Rio - Baleado em confronto na Rocinha, o soldado Tiago Chaves da Silva morreu na madrugada desta sexta-feira. Lotado no Batalhão de Choque, o policial militar foi internado em estado grave no Hospital Municipal Miguel Couto após ser ferido no abdômen em intensa troca de tiros, na tarde desta quinta. A vítima chegou a passar por uma cirurgia, mas não resistiu. Ele é o 10º PM assassinado no estado em 2018.
Durante o dia, a corporação chegou a pedir doações de sangue para o policial. Amigos e parentes do PM criaram também um grupo no WhatsApp para promover a campanha. Um amigo de Tiago, também policial do Choque, contou que trabalhou com ele na Aeronáutica antes de os dois irem para a PM.
"Ele queria estar no Choque e estava cumprindo o sonho dele. Aprendemos a conviver com a violência. Quando estamos de folga, não andamos armados para evitar isso. Tiago era muito pacífico", contou o amigo, que preferiu não se identificar. Morador de Bangu, Tiago deixou um filho de 5 anos e uma mulher. O policial era faixa preta de jiu-jitsu e participava de maratonas de corrida.
Rocinha pede socorro
'Hoje (ontem), a Rocinha fechou! Não somos contra o governo, mas a gente queria entender que política de segurança é essa?'. O questionamento, em tom de desabafo, é do vice-presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Alexandre Pereira. Ao todo, foram seis feridos à bala no confronto: três suspeitos, dois policiais e um morador. Até o cão de um morador foi atingido.
Há quatro meses, a comunidade de mais de 60 mil habitantes é área de combate entre traficantes e policiais. Porém, o dia de ontem superou todos os outros. Das primeiras horas da manhã, quando começaram os tiroteios, até o fim da tarde, quando um ônibus foi incendiado na Avenida Niemeyer, em frente ao Morro do Vidigal, vizinho da Rocinha, foram registrados oito confrontos, um recorde, segundo aplicativo Onde Tem Tiroteio.
Além das vítimas, os sucessivos tiroteios asfixiam a vida na comunidade. "Viver sem água e sem luz é brabo", reclama Pereira. O líder comunitário disse que mais da metade da favela está sem energia, porque as equipes da Light não conseguem fazer os reparos das redes destruídas pelos tiros.