Volta Redonda - Os professores voluntários do Pré-Vestibular Cidadão (PVC) do Movimento Ética na Política de Volta Redonda (MEP-VR) comentaram sobre o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021.
Os comentários, de forma quase consensada, consideraram o assunto: "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", exigente, porém seguindo o padrão INEP já conhecido dos outros anos.
“A prova de linguagens exigia fôlego. Vários textos longos. Já a prova de redação trouxe um tema bastante pertinente. Muitos cidadãos não tiveram acesso aos programas sociais por falta de documentação. No entanto, os alunos das escolas públicas que tiveram poucas aulas de sociologia e de geografia, por exemplo, com certeza encontraram dificuldades para embasar a argumentação. Ainda que os textos de apoio tenham sido bem escolhidos, muitos devem ter sentido isso”, disse a professora e mestra em Língua Portuguesa, Juliana Lima.
A doutora em Literatura e professora na área de Linguagens no PVC, Abigail Ribeiro também deixou sua opinião.
“A realidade de um Enem excludente foi lançada aos olhos dos candidatos. Se os que fizeram a prova são os privilegiados que não se preocupam com o contexto em que o país está imerso e que acreditam na realidade de um Enem com a "cara do atual governo”, certamente se prejudicaram muito no repertório necessário para desenvolver um tema que escancara seus privilégios. Pode-se perceber que, por mais que tenha havido censura, os educadores responsáveis pela elaboração da prova sempre se superam na abordagem e fidelidade à proposta interdisciplinar e de adesão à democracia e aos direitos humanos”, comentou.
“Assim que vi a proposta de redação do Enem hoje, pensei comigo: aqueles funcionários que se demitiram do Inep fizeram seu trabalho primeiro pra depois denunciar o desmonte. Falo isso, pois o tema exige um cidadão participativo e reflexivo, preocupado com questões sociais e segue um padrão já sedimentado pelo exame. O tema chama atenção da sociedade para o direito ao registro civil e levanta questões relativas à igualdade, à liberdade e à justiça.” Beatriz Pacheco, mestra em Comunicação e Cultura e professora licenciada do Pré-vestibular Cidadão.
O engenheiro, mestrando em administração pública e professor de redação no Pré-Vestibular Cidadão, Ciro Santos citou que o tema promove uma profunda reflexão.
“A proposta de Redação do ENEM 2021 é cirúrgica ao abordar a falta de acesso a documentos civis básicos, enquanto instrumento de uma visão macro de desigualdade social. Como é de praxe, o concurso traz um elemento de profunda reflexão, onde é esperado que o candidato não somente discorra sobre o problema, mas também trabalhe a intertextualidade e agregue seus próprios conhecimentos e vivências para argumentar sobre uma proposta de solução”, citou.
A professora na área de Linguagens no PVC, também mestra em Literatura Brasileira, Elisa Andrade falou que era possível encontrar caminhos para a argumentação nos próprios textos motivadores.
“Ao primeiro contato, acredito que os candidatos tenham se assustado com o tema, pois praticamente não há debates sobre o assunto. Apesar disso, em um segundo momento, com mais calma, é possível encontrar caminhos para a argumentação nos próprios textos motivadores. Um deles, “Mapa da invisibilidade no Brasil”, afirma que há uma lei que garante gratuidade no registro de nascimento e mostra números surpreendentes de indivíduos sem identificação. E por aí já aparece uma questão: se é gratuito, por que tantos não usufruem desse direito? Os temas de redação do ENEM de todos os anos promovem discussões importantes e é urgente que as reflexões que surgirem por meio deste último estimulem ações que busquem solucionar tal problema. É inadmissível que, em pleno século XXI, haja tantas pessoas invisíveis no Brasil”, pontuou.
O doutor em Língua Portuguesa, Alexandre Batista da Silva, relatou que o tema trouxe uma reflexão sobre um problema que merece atenção social.
“Todos os temas de redação das provas anteriores do ENEM foram um problema social. Desse modo, sempre há um estrato social que perde acesso aos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição Brasileira. A exigência é que o candidato reflita sobre as causas e soluções dessa situação. Nesse sentido, o tema proposto para redação da versão do certame deste ano está absolutamente dentro desse padrão. Corrobora, ainda, para essa ideia, o fato de o candidato ter sido convidado para uma reflexão sobre um problema que merece atenção social sem, contudo, se envolver em paixão política fervorosa. O tema foi, por isso, perfeito. O que se deve questionar com muita criticidade é qual foi a motivação para o nervosismo criado dias antes da avaliação. Fica claro o descontrole dos administradores desse concurso no tratamento de uma questão que envolve um momento tão importante para milhões de pessoas”, disse.