No bairro da Mangueira, trem eletrificado (esquerda) ao lado de um trem a vapor da Central (direita). Anos 1940 - Arquivo/FerreoClub
No bairro da Mangueira, trem eletrificado (esquerda) ao lado de um trem a vapor da Central (direita). Anos 1940Arquivo/FerreoClub
Por O Dia
Rio - Quando surge a discussão sobre o que são os subúrbios cariocas, logo vem a afirmação de que são bairros por onde passam os trens. É uma percepção clássica, mas que não se resume a isso. O certo é que os trens fazem parte da vida dos bairros suburbanos, e muitos são divididos pelos muros das estradas de ferro.

A inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1858, colocou as linhas de ferro para cruzarem os distantes territórios suburbanos; grandes fazendas, chácaras e sítios foram dando lugar a lotes de terra que serviam para construção de fábricas, comércios e residências que assistiram, ano após ano, o crescimento dos bairros nos subúrbios desta cidade. Morar próximos das estações era, portanto, uma vantagem.

Tentamos entender como e em que parte da história nós, enquanto moradores dos subúrbios, perdemos a importância para esta cidade. Os reflexos estão aí, com transportes públicos que somem e nos deixam na mão. Os subúrbios eram tão importantes que, em 1937, o então presidente Getúlio Vargas inaugura os modernos trens suburbanos eletrificados, que aos poucos aposentaram as máquinas movidas a vapor. O valor dado aos trabalhadores e trabalhadoras dos subúrbios eram tanto que, para termos uma ideia, foi gasto US$ 15 milhões nestas obras, enquanto o custo da criação da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN, em Volta Redonda, foi de US$ 20 milhões.

É difícil entender o quanto nos perdemos na história que deixou de lado seus subúrbios e dificulta, dia a dia, a vida de quem precisa dos trens. É preciso pensar que os ramais que saem da Central rumo aos mais distantes municípios da Baixada Fluminense ou bairros da Zona Oeste que ali não estão apenas números que rodam as roletas, mas são histórias de vidas com sentimentos e sonhos, que vivem nesse movimento do ir e vir por estes vagões acelerados e barulhentos.
História sob trilhos
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Algumas estações contam a história tanto Rio, quanto do Brasil. É como a estação da Piedade, inaugurada em 1873, e se chamada Parada Gambá. O nome não agradava os moradores, que pediram ao diretor da estrada de ferro da época a troca do nome da estação com uma súplica: “Por piedade, doutor, troque o nome de nossa estaçãozinha”. E foram atendidos. Ou como as estações com nome de figuras históricas, como os presidentes Deodoro e Hermes da Fonseca, os prefeitos Bento Ribeiro e Honório Gurgel, senadores Augusto Vasconcelos e Otacílio de Carvalho Camará, Oswaldo Cruz e Quintino Bocaiúva.
Em Magé, a primeira estrada de ferro do Brasil
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No século 19, as ferrovias eram sinônimo de modernidade. Tornavam curtas as distâncias e mostravam a capacidade de investimentos de empresários. Aqui no Brasil, foi inaugurado em 1854 o trecho que ligava o Porto de Mauá a Fragoso por intermédio de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá. Depois, se prolongou até a Vila Inhomirim, no local conhecido como Raiz da Serra. A antiga Estação de Mauá passou a se chamar Guia de Pacobaíba, mas em nossos dias, essa história é contada baseada na precariedade, como quase tudo o que não está nas áreas consideradas nobres...