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Por Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
Conhecido como uma velha raposa da política mineira, o matreiro Magalhães Pinto dizia: "A política é como nuvem. Você olha e ela está lá de um jeito. Olha de novo e ela já mudou."
Concordemos ou não com ele, a capacidade de analisar os fatos e decidir mudar, em um curtíssimo espaço de tempo, dadas as circunstâncias políticas e sociais, é que faz a grande diferença na colocação das pedras no tabuleiro das eleições.
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Claro que há muito de conhecimento político, de sentimento do mundo e de um bocado de sorte, pois o futuro é imponderável. No Brasil de hoje, nem o passado é previsível.
Se fizermos um recorte do momento político, numa foto 3x4, o genocida que preside o país é uma mancha pálida a caminho do cadafalso com apoio dos fascistas, dos religiosos radicais e de um grupo que sempre bancou o jogo. Os donos das fichas e das apostas são quem estabelecem o verdadeiro custo do Brasil.
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A questão é essa. A verdade nua é que o Brasil tem preço. E a cotação não está nas nossas riquezas, no nosso potencial e no valor do nosso povo. O nosso valor é decidido pelos mesmos senhores que nos mantêm atrelados a um atraso que é cúmplice dos fascistas atualmente no poder. Cúmplices e sócios.
A política do Bolsonaro de culto à morte não poderia ter esse protagonismo absoluto. Num regime presidencialista, o apoio do Congresso deveria ser claramente considerado. É muito interessante observar o atual movimento sobre o impeachment do presidente. Embora seja gravíssimo banalizar tal instituto, acompanhar a história nos faz bem.
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A manifestação do ministro Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no sentido de que o afastamento da ex-presidente Dilma se deu, sem sombras de dúvidas, na ausência de crime comum ou crime de responsabilidade é verdadeira e grave. O próprio vice, que assumiu a presidência com o impedimento da presidente, num lapso de coerência, assumiu que foi um golpe.
O fato é que hoje as provas do cometimento de crime de responsabilidade do atual presidente acontecem em profusão. O Bolsonaro é um serial killer. Passei a pregar a necessidade do impeachment pois em meio à grave crise sanitária e à política criminosa do não enfrentamento do vírus, cada dia que passamos com esse assassino no poder significa milhares de brasileiros mortos. Sem contar a corrupção avassaladora. A família miliciana roubava, o que já era grave, em rachadinhas estaduais, mas, agora, o rombo é federal. Mudaram de nível.
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O impeachment passou a ser uma necessidade vital. Não deve ser aprovado no Congresso, mas não deixa de ser uma necessidade. E vai custar muito caro impedir a aprovação do processo de impedimento. Quanto mais grave a situação, mais oneroso será para o governo. E quem paga a conta é sempre o sofrido povo brasileiro.
A verdade é que as vidas dos mais de quinhentos mil brasileiros parecem não ter valor nesse jogo político. São números a serem manipulados, sem cara, sem cor e sem dor.
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Ainda é cedo para definir um quadro político para 2022. Um presidente da República, com a chave do cofre, jamais perdeu uma reeleição. Sem contar que, esperamos todos, a doença estará controlada e a economia crescendo, os gastos com as programas sociais potencializados. O fascista, se não sofrer impeachment, chegará com muita chance à reeleição.
O certo é que a atual situação é claramente favorável à oposição. O quadro ideal é, sem dúvida, fomentar o antagonismo entre o culto à morte, o fascismo e a vida. O desgaste do presidente é tanto que até mesmo os seus apoiadores começam a se sentir intimidados. Apoiar o atual governo virou sinônimo de uma doença, como se o vírus fosse o próprio bolsonarismo. E a polarização, neste momento, não deixa espaço para uma terceira via. O que interessa é ganhar do vírus, que é representado pelo verme no governo.
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Daí uma homenagem àqueles que fazem a análise do afastamento, sob o olhar humanista do agora. Que assumem que não dá para continuar com o governo que cultua a morte. Talvez para Lula, com o recorte do desgaste do fascismo e da política do ódio, o ideal fosse esperar 2022. Seria possível comparar a política dos 37 milhões de incluídos sociais com o meio milhão de mortos? Mas ele, corajosamente, veio a público falar que é urgente tirar o presidente.
Não é a minha urgência, não é a urgência da disputa presidencial, não é a urgência política, mas é a urgência da vida. O que precisa unir o país são os sentimentos primários da empatia, da solidariedade e da compaixão. Aqueles sentimentos que fazem existir uma nação, muito além de um lugar onde se ganha dinheiro e poder a qualquer custo. Ou fazemos isso, ou ficaremos à margem da história.
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No caminho de Fernando Pessoa:
"É tempo de travessia: e, se não ousamos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
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