Junto com os doces vendidos por Cassiano, clientes do projeto 'Eu não vendo balas' levam poemas - Luiza de Mendonça / Divulgação
Junto com os doces vendidos por Cassiano, clientes do projeto 'Eu não vendo balas' levam poemasLuiza de Mendonça / Divulgação
Por O Dia

Os medos e as incertezas que giram em torno da decisão de empreender se tornaram cada dia mais uma alternativa para pessoas que ficaram desempregadas por causa do isolamento social, causado pela pandemia do novo coronvírus.

O isolamento não escolheu classes, mas sabemos que, nessa hora, os cidadãos de baixa renda são os mais prejudicados. E cabe falar que não estamos nos referindo apenas à contaminação pelo vírus, mas, sim, ao agravamento do nível de pobreza como resultado da perda de emprego e da paralisação do comércio.

Com a diminuição do fluxo de pessoas saindo de casa e, consequentemente, o de carros, a vida dos comerciantes de rua ficou ainda mais difícil, exigindo deles algo a mais que servisse de diferencial em meio a tantas pessoas que, em busca de oportunidades, optaram por empreender.

A baixa demanda provocou uma queda no número de vendas significativa, caso de Cassiano de Souza Santos, morador de São João de Meriti, de 27 anos, que vende balas em um sinal da Tijuca. Seu pai saiu de casa quando ele tinha apenas 2 anos, fato que o levou a, desde a sua infância, tomar a frente das provisões financeiras da casa.

O jovem vende balas na rua há mais de 3 anos, em busca do sonho de ser um empreendedor de sucesso. Após tomar a decisão de ser autônomo, pediu demissão de onde trabalhava e começou a dar os primeiros passos rumo ao seu sonho.

Cassiano acredita que o empreendedorismo será o grande passo que irá mudar as condições de vida, tanto dele quanto da família. O seu objetivo é ajudar ainda mais a mãe podendo, assim, proporcionar maior tranquilidade para eles, além de cursar uma faculdade de administração para dar andamento em seu plano e um dia tirar o seu "escritório" da rua.

A determinação do rapaz chamou a atenção de Luiza de Mendonça, designer e estrategista de marcas, que comprou a causa e decidiu ajudá-lo sem custos com os serviços que sua empresa, a Atípica Agência, poderia oferecer. Moradora do bairro onde ele trabalha, ela sempre que passava perto do sinal onde o vendedor ficava, recebia um sorriso acompanhado de um "bom dia" ou "boa noite" repletos de energia. Ela, então, resolveu usar uma de suas maiores habilidades para ajudar rapaz: a autenticidade.

"Quando o questionei perguntando sobre o seu sonho, ele me respondeu: 'Eu quero ser empresário'. Além de sua simpatia contagiante, ele tem um olhar visionário", disse a empresária.

Foi aí que a mais nova parceira de negócios do vendedor criou o projeto 'Eu não vendo balas', que lançou Cassiano como um vendedor de balas que não vende balas, mas, sim, propaga poesias para adoçar e alegrar o dia das pessoas, principalmente em momentos como o que vivemos de isolamento e distanciamento social.

"Todos nós estamos um pouco machucados devido ao isolamento, né? Por isso, investi nas frases. A cada pacote de bala vendido por R$ 3, ele consegue doar um sorriso e uma frase de incentivo para quem está dentro do seu carro", completou Luiza.

O projeto viralizou e teve como resultado um sucesso de vendas. O rapaz também recebeu o apoio de pessoas espalhadas por todo o Brasil. Para aumentar ainda mais o seu potencial de venda, a tijucana realizou uma espécie de treinamento de vendas com Cassiano para que houvesse uma mudança de mentalidade nele.

Prezando por ele não sofrer as consequências de um pós-viral e acabar voltando à estaca zero após a onda, ela percebeu que precisava doar uma dose de intelecto para que ele mais à frente pudesse caminhar sozinho.

Após todo o trabalho realizado, chegou o momento que Luiza considera como um grande impulsionador do projeto. No início do mês de setembro, Alfredo Soares, um dos principais especialistas em vendas e e-commerce do Brasil e autor do livro 'Bora Varejo', realizou um evento drive-in para o lançamento de sua nova obra e contou com alguns convidados.

Alfredo já havia conhecido Cassiano quando Luiza entrou em contato com ele semanas antes e o autor e influenciador fez questão de ir até o vendedor de balas e dar um livro como forma de incentivo. Semanas depois, a dupla, que já havia viralizado nas redes sociais, estava realizando uma ativação junto à marca de balas Juquinha em meio ao evento. Com a repercussão positiva e a busca incessante da criadora do projeto por novas oportunidades, para surpresa do público, Cassiano foi chamado ao palco junto com Luiza pelo também tijucano e dono do evento para uma conversa rápida.

A história comovente de Cassiano empolgou o público, que já buzinava em forma de motivação para ele e Luiza, chamando a atenção de todos no evento. "É uma coisa muito importante você ajudar o próximo. Quando você faz isso, Deus te dá em dobro e essa garota genial me ajudou a conquistar isso tudo. Só tenho que agradecer a vocês, Luiza e Alfredo… Eu também sou tijucano", disse o rapaz ao descer do palco.

Alfredo, comovido, decidiu entrar em contato com Arapuan Motta Netto, Reitor da Unisuam, para contar a história do rapaz que, assim como muitos brasileiros, tem como sonho cursar uma faculdade. "Quando fiquei sabendo da história do Cassiano tive certeza de que é na Unisuam que ele precisa estar. Queremos ajudar a realizar mais um sonho por meio do poder transformador da educação, pois há mais de 50 anos a insituição segue firme em seu propósito, revolucionando o ensino, mas, acima de tudo, ajudando a escrever histórias de sucesso", afirma Arapuan.

E, foi assim, que a grande conquista foi confirmada. A inscrição de Cassiano no curso de Administração da Unisuam foi realizada. Entretanto, Luiza não encerrou os trabalhos. Esse é apenas mais um passo de uma linda história a ser criada, o trabalho continua e ela segue buscando parceiros e patrocinadores para que a iniciativa possa se expandir para que outros profissionais com histórias assim como a de Cassiano, possam ter a mesma oportunidade.

"Serei o melhor da classe. Podem ficar tranquilos, que honrarei a oportunidade que vocês me deram", garantiu Cassiano.

Sobre o Projeto

O projeto Eu não vendo balas consiste em trazer um pouco de solidariedade e empatia, sobretudo, no momento atual de isolamento social. Uma palavra de carinho é um gesto que pode mudar o dia das pessoas. Esse projeto surge com o intuito de ajudar não só ao Cassiano a manter uma renda em meio ao isolamento, mas também propagar mensagens de motivação em um momento de incertezas que estamos vivendo, para reacender o gesto de empatia em outras pessoas. A cada pacote de bala vendido por R$ 3, ele consegue doar um sorriso e uma frase de reflexão para quem está dentro do seu carro. "O protagonista disso tudo é o Cassiano. Essa ideia de ajudá-lo nasceu ano passado, mas com a correria da vida eu só consegui colocar em ação esse ano e parece que realmente esse seria o momento certo", explica Luiza.

A empreendedora confessa que precisou deixar alguns de seus projetos pessoais em stand-by e não mediu esforços para ajudar o rapaz. "As mensagens foram escritas por mim, nesse primeiro momento, mas a ideia é que o projeto cresça. Seja com colaboradores (poetas) que queiram disseminar a sua arte e, até mesmo, ajudando outros vendedores de bala no sinal. Foram dias virando noite para preparar as mensagens, recortar e pensar em toda a execução", revela ela.

 

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