Fernando Mansur
Fernando MansurO DIA
Por Fernando Mansur
Nas páginas 355-56 do seu livro de Memórias (Ed. Nova Fronteira), Jung narra um de seus sonhos reveladores. Neste, um ancestral lhe propusera uma questão que ele não sabia responder. O psiquiatra, que estava numa viagem de férias, decidiu voltar correndo para casa a fim de retomar a tarefa de ‘traduzir’ o sonho.
Passo-lhe a palavra: “Era necessário trabalhar e encontrar a resposta. Só muito depois é que compreendi o sonho e minha reação: o senhor de longa cabeleira era uma espécie de ‘espírito dos ancestrais ou dos mortos’; ele me colocara questões às quais não soubera responder.
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Eu estava ainda muito atrasado. Não tinha avançado bastante, mas tinha como que um obscuro pressentimento de que pelo trabalho a que então me dedicava eu responderia à questão que me fora proposta. De qualquer maneira eram meus ancestrais espirituais que me interrogavam, na esperança e na expectativa de que pudessem aprender aquilo que não tinham podido saber em seu tempo; conhecimento que os séculos ulteriores poderiam criar e trazer-lhes.
Se a questão e a resposta houvessem existido desde sempre, meus esforços teriam sido inúteis, pois tudo poderia ter sido descoberto, não importa em que século. Parece, com efeito, que um saber sem limites está presente na natureza, mas que tal saber não pode ser apreendido pela consciência a não ser que as condições temporais lhe sejam propícias.
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O mesmo ocorre provavelmente na alma do indivíduo que traz consigo, durante anos, certos pressentimentos, mas só os conscientiza tempos depois.”
Creio que estas são outras reflexões profundas de nosso já amigo psiquiatra suíço, de fato cidadão do mundo, onde quer que esteja. De onde ele está agora, como ele nos verá? Será...?