Por Bruna Fantti

A Polícia Civil acredita que o atendimento ao traficante socorrido em uma ambulância levada da UPA Maré, domingo, tenha sido feito em clínica particular. Investigadores já têm o GPS da ambulância em mãos, que aponta o local como a Baixada. "Pelo relato do médico, pelo estado crítico em que o traficante foi socorrido, necessitando amputar um braço, deve ter sido feito em clínica particular, mas de forma clandestina, ou seja, para a polícia não ter conhecimento", disse Wellington Vieira.

O médico sequestrado afirmou que ficou somente dentro da ambulância durante três horas e meia. Após isso, ele foi colocado em um carro preto e levado de volta para a Maré. Segundo o RJTV, o médico é colombiano e, após o ocorrido, deixará o país.

A investigação do caso começou domingo, quando traficantes trocaram tiros com PMs na Linha Amarela. Um policial foi baleado. Os criminosos fugiram para a Vila do João, onde pediram ajuda na UPA para socorrer um traficante ferido na ação. Sequestraram, então, um clínico-geral da unidade para prestar socorro em outro local, além de uma ambulância.

De acordo com informações passadas ao delegado, o trânsito de traficantes é comum na UPA Maré. "Ficam na frente, andando nas ruas. Tanto que 50 deles estavam lá quando a ambulância chegou". A partir do depoimento do médico, que foi liberado três horas depois, ele vai investigar se os profissionais são contratados pelo tráfico de drogas. "Em depoimento, o médico sequestrado contou que dois homens que subiram na ambulância faziam perguntas com termos técnicos, indicando que teriam conhecimentos de Medicina".

Essa não seria a primeira vez que profissionais da saúde teriam sido contratados por traficantes na Maré. Em junho do ano passado, em uma casa onde o traficante Nicolas de Jesus, o Fat Family, estava escondido após ser resgatado do Hospital Souza Aguiar, a polícia encontrou ataduras, soro, gazes e anotações de tratamento médico.

CONTRADIÇÕES

O médico sequestrado e o motorista que levou a ambulância do Engenho Novo até a Maré caíram em contradição nos depoimentos. Uma delas é a de que o médico disse a policiais que "dois homens subiram na ambulância, antes da saída da Maré. Os dois faziam perguntas em termos médicos". O médico também disse que não identificou nenhum dos homens, nem o rosto do traficante por fotos. O motorista disse que um dos homens que subiu era o porteiro da UPA.

"Temos que ouvir novamente o médico sequestrado. O depoimento foi superficial", declarou Vieira. Segundo ele, o médico cobria um plantão na Maré, mas integra a unidade da UPA Engenho Novo. "Parece que um médico faltou e ele assumiu o serviço na Maré às 19h".

Investigadores descartam que traficante seja o TH
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O delegado afirmou que há contradições entre os depoimentos do médico e do motorista da ambulância sobre a ação de bandidos da Vila do João, que os obrigaram a transportar um traficante ferido. Informações recebidas pela delegacia já descartam que seja o traficante Thiago Folly, o TH.
Entre as contradições, está a identificação das pessoas que foram na ambulância. Além disso, o médico afirmou que não fez nenhum procedimento no bandido ferido e contou que não foi levado para nenhuma clínica. Disse também que foi deixado no meio do caminho depois de ter ficado cinco horas em poder dos bandidos, o que também causou estranheza.
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O médico disse que não reparou no rosto do paciente, mesmo tendo passado três horas com ele. Já o motorista fez uma descrição do criminoso ferido: cabelos castanhos, forte e pardo. Nem a descrição física o médico conseguiu realizar.
Outra contradição apontada é que o médico afirmou que um carro preto seguiu a ambulância. Já o motorista disse que o carro não era preto. Além de novo depoimento, o delegado quer mostrar mais fotos de TH ao médico.
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Entre os depoimentos previstos estão funcionários da UPA. Vieira acredita que o médico esteja omitindo informações por medo. Acredita que a mulher que foi na ambulância, uma loira, baixa, com cerca de 30 anos, seja mulher do ferido.
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