Feira de São Cristóvão - Ag. O Dia
Feira de São CristóvãoAg. O Dia
Por Thiago Gomide
Para os mais entendidos, ali é um caminho sagrado dos karaokês. Se você quer estufar os pulmões e soltar o gogó a toda não há canto melhor que a Feira de São Cristóvão.

Esse colunista se orgulha de fazer parte do coro que não encontra limites na interpretação de “Evidências”, “Deslizes”, “Xota das meninas” e “La Barca”, na versão do Luís Miguel.

É expulsar qualquer energia negativa. É Elba Ramalho com Fagner. É Luiz Gonzaga com Lucy Alves.

Antes é sugerido carregar o estômago. Opções não faltam.

As tradicionais barriquinhas que marcaram a história da Feira, ainda no campo de São Cristóvão, perderam espaço para estruturados restaurantes. Os preços nem sempre são convidativos.

O karaokê entrega uma realidade que já antecipei: os sotaques ganharam novas cores. Se antes era um espaço predominantemente nordestino, agora é um cantinho reservado para as mais diversas tribos.

Têm seus lados positivos e, evidentemente, negativos.

A história da Feira, que é muito anterior dessa que visitamos atualmente, tem em sua digital a coragem e a resistência.

Hoje é molezinha comer um baião de dois, dançar ao som de Dominguinhos, aplaudir os rimadores, comprar rapadura pra viagem ou até mesmo cantar “I will survive” às 4 da matina.

Depois de 10 a 12 dias de viagem, nordestinos, em especial pernambucanos, saltavam no campo de São Cristóvão.

Vinham sem emprego, sem lugar para se instalarem, sem família, sem eira nem beira. Muitos sem grana para tirar a mala do bagageiro do pau de arara. O motorista mantinha como calção.

Ao invés do acolhimento, críticas e preconceito. A imprensa endossava isso. Eram vistos como menores. De fora da civilização. Um universo paralelo.

Como em todo conto interessante, a resistência também vem da memória, do lúdico, da cultura. Em pouco tempo, já eram vistos na região passos de dança, triângulo rolando, zabumba soando, homens lendo cordéis e barraquinhas vendendo comidas típicas.

A Feira se estabelece como Feira, sendo tratada dessa forma, em setembro de 1945. Soldados vindos da Segunda Guerra pararam por ali. Raimundo Santa Helena então leu um folheto para a turma vitoriosa.

Brindava-se o começo de uma saga.

E nessa trajetória ainda viveriam inúmeras tentativas de remoção. Muitos prefeitos tentaram. Resistentes, os nordestinos ganhavam as lutas ao som do fole.

Só em 1982 ela foi legalizada e em 2003 a Feira teve seu funcionamento transferido para o pavilhão de São Cristóvão.

Um dos grandes sucessos de Luiz Gonzaga é “Respeita, Januário”. Como o nome sugere, a composição pede para que se tenha respeito com o passado.

“Luí respeita Januário

Luí respeita Januário

Luí, tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso

E com ele ninguém vai, Luí”.

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Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas

A Feira de São Cristóvão recebe o nome de Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.
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Covid-19 e volta das atividades
O DIA registrou quando a Feira voltou às atividades. 
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Clique aqui para ler como está a segurança.  
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Saiba mais sobre Tapioca
Há uns bons anos, fiz uma reportagem pelo Canal Futura sobre a riqueza da farinha de tapioca.
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"Com essa busca por refeições rápidas, práticas e saborosas, os produtos nacionais estão ganhando cada vez mais espaço. Um bom exemplo é a tapioca. Onde antes víamos carrocinhas de cachorro quente, hoje é comum encontrarmos carrocinhas de tapioca. Nos shoppings centers, são comuns os quiosques Isso sem contar os locais especializados, como as feiras nordestinas, onde a tapioca é uma das principais atrações. Matéria-prima da iguaria, a mandioca é um dos mais tradicionais e populares produtos da nossa gastronomia, que foi inclusive descoberta recentemente por chefs estrangeiros em atividade no país", escrevi na época. 
A Feira foi um dos cenários.