Pacientes de Nise exercitando a arte Reprodução internet

Por Thiago Gomide
Conversava com Fernanda, minha companheira, sobre mulheres impactantes na história. Acompanhados por quitutes, viajamos do Egito à Baixada Fluminense, passando pelo nordeste brasileiro, Paris e até Ásia.
Evidente que apareceram centenas de casos incríveis. "Há quanto tempo não escuto sobre Egipcíaca", disse em tal momento.
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Aqui na coluna, já escrevi sobre diversas mulheres. Hoje, no dia internacional das mulher, decidi relembrar a vida e a obra de Nise da Silveira, revolucionária para seu tempo e bom farol de debates.
Veja só.
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Nascida em Maceió, Alagoas, Nise da Silveira foi estudar medicina na Bahia. Isso com 15 anos de idade. Ficou em Salvador de 1926 a 1933.
Era a única mulher em uma turma com mais de 100 homens. Está entre as primeiras mulheres a se formar na profissão no nosso país.
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A década de 1930 trouxe uma participação intensa de Nise na luta pelo comunismo. Em 1936, ela é presa. Foi denunciada por ter livros comunistas em casa. Ficou 18 meses no presídio da Frei Caneca.
O escritor Graciliano Ramos também estava preso lá. Inclusive Nise acabou se tornando personagem do clássico “Memórias do Cárcere”.
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Nise da Silveira ficou na clandestinidade de 1936 a 1944, quando ela consegue retornar ao serviço público.
Nise passou em 1933 no concurso federal na assistência a psicopatas de profilaxia mental. Cargo: médica psiquiatra. Ela vai para o Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro.
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É a partir desse momento que chegamos ao lado mais conhecido da Nise. Tanto no centro psiquiátrico, no Engenho de Dentro, tanto em palestras, debates, ela se posicionava radicalmente contra as práticas usuais de tratamentos psíquicos. Na opinião dela, são muito agressivos.
Ela se recusava a dar eletrochoque, a fazer lobotomia, que deixa o paciente em estado neurovegetativo...De tanto se recusar, ela acabou sendo transferida para trabalhar com terapia ocupacional. Se você acha que foi um problema, esqueça. Nise proporcionou aos pacientes uma maneira diferente de reconectar os vínculos com a realidade. Ela criou ateliês de pintura e modelagem, usando a arte para reabilitar. Era um soco no estômago da turma que aplaudia a violência como solução.
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Em 1952, Nise funda o Museu de Imagens do Inconsciente. Em pouco tempo, ele se torna um grande centro de estudos e preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura. 4 anos depois, em 1956, ela fundou a Casa das Palmeiras, em Botafogo, clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes.
Em Paris, nas décadas de 1950 e 1960, ela foi aluna do famoso psicólogo Carl Jung. Nise foi pioneira em trazer a terapia junguiana para o Brasil.
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O filme “Imagens do Inconsciente”, do diretor Leon Hirszman, mostra o que foi produzido pelos pacientes. É impressionante a força.
Nise da Silveira morre em 1999, com 94 anos. A loucura seria diferente depois dela.
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Vale muito ver “Nise: o coração da loucura”, do diretor Roberto Berliner.
Fica a dica.