Você ama fazer luau com os amigos? Não podia.
Curte jogar uma bolinha, tomar uma cervejinha, escutar um pagode à beira mar? Esquece.
Você vende mate, biscoito Globo, camarão fritinho ou pau de selfie? Saiba que não podia berrar - além que não podia negociar nada.
Você vai de biquíni? Nem pensar. De sunga? Impossível.
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O decreto assinado pelo prefeito do então Distrito Federal Amaro Cavalcanti, em 1917, era direto: banhos de mar somente estavam permitidos das 5h às 9h e das 16h às 18h de 1 de abril a 30 de novembro.
E o resto do ano?
Tinha moleza do dia 1 de dezembro a 31 de março: era permitido frequentar as praias de 5 da matina às 8h e das 17h às 19h.
Se estivesse fora desse horário e não cumprisse as normas que também indicavam vestimentas “apropriadas”, de duas, uma: ou pagava uma salgada multa ou ia em cana por cinco dias.
Prisão, meu chapa.
A época de Amaro Cavalcanti, hoje nome de avenida no Méier, foi marcada por uma troca de cultura: se antes a praia era encarada como espaço terapêutico, de tratamento, agora era cada vez mais de diversão.
Nesse período foram instalados os primeiros postos de guarda-vidas em Copacabana. Virou febre ir pegar um solzinho na famosa areia.
Havia um temor que afogamentos manchassem a imagem turística que o Rio de Janeiro começava a imprimir no mundo.
Esse é considerado um dos motivos da tomada radical de atitude do prefeito. Mas um ponto além deve ser considerado: o desejo de manter um tal pudor. Sabe, né?
Só faltava vestir terno e gravata para ir dar um mergulhinho. Era complicado.
Como pode-se prever, muita água passou por debaixo da ponte até o biquíni de Leila Diniz chocar a moçada na década de 1970 ou de Luz Del Fuego criar sua própria ilha de nudismo: teve campanha contra a praia e à favor de limites, prisões e mais prisões e até quem alugasse barcos para fugir da fiscalização.
Essa está valendo até hoje.
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Dom João VI e o complicado banho de mar
Em seu turbulento período no Brasil, o príncipe-regente Dom João VI viveu maus bocados por causa de um carrapato.
Tomou uma mordida e infeccionou.
Dom João VI era capaz de enfrentar a tropa de Napoleão Bonaparte para fugir de um bom mergulho.
As idas dele para a praia do Caju, bem pertinho do hoje Cemitério, eram verdadeiras novelas.
O rapaz ia dentro de um barril e só molhava as pernas. Rápido. Bem rápido.
Os portugueses não eram afeitos ao banho, seja de mar, de chuveirão ou o que fosse.
Ao contrário dos índios, que nos deixaram essa herança.