Castores da Guilherme, torcida do Bangu  - coluna suburbano - Pedro Brandão/Divulgação
Castores da Guilherme, torcida do Bangu - coluna suburbanoPedro Brandão/Divulgação
Por O Dia
Rio - Na semana passada, o gigante Maracanã completou 70 anos. Para quem vem da Zona Sul e do Centro, o Maracanã é a porta de entrada nos subúrbios cariocas; é dali que a vida da maioria da população da cidade do Rio de Janeiro começa. É dali em diante que a Cidade Maravilhosa desencontra o Rio de Janeiro.
De certo, o Maracanã é parte de nossa história. Tenho minhas ligações com o Maracanã, a começar com um pai e um tio-avô que foram jogadores profissionais de clubes do Rio, mas quero falar mesmo do Maracanã como porta de entrada para uma cidade que ainda precisa ser cidade.
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Aqui, onde em muitos bairros a internet de qualidade não chega; aqui onde a água desce suja da torneira; aqui onde ônibus circulam pelas ruas como latas velhas e até pegam fogo durante o itinerário; aqui onde se tem os piores índices de qualidade do ar para se respirar, encontramos um Rio de Janeiro a ser refeito, superando as camadas de projetos políticos que nos trouxeram até aqui.
Sim, precisamos ter em mente que a depreciação dos subúrbios cariocas fazem parte de projetos políticos de sacrifício de uns em benefício de outros.
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Para além do Maracanã, uma construção de identidade se forma, ano após ano, por meio das torcidas de clubes históricos de nossos bairros. Da Zona Norte à Oeste, jovens desses bairros resgatam o orgulho local através dos times. Juntam-se a moradores mais antigos e reerguem o sentimento jogada para baixo numa onda de destruição de autoestima proporcionada principalmente pelos noticiários e seu bombardeio de notícias sobre violência.
As torcidas dos times de nossos bairros, expressões espontâneas através do sentimento que só o futebol consegue mobilizar, são uma importantes chaves para falarmos sobre a reciclagem do Rio de Janeiro a partir dos subúrbios cariocas.
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E o que temos para as eleições deste ano?
Poucos dias atrás, li no Informe do Dia sobre um pré-candidato a prefeito do Rio que pretende focar na Zona Sul. É legítimo que pense assim, principalmente por ser oriundo dessa região. Mas, enquanto morador dos subúrbios, questiono se o mesmo pré-candidato realmente conhece a História do Rio para tentar se dispôr a disputar a vaga do Executivo por aqui. É que ele disse que "As pessoas falam da Zona Sul do Rio de Janeiro como se fosse uma região de privilegiados. Não é". Aconselho o aspirante a prefeito da cidade retornar aos livros e documentos históricos e administrativos do Rio de Janeiro para tentar basear melhor sua afirmativa.
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Por um Rio suburbano
A cidade carece ser pautada por suburbanos e suburbanas. Gosto de lembrar que somos a maioria da população, e uma maioria que vive sob os descasos históricos, falta de planejamentos e de perspectiva. Quem fala que precisamos continuar nos deslocando para a Zona Sul para continuar trabalhando, por exemplo, está fora de sintonia com tendências de cidades grandes ao redor do planeta, que cada vez mais promovem a proximidade do lar de trabalhadores e trabalhadoras. Esse ano vai ser importantíssimo para se colocar a vida nos subúrbios do Rio como prioridade nas políticas da cidade.