A Polícia Civil acredita que o atendimento ao traficante socorrido em uma ambulância levada da UPA Maré, domingo, tenha sido feito em clínica particular. Investigadores já têm o GPS da ambulância em mãos, que aponta o local como a Baixada. "Pelo relato do médico, pelo estado crítico em que o traficante foi socorrido, necessitando amputar um braço, deve ter sido feito em clínica particular, mas de forma clandestina, ou seja, para a polícia não ter conhecimento", disse Wellington Vieira.
O médico sequestrado afirmou que ficou somente dentro da ambulância durante três horas e meia. Após isso, ele foi colocado em um carro preto e levado de volta para a Maré. Segundo o RJTV, o médico é colombiano e, após o ocorrido, deixará o país.
A investigação do caso começou domingo, quando traficantes trocaram tiros com PMs na Linha Amarela. Um policial foi baleado. Os criminosos fugiram para a Vila do João, onde pediram ajuda na UPA para socorrer um traficante ferido na ação. Sequestraram, então, um clínico-geral da unidade para prestar socorro em outro local, além de uma ambulância.
De acordo com informações passadas ao delegado, o trânsito de traficantes é comum na UPA Maré. "Ficam na frente, andando nas ruas. Tanto que 50 deles estavam lá quando a ambulância chegou". A partir do depoimento do médico, que foi liberado três horas depois, ele vai investigar se os profissionais são contratados pelo tráfico de drogas. "Em depoimento, o médico sequestrado contou que dois homens que subiram na ambulância faziam perguntas com termos técnicos, indicando que teriam conhecimentos de Medicina".
Essa não seria a primeira vez que profissionais da saúde teriam sido contratados por traficantes na Maré. Em junho do ano passado, em uma casa onde o traficante Nicolas de Jesus, o Fat Family, estava escondido após ser resgatado do Hospital Souza Aguiar, a polícia encontrou ataduras, soro, gazes e anotações de tratamento médico.
CONTRADIÇÕES
O médico sequestrado e o motorista que levou a ambulância do Engenho Novo até a Maré caíram em contradição nos depoimentos. Uma delas é a de que o médico disse a policiais que "dois homens subiram na ambulância, antes da saída da Maré. Os dois faziam perguntas em termos médicos". O médico também disse que não identificou nenhum dos homens, nem o rosto do traficante por fotos. O motorista disse que um dos homens que subiu era o porteiro da UPA.
"Temos que ouvir novamente o médico sequestrado. O depoimento foi superficial", declarou Vieira. Segundo ele, o médico cobria um plantão na Maré, mas integra a unidade da UPA Engenho Novo. "Parece que um médico faltou e ele assumiu o serviço na Maré às 19h".