Claudia de Queiroz de Melo, mãe de Rodrigo de Melo Silva, desaparecido em Japeri desde 2008
 - Divulgação/Felipe de Bragança
Claudia de Queiroz de Melo, mãe de Rodrigo de Melo Silva, desaparecido em Japeri desde 2008 Divulgação/Felipe de Bragança
Por O Dia

Somente no período de janeiro a julho deste ano foram registrados 470 casos de pessoas desaparecidas na região da Baixada Fluminense. Os números alarmantes trazem histórias de sofrimento como a de Claudia de Queiroz de Melo, 47, que há 12 anos procura pelo filho Rodrigo de Melo Silva.

Moradora de Queimados, Claudia não tem notícias do filho desde 2008. Rodrigo tinha 16 anos na época em que desapareceu. Ele estava na casa da avó em Engenheiro Pedreira, no município de Japeri, quando saiu para trabalhar em uma obra, mas o jovem nunca chegou ao compromisso. O rapaz foi visto pela última vez em um ponto de ônibus perto residência da avó.

"Todos os dias era uma esperança de eu encontrar ele. Lutei muito contra o tempo, contava os segundos e já faz 12 anos que não vejo meu filho. Durante muito tempo eu fiquei sem dormir, sem comer, perdi trabalhos, tudo em busca dele. Nesses anos todos, já estive em todas as delegacias que eu poderia ir, mas até hoje estou sem respostas. O meu ex-marido e pai do Rodrigo, faleceu por conta da depressão depois que nosso filho desapareceu. Ele não suportou a dor", desabafa Claudia.

Na época do desaparecimento do filho ela trabalhava como empregada doméstica, mas foi difícil manter-se empregada em meio à busca por Rodrigo.  "Já perdi muitos trabalhos devido a tudo isso, mas acima de tudo sou mãe. Tinha que procurar meu filho e as pessoas às vezes não entendiam isso. As patroas não gostavam. As pessoas não entendem o que nós, mães, passamos".

"Ótimo filho, prestativo e amigo". Dessa forma a mãe relembra com saudade a personalidade de Rodrigo, seu filho mais velho. "Ele trabalhou muito comigo para me ajudar em casa. Ele também ajudava o pai em obras para ajudar na renda da família e ter o próprio dinheiro. Cuidava dos irmãos, tanto os da parte de pai, quanto os que tive com o padastro dele. Ele tinha ótima convivência, se dava bem com todo mundo".

Continuar a vida com a incerteza do paradeiro de um filho não é tarefa fácil. Claudia conta do sofrimento ao qual ela experienciou durante os anos sem notícias de Rodrigo e como conseguiu dar continuidade à sua vida, mesmo com as dificuldades.

"Primeiro agradeço a Deus, pois ele não me deixou morrer de tanta tristeza. E depois, a vontade de encontrar meu filho que tanto amo também me motiva. Mas é uma luta constante, porque a dor é sem tamanho".

Panorama

Nos primeiros sete meses de 2019 houve 750 casos contra 470 se comparado com o mesmo período deste ano. Os registros mensais também caíram, no mês de julho do ano passado, por exemplo, ocorreram 105 desaparecimentos e neste ano 69.

Dentre as estatísticas de desaparecidos, há também o caso dos desaparecimentos forçados, aqueles com envolvimento de agentes públicos, diretamente, ou dando consentimento para que outros grupos promovam atividades criminosas contra alguém. De acordo com o coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano De Araujo, o índice de denúncias desses casos é baixo.

"Como esses casos envolvem a participação de agentes públicos, ainda não existem estatísticas que dêem conta desse fenômeno em particular. Esse delito nem consta ainda no código penal, ainda em tramitação no Congresso Nacional. Muitos familiares que tiveram seus filhos, maridos, irmãos e netos, vistos pela última vez em uma abordagem policial, eles têm medo de fazer uma denúncia, um boletim de ocorrência, porque temem sofrer represálias. Então, a possibilidade de subnotificação do desaparecimento forçado é grande".

Suporte profissional
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Há menos de uma semana, o governo do Estado do Rio inaugurou o Núcleo de Atendimento às famílias de pessoas desaparecidas, em Queimados. O projeto oferece apoio jurídico, social e psicológico para dar suporte aos familiares dos desaparecidos. Quem coordena o Núcleo de Desaparecidos é Jovita Belfort, mãe do lutador de MMA Vitor Belfort e de Priscila Belfort, que desapareceu em 2004, aos 29 anos.
"É um pedido das mães da região que queriam um atendimento desse nível, por que o familiar de um desaparecido não tem suporte e ficam totalmente desamparados. Esse núcleo, além de amparar as famílias, traz luz a esse problema de desaparecimentos na Baixada", afirmou a coordenadora.

Claudia de Queiroz de Melo ressalta a importância do suporte para quem, assim como ela, tem familiar desaparecido. 'Eu fico feliz que outras mães vão ter a oportunidade de serem acompanhadas. Se tivesse um suporte assim na época que meu filho desapareceu teria me poupado muita coisa que passei, justamente por não ter ajuda de ninguém".
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O núcleo fica na Rua Otília 1495, Centro, e o atendimento acontece de segunda à sexta feira, das 8h às 17h.
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