompidas com uma visão crítica sobre a atuação do Estado através das polícias na Baixada, e aborda a atuação dos grupos de extermínio a partir da década de 50, sobretudo, no que diz respeito à violência contra jovens negros.

Documentarista e diretor executivo da Quiprocó Filmes, o produtor Fernando Sousa revela a importância ser indicado à premiação do concurso e faz questão de agradecer a TV Câmara pela iniciativa, que, na sua visão, promove um troca de conhecimentos e cultura pelo Brasil afora.

"Em primeiro lugar, é importante saudar a a TV Câmara por fazer o 3° Concurso de Documentários. Tudo isso é fundamental para nós porque contempla a diversidade de olhares e percepções sobre as diferentes realidades. A realização do concurso traz a pluralidade do nosso cinema para a televisão aberta, o que é uma grande satisfação e prazer". 

Sobre o documentário, Fernando garante estar contente pela repercussão da obra e explica um pouco mais da trajetória da produção. "A gente fica muito feliz pelo fato de o filme estar entre os premiados. É uma indicação que celebra e reconhece a caminhada do documentário, tendo circulado em mais de nove países, desde os Estados Unidos até a África. Na verdade, isso também serve de homenagem às mães e filhos que sofrem com a violência na Baixada".

Engrenagem de moer vidas

 Coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araujo afirma que o filme é uma espécie de grito de denúncia da Baixada Fluminense, face à quantidade de pessoas assassinadas e violentadas, até mesmo por governantes. Ele acredita que o documentário traz a voz, mesmo que velada, dos que já se foram.

“Os mortos continuam gritando, aos quatro cantos, a existência de organizações criminosas, com a participação de agentes públicos de segurança, políticos, vereadores, secretários e até prefeitos”, enfatiza.

“Os rapazes e homens que foram assassinados, ou que desapareceram, o foram porque há uma conivência social, que autoriza e faz pouco caso da vida daqueles que eles consideram indesejáveis: pobres, negros, moradores das periferias. E que se faz de surdo-mudo diante da expansão das violência policial, da atuação das milícias e de todos aqueles que lucram política e economicamente com essas práticas. O filme aborda tudo isso. Mostra essas relações e o funcionamento dessa engrenagem de moer vidas”, analisa.
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