Rio - "Há poucos dias foi apresentada à Sua Majestade, o Imperador, uma súplica assinada por 220 habitantes da freguesia de Campo Grande, pedindo que sejam socorridos os moradores pobres da freguesia, entre os quais vão grassando com crescente intensidade as febres paludosas". A notícia de 6 de abril de 1883 no jornal 'A Folha Nova' relata a situação de uma epidemia que recaiu sobre a então freguesia rural de Campo Grande. Os apelos dos "chefes de família" do local relatam que "há falta de médicos, como também de medicamentos, visto as medidas tomadas pela Junta de Higiene não estarem em relação com o número de doentes que precisam de socorros".
Acreditava-se que tais febres eram disseminadas pelos odores de pântanos (por isso o nome "paludosa", que significa ser um local pantanoso, alagado). Obviamente, hoje sabemos que não são os odores que as provocam, mas a picada dos mosquitos que se proliferam nessas áreas.
A contenda se arrasta, com o médico responsável da localidade, dr. Manuel Lourenço Estrela, de um lado desmentindo a epidemia e duvidando do número de mortos, e do outro, o médico da Imperial Fazenda de Santa Cruz, dr. Sérgio de Oliveira, atestando a intensidade do número de doentes. Até mesmo o vigário da igreja de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, Belisário Cardoso dos Santos, precise atestar que nos "óbitos desta paróquia consta terem sido sepultados no cemitério desta matriz, em janeiro, 21, fevereiro, 40, março (até 30) 45, - total 106".
Trouxe esse exemplo do fim do século 19 para lembrarmos o que a História pode nos ensinar em relação aos investimentos públicos em atenção básica às populações das áreas afastadas do Centro. E parece que, de lá pra cá, o que mudou foram somente os nomes da administração pública, o regime político e das doenças; a falta de atenção aos subúrbios permanece.