Rio - Quem já rodou pelos subúrbios sabe o que é a semana do dia 23 de abril, feriado estadual no Rio. Os preparativos começam com os anúncios de rodas de samba com feijoada; procissões e missas lotam ruas; devoção nas imagens cobertas de flores em diversas esquinas e praças pelas zonas Norte, Oeste e Baixada; grafites e artes diversas ilustram muros de estabelecimentos; bares servem copo de cerveja a ele. Quintino, bairro tradicionalíssimo e histórico, é ponto de peregrinação. Estamos falando do dia de São Jorge, claro.
O Santo Guerreiro é adorado por uma onda popular carioca e fluminense, que veste sua tradicional imagem em camisetas, abadás, bonés e acessórios diversos. O martírio de Jorge, capitão romano natural da região da Capadócia, na atual Turquia, é a expressão do fortalecimento da fé cristã no século 4. A história do guerreiro data do ano de 303, quando o então imperador romano Diocleciano teria mandado degolar Jorge por este não ter negado sua fé em Jesus Cristo, mesmo diante de ofertas de riqueza.
Padroeiro da Inglaterra e de Portugal — vindo daí a nossa devoção —, tem adeptos não só nas fileiras cristãs católicas: os sincretismos fazem os atabaques umbandistas e candomblecistas ecoarem os cantos a Ogum, orixá yorubá da metalurgia e da guerra, no Rio de Janeiro; na Bahia, se saúda Oxóssi, o caçador.
As expressões populares desta data resumem bem o cotidiano carioca suburbano: o enfrentamento diário dos dragões. O monstro mitológico aparece sendo derrotado nas imagens mais tradicionais do santo e representa os empecilhos diários de nossos trabalhadores e trabalhadoras, que no auge do desamparo dos poderes públicos veem em sua fé inabalável muitas vezes o último recurso para se buscar forças. Salve Jorge! Que sua alvorada nos desperte para novos tempos!