Fernando MansurO DIA

No volume 5 da coleção recém-publicada “Os Livros Negros de C.G. Jung”, da Editora Vozes (são seis volumes ao todo, o psiquiatra suíço diz dialogar com sua “Alma”. Selecionei um trecho bem instigante. Em geral, em suas pesquisas os acadêmicos, os cientistas, não costumam deixar muito espaço para o imponderável, o místico, o metafísico, digamos assim.
Neste diálogo, que está nas páginas 231/32, há uma conversa muito interessante e inusitada entre Jung e sua suposta Alma. Diz ela: “Deves tornar-te sério, e tua palavra precisa ser pesada como ferro, deve se afundar no solo da humanidade. Abre mão do excesso de Ciência. Lá está o caminho, não teu caminho. Teu caminho vai para a profundeza, para o mais raro e profundo. Ciência é superfície, instrumento, língua. Ainda precisas perceber com clareza a infantilidade da Ciência”.
Jung pergunta: "Eu sou um escolástico?". E a Alma responde: “Isso não, mas és científico, a Ciência é uma versão mais recente da escolástica. Isso deve ser superado”. O psiquiatra continua indagando e o diálogo prossegue: "Eu não me oponho ao espírito do tempo se eu me dissociar de toda Ciência?". “Não deves te dissociar totalmente, mas contempla que a Ciência é apenas tua linguagem”. "‘Até quais profundezas exiges que eu avance?". “Sempre para além de ti mesmo e do atual”. ...
Este extenso diário – que vai de 1913 a 1932 – só teve autorização para ser publicado após a morte do autor. Por que será?
Fernando Mansur