
Os moradores da Ilha do Fundão pareciam só ter um assunto: a proliferação de aranhas conhecidas como “Flamenguinhas”, prima distante da perigosa “Viúva Negra”.
Eram vistas em tudo que era canto.
Você estava almoçando e batia de cara com uma. Estava sentadinho em um banco e logo apareciam algumas para incomodar. Tirando aquela pestana e acordava com uma danada na testa.
Entravam nos sapatos. Subiam pelas calças. Pelos vestidos. Além do evidente incomodo, havia a informação que elas eram peçonhentas. Casos de ataque foram registrados.
Precisava-se resolver aquela parada. O Rio de Janeiro corria risco. Até o presidente da república, Jânio Quadros, entrou no circuito prometendo dar um fim ao problema.
O gigantesco ninho ficava perto do Instituto de Puericultura da então Universidade do Brasil. Crianças, inclusive, estavam internadas nesse lugar.
“Olha o perigo", muitos defendiam.
Para descascar uma maça, o Rambo se vangloriava de usar uma faca de 30 centímetros. Nós nos orgulhamos de preparar uma verdadeira guerra contra as bichinhas.
Foram instalados cem tambores de óleo e gasolina. Jatos da Força Aérea Brasileira iriam jogar bombas exatamente nesses alvos, ampliando a potência e destruindo o que tivesse pela frente.
Bombas incendiárias, que lembram aquelas lançadas pelos americanos no Vietnã, tomaram conta. As fotos impressionam. De longe só era possível perceber que pedaços de terra pulavam para tudo que é canto. E fumaça, muita fumaça.
Houve aplausos. Houve quem jurasse ser o fim daquela praga. Houve quem sonhasse com um almoço tranquilo. Houve quem pensasse que “pronto, vida normal, posso dormir em paz".
Logo chegou a informação que nossos bravos pilotos sofreram com a concorrência do vento. As bombas não acertaram os tambores.
E pior: com as explosões e contando com um mecanismo de defesa, as aranhas mais jovens conseguiram acompanhar as correntes aéreas e pararam em outros lugares.
Aranhas espalhadas significava, significa e sempre significará novos ninhos.
Até na Barra da Tijuca elas foram parar. Niterói, coitada!, só faltou receber uma festa de aracnídeos.
Mais alguns ataques precisaram ser feitos para consertar a barbeiragem.
A chamada Operação Aranha não foi um sucesso absoluto, como pudemos ver, mas não se escutou mais sobre o imenso ninho.
Na Ilha do Fundão, é claro.
*
Por que Viúva-Negra?
Porque muitas fêmeas têm o hábito de devorar o macho após a cópula.
Eita.
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Puericultura?
“É a ciência que reúne todas as noções (fisiologia, higiene, sociologia) suscetíveis de favorecer o desenvolvimento físico e psíquico das crianças, desde o período da gestação até a puberdade”, é a definição mais encontrada nos portais sérios de ciência.