- Artista William Rabello | @williamrabello
Artista William Rabello | @williamrabello
Por Vitor Almeida

Não se pode falar na composição social dos subúrbios do Rio sem falarmos, obviamente, do Vizinho da Maquita, como falei na coluna da semana passada. Assim como o apaixonado cortador de piso e sua incansável obra duradoura, outras personalidades acabam por fazer parte dessa obrigatoriedade. E, nesse caso, é um cargo que pode ser usado de forma lícita ou ilícita. Esse é o caso do "padrinho".

Sempre conhecido, querido ou temido - ou tudo junto - por moradores, a figura do padrinho de bairro ocupa diversos cargos no dia a dia. Ele pode ser o faz-tudo da rua, o agiota, o militar aposentado ou da ativa, o dono do boteco, o mais velho, o que pretende ser vereador… Enfim, são tantas características que um padrinho pode ocupar - e, muitas vezes, ocupando mais de uma - que as linhas dessa coluna não seriam suficientes.

Vou falar de algumas: o coroa passarinheiro, fera na mesa de carteado, que acorda as 6h da manhã e vai para a padaria passear ostentando a gaiola do coleiro, certeza que é um potencial padrinho. A entidade Zé Pelintra, habitante das encruzilhadas e portas de bares e cabarés nas noites da cidade, também. E toda essa proximidade bem típica nossa é explicada pelo historiador Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil, livros dos anos 50, quando fala sobre o quanto a complexidade de nossos dias faz o senso de proximidade entre desconhecidos florescer. É o caso de vizinhos que passam a fazer parte da família mesmo não sendo parente de sangue. Certo que dali sai um padrinho de alguém, do qual as crianças aprendem a tomar benção desde pequeno, beijando sua mão.

 

Boatos e Carnaval
Artes autorizadas pelo artista William Rabello. Favor, Crédito: @williamrabello
Artes autorizadas pelo artista William Rabello. Favor, Crédito: @williamrabello@williamrabello
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Falando em padrinhos, lembro de quando era menor e constantemente frequentava Carnaval nas ruas da Zona Norte. Com o tempo meu destino passou a ser o Centro da cidade, mas uma coisa nunca mudou: todo ano rolava os bafafás na boca-miúda sobre o quanto era pra se tomar cuidado ao sair em blocos e festas, pois alguém estava sendo prometido por grupos "justiceiros" do bairro. Existem boatos de listas que eram coladas em postes, com os nomes dos “sorteados”. Me lembro de meu avô Fernando, baiano, comentando que as crianças de sua época dormiam com medo das histórias de Lampião…
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Falando de sentimentos ambíguos...
Entre piruinhas, castores, capitães e turcos, alguns padrinhos despertaram sentimentos de amor e ódio na população. Quem não lembra dos lendários donos de pontos de jogo de bicho, que nas décadas de 70 e 80 dominavam bairros e exerciam muito de sua influência através de escolas de samba? A verdadeira expressão da corda bamba que se vive nas camadas populares passa por casos como esses: onde mora o pudor e a moral nessas situações?
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