Doze pessoas foram detidas e levadas à Cidade da Polícia em mais um dia de operação no Jacarezinho em busca de assassinos de policiais - Severino Silva
Doze pessoas foram detidas e levadas à Cidade da Polícia em mais um dia de operação no Jacarezinho em busca de assassinos de policiaisSeverino Silva
Por JONATHAN FERREIRA

Rio - Seis pessoas foram mortas, entre elas um tenente da PM, e um morador ficou ferido, ontem, durante operações policiais realizadas em comunidades das zonas Norte e Sul da cidade para reprimir o tráfico de drogas. Os confrontos ocorreram um dia após o governador Luiz Fernando Pezão receber lideranças comunitárias das favelas da Rocinha no Palácio Guanabara e prometer manter aberto um canal de diálogo, além de dizer que no estado "se mata PM como se mata galinha". No encontro, Pezão pediu a colaboração dos moradores e prometeu que iria pedir à cúpula da segurança abordagens com mais inteligência, para evitar guerra.

Na Rocinha, o entregador de jornais Henrique Fernandes Benedito, de 42 anos, foi baleado de raspão na cabeça quando voltava para casa. Ele foi levado para o hospital e está fora de perigo. Durante o confronto, dois suspeitos de atuarem no tráfico de drogas foram mortos. Desde setembro, quando foi iniciada a guerra pelo controle da venda de drogas entre os traficantes Antonio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e Rogério da Silva Avelino, o Rogério 157, a PM contabilizou 39 pessoas mortas na Rocinha, sendo 37 suspeitos, um PM e uma turista espanhola. No mesmo período, 83 pessoas foram presas e 17 adolescentes apreendidos. Benedito foi o décimo morador baleado na comunidade desde o início dos confrontos. A PM apreendeu, ainda, 99 armas, sendo 36 fuzis, e duas toneladas de drogas.

Apenas este ano, 47 policiais já foram baleados e 14 foram mortos 13 PMs e um civil. O caso mais recente foi do tenente Eduardo de Barros Almeida, de 30 anos, atingido, ontem, durante confronto na comunidade Parque Royal, na Ilha do Governador. Ele chegou a ser levado para o Hospital Municipal Evandro Freire, mas não resistiu. Almeida estava na corporação desde 2011 e era lotado no 17ª BPM (Ilha do Governador). O portal dos Procurados divulgou um cartaz com recompensa de R$ 5 mil para quem tiver informações que levem à prisão dos envolvidos no crime.

A rotina de terror dos moradores no Jacarezinho prosseguiu ontem. Em mais uma operação, que mobilizou 300 agentes, três suspeitos foram mortos e 12 pessoas, presas. De acordo com a Polícia Civil, as vítimas foram socorridas e encaminhadas ao Hospital Federal de Bonsucesso, mas não resistiram. Três pistolas e drogas foram apreendidas. O objetivo era cumprir mandados de prisão contra envolvidos no tráfico de drogas e nos homicídios do delegado Fábio Monteiro, no dia 12, e do policial civil Bruno Guimarães Buhler, ano passado.

Os moradores da Tijuca também lidaram com a operação policial realizada no Morro da Formiga para prender os suspeitos de matar o garçom Samuel Coelho, de 24 anos. A vítima foi atingida por um tiro, na noite do último sábado, após confronto entre PMs e criminosos que saíram do Morro da Formiga e poderiam estar se dirigindo à Rocinha. Nenhum criminoso foi encontrado e não houve apreensão de drogas ou armas.

Em Costa Barros, um suspeito foi baleado durante operação da PM na comunidade Quitanda. Uma arma foi apreendida com a vítima. O estado de saúde do ferido não foi divulgado.

 

Especialista: 'Confronto é última solução'
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O recrudescimento da política de enfrentamento no combate ao tráfico de drogas e armas no estado foi criticado pelo presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa. Ele afirmou que, antes de iniciar o confronto, o estado precisa valorizar as polícias.
Costa destacou que os policiais precisam de mais recursos para atuar na prevenção e elucidação dos crimes. "É evidente que o estado perdeu o controle da situação", lamentou. Ele afirmou que a sede da ONG Rio de Paz, no Jacarezinho, foi atingida por cerca de 230 tiros nos últimos confrontos registrados na favela.
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O coordenador de Segurança Humana do Viva Rio e ex-comandante geral da PM, coronel Ubiratan Ângelo, declarou que o estado ainda não encontrou uma forma para interromper as ações violentas do tráfico no Jacarezinho e Rocinha. "Uma coisa é o comércio de drogas, outra é a violência inserida na disputa territorial. Se o governo não consegue evitar a chegada de armas e drogas, a única solução é o confronto", ressaltou.
O sociólogo Ignacio Cano acredita que o atual governo não possui condições financeiras e políticas para implementar um plano de segurança que apresente resultados satisfatórios. "Não há solução a curto prazo. O governo está estacionado, sem recursos", disse. "Se o trabalho da polícia deixa a população vulnerável e insegura, é preciso dialogar com os moradores para repensar a atuação", avaliou.
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